book_icon

Radiotelescópio brasileiro Uirapuru, já está em fase de funcionamento na Paraíba

Irmão mais novo do BINGO, que ainda está em fase de construção, o Uirapuru está sendo utilizado na formação de estudantes

Radiotelescópio brasileiro Uirapuru, já está em fase de funcionamento na Paraíba

O radiotelescópio BINGO, que está em fase de construção e será instalado no sertão paraibano, será o maior do Brasil e da América do Sul e representa um avanço na ciência e tecnologia do País. Mas, antes de ser finalizado, ele conta com um “irmão mais novo”: o Uirapuru é um radiotelescópio menor, de apenas uma antena-corneta (o radiotelescópio BINGO terá 28 antenas-cornetas), e que já está em funcionamento em Campina Grande. Segundo Amílcar Rabelo de Queiroz, professor do departamento de física da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e um dos coordenadores dos dois projetos, a sua instalação faz parte de uma das etapas antes da finalização do BINGO, que ficará na cidade de Aguiar.

“A instalação do Uirapuru faz parte de um período de teste antes do BINGO. Ele é um radiotelescópio menor, mas já em funcionamento, e tem como objetivo, assim como o BINGO, observar as FRB [“rajadas rápidas de rádio”, em tradução livre], ainda pouco conhecidas e que estão entre os fenômenos mais energéticos do Universo. Emitem, por vezes em milissegundos, o equivalente a toda produção de energia pelo Sol em três dias”, explica.

Além disso, ambos têm função educativa. No Uirapuru, em Campina Grande, ele já está sendo utilizado na formação dos estudantes: não só os graduandos aprendem a manusear um radiotelescópio, como também ganham novos conhecimentos em diversos setores, especialmente em tecnologia, processamento de sinais e análise de Dados.

No sertão, longe da poluição eletromagnética, será possível saber mais sobre estruturas desconhecidas da galáxia, pulsares que ainda precisam de observação e perceber novos sinais do espaço  

“Os dois serão fundamentais não apenas para observação do lado escuro e do céu brasileiro, que são seus objetivos finais. Eles, em sua própria construção e nesses testes, já têm contribuído para a formação de novos profissionais, uma mão de obra altamente qualificada que beneficiará tanto a ciência nacional quanto o mercado de tecnologias. Além disso, o planejamento é construir mais radiotelescópios pelo País, ampliando e levando esse conhecimento a outros locais”, complementa o professor.

Trazer a ciência para o dia a dia das pessoas também é o objetivo do BINGO. “Além da construção de um radiotelescópio, nós procuramos contemplar os três pilares do trabalho da Universidade: pesquisa, ensino e extensão”, afirma Élcio Abdalla, coordenador do projeto BINGO e professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP).

Inclusive, despertar o interesse da população local em astronomia é um dos objetivos do projeto: a realização de aulas de ciências nas escolas de Aguiar e redondezas. O professor explica essa faceta do planejamento:

“O assunto não é necessário apenas para a comunidade científica, mas para a população em geral. Não podemos simplesmente falar para doutores, temos que colocar as pessoas a par, já que são elas que pagam pela nossa pesquisa. O ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] do pãozinho vai para esse trabalho também. Então nós temos, até como obrigação, contribuir para um desenvolvimento real e mostrar ao cidadão que a ciência é importante, que a ciência muda o mundo”.

Ambos contribuirão com a visão do Hemisfério Sul para um trabalho sobre o fenômeno que já vem sendo realizado por meio do radiotelescópio Chime (Canadian Hydrogen Intensity Mapping Experiment) no Hemisfério Norte.

Projeto multinacional e multidisciplinar
BINGO parece apelido de jogador de futebol e as dimensões são próximas das de um grande estádio. E, se tudo correr como os pesquisadores esperam, ele pode tornar a ciência tão interessante quanto o esporte mais popular do Brasil. Estamos falando do radiotelescópio BINGO — acrônimo para Baryon Acoustic Oscillations from Integrated Neutral Gas Observations (em tradução livre, Oscilações Acústicas Bariônicas em Observações Integradas de Gás Neutro) –, também conhecido como “Diamante do Sertão”.

Isso porque ele sairá de São Paulo, onde está sendo construído, para ser instalado na Serra do Urubu, no município de Aguiar, a 257 km da capital da Paraíba. Poderá se tornar a atração da cidade e das localidades vizinhas e despertar o interesse das pessoas em um assunto que muitos consideram distante da realidade: a astronomia e a cosmologia.

O chamado “setor escuro do Universo” estará no foco das descobertas. No sertão, longe da poluição eletromagnética, será possível saber mais sobre estruturas desconhecidas da galáxia, pulsares que ainda precisam de observação e perceber novos sinais do espaço. Abdalla observa que “cerca de 95% do conteúdo energético do universo é completamente desconhecido, e o BINGO olhará para a distribuição detalhada da matéria conhecida para verificar os vínculos do setor escuro”.

Élcio explica que a melhor maneira de estudar o universo e testar teorias cosmológicas é pela observação: “Um lado escuro do universo, cuja existência não desperta mais nenhuma dúvida, clama por uma dinâmica, tal como houve essa necessidade décadas atrás para a Teoria dos Campos [teoria da física que estuda como os campos físicos interagem com a matéria].”

Saber o que as estrelas significam, como são suas estruturas e em que isso interfere na nossa própria posição no mundo e no universo, são algumas das motivações do BINGO. E essas não são justamente algumas das perguntas que movem o ser humano quando se entra no mérito de quem somos, de onde viemos, onde estamos e para onde vamos?

O projeto conta com pesquisadores do Brasil, China, Reino Unido, França, Alemanha e outros que, em conjunto e à distância, pensam em soluções relacionadas à astrofísica e também à construção civil, à captação e análise dos Dados, à ciência da computação, à matemática e ao ensino.

As opiniões dos artigos/colunistas aqui publicados refletem exclusivamente a posição de seu autor, não caracterizando endosso, recomendação ou favorecimento por parte da Infor Channel ou qualquer outros envolvidos na publicação. Todos os direitos reservados. É proibida qualquer forma de reutilização, distribuição, reprodução ou publicação parcial ou total deste conteúdo sem prévia autorização da Infor Channel.