O Comitê de Uso do Espectro e de Órbita – CEO, da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel, publica dois estudos internos sobre a convivência entre os sistemas móveis 5G (IMT-2020), em 3,5 GHz, e o Serviço Fixo Satelital – FSS, na Banda C.
Desde 2017, o CEO tem coordenado e realizado estudos e testes experimentais para avaliar possíveis cenários de convivência entre as mencionadas redes de radiocomunicação, com o objetivo de subsidiar a instrução do Edital que em breve proverá faixas para a implantação do 5G no Brasil.
“Considerando as aplicações usualmente exploradas na Banda C, os trabalhos realizados pelo Comitê buscam analisar e desenvolver soluções de convivência para duas possíveis situações de interferências prejudiciais em decorrência da introdução do IMT-2020: com os sistemas profissionais FSS e os equipamentos de recepção de televisão por parabólica – TVRO, Television Receive-Only”, conta Leonardo Euler de Morais, presidente do Comitê de Uso do Espectro e de Órbita.
No começo do ano, diante do surgimento de novos protótipos de dispositivos Low Noise Block Feedhorn – LNBF, um componente do sistema receptor encontrado no centro da parabólica), o CEO deu início a uma nova fase de ensaios laboratoriais e testes de campo, complementares em relação aos realizados até então, cujos relatórios estão disponíveis no endereço abaixo.
Apesar do contratempo, as atividades relacionadas ao tema não ficaram paralisadas. As informações acumuladas e os dados coletados na etapa laboratorial precedente alimentaram estudos e simulações computacionais, com o intuito de aprofundar a análise de convivência com os novos elementos LNBF.
Neste contexto, foram desenvolvidos no âmbito da Superintendência de Outorgas e Recursos a Prestação (SOR) e sua Gerência de Espectro, Órbita e Radiodifusão – ORER, sob os auspícios e direção do Comitê, dois estudos abordando as mencionadas situações-problema: estudos de Convivência entre Sistemas IMT-2020 e Sistemas FSS Profissionais e, estudos de Convivência entre IMT-2020 e TVRO: Simulações.
Os principais achados desses trabalhos, associados ao conhecimento acumulado pelo CEO pelo tema, podem assim ser resumidos, em apertada síntese:
1. A coexistência livre de interferências prejudiciais no mesmo espaço requer soluções que evitem a saturação dos elementos das redes satelitais (FSS e TVRO) e mitiguem a emissão de espúrios fora da faixa das redes terrestres IMT-2020.
2. A combinação de diferentes soluções é recomendável, por haver sinergia entre elas e possibilitar maior eficiência ao esforço de mitigação.
3. Dentre as múltiplas soluções e técnicas de convivência, o Comitê recomenda a adoção de condições operacionais mais rígidas para o IMT-2020 que aquelas sugeridas como referência pelo 3GPP (3rd Generation Partnership Project, organização tecnológica padronizadora do 5G), a exemplo do realizado em outros países.
4. Nessa mesma linha, o Comitê recomenda que se avalie a possibilidade de ser estabelecida, para a licitação do 5G, uma faixa de guarda entre os dois sistemas de radiocomunicação. A título de exemplo, os Estados Unidos da América adotaram uma faixa de guarda de 20 MHz. Uma faixa dinâmica de até 40 MHz também poderia ser utilizada, conforme a necessidade do caso concreto. A faixa de guarda facilita a coexistência dos sistemas e diminui consideravelmente a necessidade de soluções mais invasivas, como a separação geográfica de alguns quilômetros, diminuição de potências de operação e a substituição de equipamentos e dispositivos (sintonizadores, filtros de guia de onda etc.)
5. Especificamente para os receptores de parabólica (TVRO), notavelmente vulneráveis à saturação, tanto os dispositivos LNBF disponíveis comercialmente quanto os prototipados não apresentaram o desempenho esperado.
6. A partir dos estudos e simulações computacionais, bem como dos dados colhidos em laboratório e campo, o Comitê entende ser possível o desenvolvimento de novos dispositivos LNBF que cumpram adequadamente a função. Para isso, é preciso que o LNBF permita uma interferência agregada de, pelo menos, -30 dBm (um milionésimo de watt). Se possível, os dispositivos deveriam ser ainda mais robustos, de pelo menos -25 dBm, caso as condições de produção e custos assim permitam.
7. Muito embora já tenha alguns valores preliminares de operação, o CEO entende que outros parâmetros relacionados ao LNBF poderão ser melhor refinados na continuidade dos testes de campo, como temperatura de ruído, estabilidade do oscilador local etc.
Por conseguinte, o Comitê considera que a convivência dos sistemas pode ser viabilizada com a adoção de soluções como as supramencionadas. Eventuais interferências prejudiciais ainda podem ocorrer em situações muito específicas de instalação, porém a sua probabilidade é bastante pequena e o efeito, pontual.
O Comitê espera que novos protótipos de LNBF, compatíveis com os critérios operacionais delineados nos relatórios de estudos, estejam disponíveis para testes e avaliações o quanto antes.
Por fim, o CEO reitera seu compromisso de buscar soluções que permitam a coexistência harmoniosa dos sistemas de radiocomunicação. O Comitê continuará adotando como premissas na sua relação com os diferentes setores envolvidos a transparência, o diálogo e a colaboração, e se dedicando a cumprir fielmente seu papel institucional de subsidiar as decisões da Agência.
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