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Cripto: o início de uma era

Viabilizada graças à evolução tecnológica e resultados de pesquisas e desenvolvimento de soluções que demandaram muito suor e fosfato de desenvolvedores, a moeda digital ao mesmo tempo em que incita curiosidade, provoca sentimento de incerteza e cautela

Cripto: o início de uma era

Hoje – e cada vez mais, seu uso sai do imaginário e salta para os desafios concretos ainda a serem superados. Se essa evolução monetária tem um pai, com certeza é o Blockchain, que vai muito, mas muito além da criptomoeda – unidade monetária digital que não é regulamentada por quaisquer bancos ou governos. Fica o registro de que esta tecnologia [Blockchain] já foi esmiuçada, mas será colocada novamente sob os holofotes de Infor Channel, em breve.

O propósito agora é dar um panorama do dinheiro virtual, que pode ser entendido como uma monetização digital protegida por criptografia, e que se caracteriza por fortes oscilações e altos riscos. Para se ter uma ideia, em 2020 a criptomoeda alcançou 419% de valorização frente ao Real e 303% frente ao Dólar.

Personalidades de diversos setores deram um belo empurrão para a popularização das moedas digitais. Elon Musk, por exemplo, quando anunciou que seus carros poderiam ser pagos com criptomoeda e, após a Tesla divulgar investimentos US$ 1,5 bilhão em Bitcoins, o volume de negócios com criptomoedas subiu 17% em fevereiro deste ano. Entre tantas outras e em curva ascendente, marcas como Wikepedia, Burger King, Calvin Klein, KFC, Subway, Starbucks, Sephora, Decathlon, além da Mastercard, Visa, Paypal; Microsoft e AT&T, aceitam e efetuam transações comerciais com o consumidor via moedas digitais.

Em fevereiro deste ano, o volume de negócios bateu na casa dos US$ 2,7 trilhões

Avaliado em US$ 78 bilhões, o Mercado Livre deu claros sinais de que participará ativamente da indústria de criptoativos, após adquirir mais de US$ 8 milhões em Bitcoin. A gigante do Comércio Eletrônico oferecerá aos seus consumidores a possibilidade de guardar e transacionar criptomoedas no Mercado Pago, seu braço financeiro, que responde por 60% do valor da empresa argentina.

Mesmo incipiente, esse mercado já apresenta cifras fabulosas: em fevereiro deste ano, o volume de negócios bateu na casa dos US$ 2,7 trilhões, e no dia 23 do mesmo mês, outro recorde: em um dia atingiu US$ 159,9 bilhões. E foi histórico, por que nesse dia o Bitcoin – BTC caiu 10%, sinalizando grande volatilidade. No segundo mês de 2021, esta moeda bateu recorde, cotada a US$ 58.354 e valor de mercado de US$ 1 trilhão. Em cinco meses, a moeda digital acumula queda de cerca de 20%.

Descentralizada e complexa
Todavia, a ideia se propaga. Em junho de 2021, a Autoridade de Conduta Financeira – FCA, reguladora de serviços financeiros, com base em pesquisa, revelou que atualmente, 2,3 milhões de pessoas no Reino Unido possuem criptomoedas, enquanto no ano passado, o número era de 1,9 milhão. O investimento, além da curiosidade, é crescente. Porém, o ocorrido com a Poly nesta semana, no mínimo acendeu a lâmpada amarela para os investidores. Mesmo antes, algum ceticismo em relação à Segurança e mineração pairava no ar, inclusive em relação a criptomoedas mais ‘tradicionais’, como a Bitcoin.

Em contrapartida, garantir a possibilidade de operar de forma independente de qualquer tipo de instituição, sem intermediários nas transações entre pessoa física e jurídica, ou entre um país e outro, são incentivos para sua adoção. Além disso, questões práticas como operação 24×7 – 24 horas por dia, sete dias por semana, e ter seu preço definido com base na oferta x procura também entram nessa conta.

Neste ano, a CVM autorizou que o primeiro fundo de índice (ETF) de criptoativos do mundo, criado pela gestora Hashdex, fosse negociado no Brasil

Porém, o fator ultra relevante para os atores dessa atividade é a criptografia, tecnologia que confere segurança e suporta as transações. Nesse sentido, medidas são tomadas em termos de Segurança: em cada moeda é ‘cravado’ um código e ela é identificada por um número específico. Devidamente marcada, esta moeda somente poderá ser negociada por quem deter a sua identificação. De forma análoga, é mais ou menos o que ocorre com outros meios de pagamento, quando o usuário detém uma senha ou chave para utilizar o Pix ou um cartão de crédito, mas de maneira transparente, ágil e anônima.

O atrativo no quesito Segurança, também passa pelo fato de serem descentralizadas, ou seja, cada usuário controla, intermedia, transfere e pode até produzi-las. Estes emissores de criptomoedas são os chamados mineradores.

