(*) Antônio Júnior
Recentemente, tenho visto alguns exemplos de operadoras de telecom no mundo todo fazendo campanhas “ilimitadas”, seguindo movimentos crescentes rumo a acordos de zero rating e analisando formas do uso dos dados dos usuários.
No Brasil, os acordos de zero rating não estão muito claros no Marco Civil da Internet, mas as operadoras móveis seguem com a estratégia de firmar alianças comerciais com a isenção da franquia de dados. Desde o dia 12 de janeiro, os usuários iFood, por exemplo, podem fazer seus pedidos via aplicativo mobile sem consumir o plano de dados do celular. A empresa fechou um acordo comercial com Claro, TIM, Vivo e Oi. Ainda, um dos maiores bancos de varejo do País, trabalhou com todas as operadoras móveis para zerar as tarifas de seu aplicativo com o objetivo de incentivar mais transações móveis. Essa iniciativa, se liderada por empresas, poderia ser usada por operadores para incentivar outras organizações a adotarem soluções de comércio móvel.
A americana Sprint anunciou recentemente que passou a oferecer serviços de dados ilimitados gratuitos por um ano aos usuários que se tornarem clientes, mirando para as concorrentes AT&T, Verizon e T-Mobile. Como a maioria das ofertas ilimitadas, traz sim limites, mas não muito visíveis, esta campanha englobou a capacidade máxima de 23GB por mês, além de um máximo de 1080p para transmissão de vídeo, 1.5 Mbps para transmissão de música e 8 Mbps para jogos.
Portanto, me questiono se estamos vendo o surgimento de grandes provedores de telecom oferecendo seus serviços de conectividade de graça? Mas como eles vão ganhar dinheiro? Vejo aqui duas opções: uma delas é vender conteúdo e outros serviços diretos ao usuário; e a outra seria vender os dados dos clientes a terceiros para fins de marketing ou propaganda.
Embora alguns países tenham leis de proteção de dados para garantir que os dados do cliente não possam ser utilizados para fins comerciais (em que os dados precisam ser ‘anonimizados’), percebo movimentos nesse sentido.
No ano passado tive acesso a uma pesquisa onde um grupo de alunos foi convidado a comparar suas opiniões sobre o Google e seu provedor de serviços de telefonia móvel. Quando questionados, eles disseram que estavam felizes com o Google e não se importariam se o Google utilizasse seus dados para gerar receita publicitária. Quando esses mesmos alunos foram perguntados sobre os provedores de serviços móveis e se eles ficariam tranquilos se eles utilizassem seus dados, os alunos disseram que não gostariam. Então, está certo para o Google, mas não para o provedor de telefonia móvel? A razão para isso: o Google não cobra por serviços e a empresa móvel sim.
Estamos vendo lá na Europa o sucesso de aplicativos como o mCent em países que utilizam o modelo ARPU (Receita média mensal por usuário) que permitem dados gratuitos para visualização de anúncios. Para quem ainda não sabe, O mCent é um aplicativo gratuito para Android que permite ganhar créditos para o celular testando aplicativos. Dessa forma, quando o usuário acumula R$ 10, o usuário poderá inserir esse saldo no aparelho, de forma direta, sem qualquer custo.
Por outro lado, vejo exemplos de operadoras que cobram caro pela oferta de seus serviços de dados. Mas será que elas estão oferecendo um serviço melhor e diferenciado com algum propósito adicional?
A neutralidade da rede é uma daquelas questões que parece dividir opiniões. O acesso igual para todos como argumento é bom, mas enquanto o acesso carregar um preço – alguns sempre poderão comprar mais acesso e, assim, sempre terá privilégios. É compreensível também que os provedores de serviços e fornecedores de conteúdo desejem atrair um público com alto poder aquisitivo.
*Antônio Júnior é vice-presidente de Vendas e Marketing da Openet para América Latina
Leia nesta edição:
MATÉRIA DE CAPA | TIC APLICADA
Campo digitalizado: sustentabilidade e eficiência
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Infra para Conectividade: competição quente
NEGÓCIOS
Unidos para inovar
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