No que diz respeito ao desenvolvimento de infraestrutura e aplicações para Internet das Coisas, o Brasil ainda engatinha. Para o diretor de tecnologia da ABINC (Associação Brasileira de Internet das Coisas), Luis Viola, o País ainda tem pouca coisa efetiva mas mostra um início de amadurecimento rápido. Para contribuir para a aceleração do desenvolvimento de um padrão global para a IoT, a ABINC recentemente entrou para a LoRa Alliance, entidade internacional focada em criar esse padrão.
Segundo Viola, a questão dos altos impostos de equipamentos ainda é uma grande barreira para a massificação do uso da IoT por aqui. A tecnologia Blockchain pode ajudar. “Em setores de IoT como na agropecuária, que tem a rastreabilidade do gado, é incrível. Nesses casos você consegue ter o IoT gerando dados e o Blockchain dizendo que é verdade, por exemplo”.
Para o presidente da ABINC, Flávio Maeda, o ano de 2018 também será marcado pelo encontro da Internet das Coisas com a Internet dos Valores, com a combinação do IoT e do Blockchain. “Promoverá a popularização de novas formas de pagamentos e transferência de valores entre coisas”, prevê.
Leia a entrevista completa:
Luis Viola, diretor de Tecnologia da ABINC
Como o acordo com a LoRa Alliance pode impulsionar o desenvolvimento da IoT no Brasil?
O acordo vai permitir a interconectividade entre os dispositivos de IoT, estimular a produção e desenvolvimento de tecnologia nacional e ajudar na popularização do uso das tecnologias por todos os setores da economia e para o usuário final com custos mais acessíveis.
Como avalia a maturidade do mercado brasileiro no que diz respeito ao desenvolvimento de soluções e infra para IoT?
Ainda é baixa, o mercado ainda está verde. Existem muitas provas de conceito e soluções pequenas, mas nenhuma escalando. Em relação à infraestrutura, temos uma única operadora, a WND, que opera com Sigfox, e uma outra que está introduzindo o LoRa. Existem algumas opções de chips também. Mas é um mercado que mostra um início de amadurecimento rápido.
Quais os gaps que ainda são desafios?
O primeiro desafio no Brasil é a questão dos impostos. Devices americanos ou até mesmo os chineses, que lá fora custam US$ 20, acabam chegando por aqui por mais de R$ 400. Outro desafio é a falta de conhecimento. As pessoas, no geral, ainda não sabem como fazer o IoT e quais são seus usos. Essa evangelização do público é uma das bandeiras da ABINC.
Como a regulamentação deve fomentar o setor?
A regulamentação do uso de frequência, que já foi feita pela ANATEL em parceria com a ABINC, é importante pois ajuda a nortear o crescimento do mercado. Agora regulamentações que preveem impostos por uso, como é feito com a telefonia móvel, faria a conta do IoT não fechar. Serão milhões e milhões de conexões. Ou tem que ser algo muito barato ou tem que deixar o mercado se auto regular.
Especialistas afirmam que o blockchain pode ser o segredo do sucesso da IoT. Vc concorda?
Não é o segredo para o sucesso, mas é um ótimo aliado. Em setores de IoT como na agropecuária, que tem a rastreabilidade do gado, é incrível. Nesses casos você consegue ter o IoT gerando dados e o Blockchain dizendo que é verdade, por exemplo.
Quais os setores que mais investem em APIs para IoT no Brasil?
Os APIs são usados para tudo, mas os com mais utilização de IoT são a Agropecuária e a Indústria 4.0.
Como avalia que será o impacto da IoT no médio prazo no mercado corporativo?
O impacto do IoT será muito grande. A partir do momento que comércios e indústrias começarem a utilizar e obter benefícios com o uso dos devices, vai ser impossível ignorar a importância da tecnologia. Na indústria, por exemplo, o impacto será gigantesco. Hoje, alguns processos garantem a qualidade dos produtos após ele ser feito. Com o IoT é possível garantir a qualidade enquanto ele está sendo feito, qualquer desvio já é reportado e corrigido. Imagine o nível de economia que isso gera. Ou até ter muitos dados em tempo real que ajudam na tomada da decisão, mudando como o mundo corporativo pensa. Tudo isso durante o acontecimento, e não só após.
Flávio Maeda, presidente da ABINC
Quais as expectativas para 2018?
O Plano Nacional de IoT começará a ser colocado em prática, a partir da elaboração de políticas públicas, com ajuda do BNDES e dos ministérios responsáveis, como foco nas áreas prioritárias definidas, que são: cidades, rural, saúde e indústria. A ABINC atuará na expansão dos comitês de estudos para desenvolver pilotos nessas áreas e tirar a expansão do IoT do discurso, criando situações reais para a aplicação das tecnologias.
A entidade terá um papel importante como ponto de comunicação entre o governo, iniciativa privada que produz e que utiliza tecnologia de IoT para organização das demandas e formação de consórcios. O ano de 2018 também será marcado pelo encontro da Internet das Coisas com a Internet dos Valores, com a combinação do IoT e do Blockchain, promovendo a popularização de novas formas de pagamentos e transferência de valores entre coisas.
Como avalia que foi o ano de 2017 para a Associação?
2017 foi crucial para preparar as condições ideais para uma rápida e sustentável arrancada do IoT no Brasil. Com a participação na Câmara de IoT, a ABINC desempenhou um importante papel no desenvolvimento das diretrizes do Plano Nacional de IoT, lançado durante a Futurecom, em outubro, atuando como ponto central entre a iniciativa privada e o governo. A missão brasileira para Barcelona, que levou ao IOTSWC a visão do mercado brasileiro, também merece destaque.
Ampliamos também a participação nas definições de normativas com o governo e a criação de diversos comitês de estudos, como o de Segurança (que conta com profissionais da Vale, Deloitte, Bradesco, Globo) e o comitê de Conectividade LPWA, que participou ativamente da consulta pública promovida pela Anatel para a regulamentação da faixa de potência restrita. Isso aconteceu por conta do forte apoio dos associados que ajudaram muito no desenvolvimento do mercado e influenciaram os próximos passos de crescimento e popularização da tecnologia no Brasil. Além disso, com o trabalho acelerado e pertinente da entidade, o volume de empresas associadas cresceu mais de 60%, o que credibiliza o papel da entidade no segmento.
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