Extrair minérios digitais
É preciso um enorme esforço de Computação para garantir a emissão e manutenção das redes de criptomoedas, incluindo a mais famosa delas, o Bitcoin. Vale registrar que em março deste 2021, a mineração chegou a gerar US$ 1,5 bilhão, conforme The Block Research. Um paralelo pode mesmo ser estabelecido com uma mina, onde trabalhadores retiram pepitas, uma vez que a mineração de criptomoedas consome uma grande quantidade de energia elétrica, além de gerar muito calor.

É preciso ser especialista para minerar e obter lucro e, dependendo do volume, adquirir equipamentos específicos para chegar a resultados de cálculos astronômicos. O sistema Bitcoin, por exemplo, utiliza o Secure Hashing Algorithm 256, ou SHA-256, algoritmo que fornece valores a partir de um conjunto alfanumérico, aplicando função matemática e criptográfica.
O investimento pode passar os US$ 15 mil, além de altos custos energéticos que o processamento exige; a máquina tem que ficar em funcionamento 24×7.

Rudá Pellini, co-fundador da Wise&Trust, fintech de gestão de investimentos em ativos digitais, sugere que o Bitcoin seja visto como uma mercadoria virtual. “Sendo uma commodity, há ‘produtores’, as mineradoras. Assim, a mineração é o processo de emissão de novos bitcoins e a manutenção da rede”, detalha.

De acordo com Pellini, os benefícios de ser um minerador envolvem o direito de emitir novas moedas e de receber taxas por transações, o que resulta em um lucro expressivo.

Por isso, a questão energética é de suma importância. O mandatário da Tesla, mais uma vez, direciona o tema ao afirmar que a empresa poderá voltar a receber pagamento em moeda digital, desde que, comprovadamente, a mineração seja realizada com, pelo menos, metade de energia renovável.

O gigantesco consumo de energia tem provocado reações pela atual escassez de recursos e por agredir o meio ambiente. É possível observar no mercado em geral, um aumento da conscientização quanto à preservação ambiental, social e de Governança – o já conhecido Environmental, Social and Governance – ESG.

Uma rede pode consumir mais energia que toda a Argentina, segundo uma pesquisa da Universidade de Cambridge. Na opinião do executivo da Wise&Trust, olhar somente para o consumo total de energia da rede do Bitcoin, ou compará-lo com um país não é efetivo. “Tenho ressalvas com tais estimativas, já que não englobam variáveis como avanço tecnológico, que torna a mineração mais sustentável, localização de mineradoras ou capacidade de processamento de hardwares”, enumera. Segundo tais cálculos, é como se todas as mineradoras fossem homogêneas, com as mesmas características.

Como será o amanhã
Há expectativa de que a rede se mantenha operando completamente com energia sustentável e há uma tendência de profissionalização dessa indústria. Além disso, a previsão de especialistas é que nos próximos anos esse segmento seja marcado por fusões e aquisições, e novos entrantes de peso com acesso a capital. “Atualmente há sete mineradoras com ações listadas em Bolsa, além de negócios listados que já começaram a investir nesta atividade de forma direta ou indireta”, afirma Pellini, que complementa: O investimento em tecnologia é tal, que permitirá ao mercado ganhar escala.

Esse comércio também segue em evolução no País. Neste ano, a CVM autorizou que o primeiro fundo de índice (ETF) de criptoativos do mundo, criado pela gestora Hashdex, fosse negociado no Brasil.

Já que o tema é Tecnologia e seu futuro em questões monetárias, vale registrar a participação da Inteligência Artificial nesse campo. Carteiras e Fundos que utilizam IA para realizar suas operações se sobressaem em momentos de instabilidade de ativos, porque conseguem definir as melhores decisões estratégias.

Se por um lado a moeda ainda é muito volátil, por outro tem emissão previsível e decrescente, já que é finita. Assim, possui efetivas chances de se valorizar a longo prazo. É impossível prever o futuro de criptomoeda alguma, mas é nítido que seu valor supera a questão monetária.

Recursos de proteção
Mais uma vez o fator Segurança interfere diretamente na adoção de um serviço, acentuadamente hoje, com a onda Transformação Digital. Nada mais se desenvolve sem a Segurança da Informação. Confiabilidade é tudo para o sucesso de quaisquer iniciativas.

É simplesmente impossível para fabricantes, fornecedores e consumidores ter tranquilidade para usar soluções financeiras, mas poderia ser diferente, não fossem pessoas com a mentalidade de ganhos fáceis, tirando vantagens de outrem. Golpes cibernéticos podem levar à falência pessoas físicas ou corporações, como já aconteceu.

O gigantesco consumo de energia tem provocado reações pela atual escassez de recursos e por agredir o meio ambiente

O uso e a melhoria da criptografia, e por que não imaginar novas tecnologias que evitem o acesso – e o sucesso – de cibercriminosos, ajudarão na credibilidade e conseguinte massificação das transações financeiras com moedas digitais em curto prazo. Mas são contrapostos por ataques, invasões e roubos, que podem retardar o avanço desse serviço financeiro.

Essa história vem de longe. Já em maio de 2019, a Binance, corretora global de criptomoedas divulgou que hackers obtiveram um grande número de chaves API de utilizador, 2FA, códigos e outras informações por meio de uma falha de Segurança. Em única transação, subtraíam sete mil BTC, equivalente a mais de US$ 40 milhões.

Na última semana, precisamente em 10 de agosto de 2021, a Poly Network, uma plataforma blockchain, foi saqueada em pouco mais de US$ 600 milhões em criptomoedas. Este feito de criminosos cibernéticos pode ser considerado como o maior ataque desde o advento da moeda digital e descentralizada.

Após a divulgação do ataque pela própria Poly, a SlowMist, que atua em Segurança baseada em Blockchain, informou que identificou o IP, o endereço eletrônico e as impressões digitais do dispositivo do invasor e já estava rastreando outras pistas. Mais uma vez, a tecnologia a serviço da indústria financeira e monetária.

Dias antes deste ataque, Gary Gensler, presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos – SEC, disse que as plataformas de finanças descentralizadas, ou DeFi, merecem atenção e critérios minuciosos. Ele pediu ao Congresso estadunidense que aumente sua autoridade sobre a indústria de criptomoedas, que se assemelha, segundo ele, aos tempos do Velho Oeste.

No dia seguinte ao ataque, o hacker começou a fazer a devolução fracionada do montante. Via transferências na rede Ethereum, o invasor disse que devolveria os fundos roubados.

No outro lado da moeda, um profissional de TI extremamente capacitado, como hacker pode exercer importante papel na identificação de vulnerabilidades.

O ato de restituir os valores não o torna um ‘chapéu-branco’, como são chamados os hackers que trabalham oficialmente para ajudar as empresas a resolver seus problemas de Segurança. E são muito bem pagos por isso. Um White Hat pode receber entre US$ 50 e US$ 500.000 por apenas duas horas de trabalho.

Regulamentação
É preciso reforçar que não há um regulamento estabelecido pelo Banco Central ou pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM. “Acreditamos que uma regulamentação oficial ajude na questão de segurança jurídica e, automaticamente, traga uma maior confiança para investimentos no setor”, defende Bernardo Teixeira, CEO da BitcoinTrade, corretora brasileira de criptomoedas.

A questão é controversa. Há quem defenda a normatização, mas outros agentes, a repudiam. O tempo dirá se há ou não a necessidade de disciplinar e fiscalizar o mercado de valores mobiliários frente ao aumento das opções e diversificações de moedas virtuais. Hoje, entre as mais conhecidas estão Bitcoin; Ethereum; Ripple; Litecoin; Bitcoin Cash; EOS e a Binance Coin.

O início de tudo
Os anos 1980 receberam o carimbo de década perdida, pelo menos na América Latina. Contudo, o mundo todo vivia dias difíceis. Controvérsias à parte, foi nessa época em que se vislumbrou a possibilidade de se adotar um sistema de dinheiro completamente virtual, apoiada no desenvolvimento da criptografia.

Os ‘punks virtuais’ ou cyberpunks, eram desenvolvedores que, liderados por David Chaum, jogaram luz na criação do que se conhece hoje por criptomoedas. No final da década seguinte, Wei Dai, lançou o B Money, projeto que abordava um sistema eletrônico e anônimo de pagamento, com características de descentralização e de anonimato.

No mesmo ano, 1998, Nicholas Szabo, Cientista da Computação especializado em criptografia, criou o Bit Gold, que propunha o modelo de estruturas; mais um elemento que viria a compor as moedas digitais de hoje.

Em 3 de janeiro de 2009, nascia o Bitcoin, quando o primeiro bloco foi minerado, ou seja, transmitido à rede Blockchain, por Satoshi Nakamoto, o anônimo criador da rede.

Especulações dão conta de que Nick Szabo é Satoshi Nakamoto, codinome usado pela pessoa ou pelo grupo de especialistas que desenvolveu o Bitcoin. Nesse processo, Nakamoto também estabelece a primeira base de dados de cadeia de blocos (Blockchain), do mundo.
Após 2010, não se teve mais notícia da personagem Nakamoto – ou será realmente uma pessoa? Será que um dia a verdadeira identidade virá à tona e o mistério se dissipará?

A proposta de Nakamoto – considerada louvável por muitos, era contornar uma das piores crises econômicas vividas até então, batendo de frente com o sistema financeiro controlador e ditador. E, com isso, um universo se abriu.

Mineradores, Cientistas da Computação, Desenvolvedores, uni-vos! Assim, quem sabe o cidadão comum poderá desfrutar de um sistema monetário realmente satisfatório e efetivamente seguro.  (I.B.)

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