Mais de 70% da superfície da Terra é coberta por água, mas menos de 1% é própria para consumo humano e está nos rios, lagos e águas subterrâneas. Grande parte dessas fontes está sendo mal utilizada, poluída, contaminada e degradada por más práticas como ocupações irregulares em áreas de mananciais, descarte de materiais, de esgotos e de lixo em córregos e rios, entre outros. Para agravar ainda mais o problema, atualmente no Brasil mais de 51% da água tratada é perdida por vários motivos como fraudes, submedições, vazamentos, equipamentos obsoletos, entre outros, e principalmente, pela falta de uma gestão eficiente nesse sentido.
Para avaliar, entender e obter um diagnóstico do status da segurança hídrica no abastecimento urbano e a questão das perdas de água nas 5.570 cidades brasileiras, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) realizou o estudo “Atlas Águas”, que pode ser acessado pelo link. Sérgio Ayrimoraes, coordenador da Superintendência de Planejamento e Recursos Hídricos da ANA, explica que esse trabalho começou por volta de 2005, para analisar inicialmente a região semiárida do Nordeste devido à sua notória escassez de água para verificar qual era o grau de segurança hídrica e como era feito o abastecimento das cidades nordestinas e do norte de Minas Gerais. Após a conclusão, em 2006, esse estudo foi ampliado para outras regiões do país. “Verificamos que essa realidade da oferta de água e da baixa garantia para o abastecimento não ocorria só no NE, mas em todo o território nacional”, destaca Ayrimoraes. Em 2010 esse diagnóstico do planejamento e oferta de água para todas as cidades do País foi consolidado no trabalho intitulado “Atlas de Abastecimento de Água”, sendo complementado em 2017 com a questão da coleta e tratamento do esgotamento sanitário, e no final de 2021 foram incluídas mais informações, e o estudo passou a se chamar “Atlas Águas”.
Segundo Ayrimoraes, uma das informações – chave que a ANA queria obter era a questão das perdas, verificando o caminho das águas desde a coleta no manancial até chegar à população para entender como todas as cidades do País são abastecidas, quais são os mananciais, quais as características dos sistemas de produção de água para, a partir daí, fazer uma avaliação. “Reunimos essas informações junto aos prestadores de serviços de saneamento estaduais, municipais, autônomos e empresas privadas em forma de croquis – desde os sistemas de abastecimento mais simples até os mais complexos -, e verificamos a interdependência de vários mananciais pela necessidade de transferir água entre bacias hidrográficas”, detalha Ayrimoraes.
Com relação especificamente às perdas de água, esse estudo identificou que não bastam investimentos em infraestrutura, mas também é preciso trabalhar muito a gestão. Foram analisadas as perdas com uso de um indicador de padrão internacional para avaliar o desempenho operacional na distribuição da água e índices de vazamentos em seus sistemas de distribuição. Com base nesses índices, os municípios foram classificados em cinco categorias que são referências internacionalmente utilizadas:
A1 – padrão de excelência, com índice de desempenho operacional muito bom e bom gerenciamento de perdas de água;
A2 – padrão de eficiência operacional que demanda ações pontuais;
B – apresenta potencial de melhoria significativo;
C – apresenta desempenho operacional muito ruim, com índice de perdas de água muito grande;
D – apresenta desempenho sofrível, com uso muito ineficiente dos recursos em que a redução de vazamentos é um imperativo prioritário.
“Foram selecionados vários municípios em que o combate e o gerenciamento de perdas de água significaria uma economia bastante robusta não só do ponto de vista de abastecimento à população, do meio ambiente e dos mananciais, mas também dos recursos da operação e da saúde financeira dos prestadores de serviços, uma vez que fazendo o combate e gerenciamento corretos das perdas de água elas dispensam investimentos em novos mananciais e em novos sistemas de produção e economizam despesas de exploração”, explica Ayrimoraes.
Na avaliação de Hélio Samora, CEO da SmartAcqua Solutions, todos os elos da cadeia do saneamento precisam se unir para que se comece de fato a trabalhar para modernizar o setor e prestar melhor atendimento à população, reduzindo as perdas de água para que a água chegue àqueles que ainda sofrem com a sua falta. “E as empresas de saneamento devem entender que investir em perdas dá retorno imediato, porque de fato o dinheiro já está nas companhias, mas é invisível e desperdiçado nas submedições, fraudes, vazamentos e demais irregularidades. Já existe tecnologia para auxiliá-las a melhorar a gestão e combater as perdas, como a SmartAcqua, que utiliza Inteligência Artificial”, destaca o executivo.
Distribuição
Enéas Ripoli, CTO da SmartAcqua Solutions, ressalta que também é importante considerar que no Brasil a distribuição de água é irregular. “No Norte há 70% da água disponível, mas a região concentra só 9% da população do país, onde se perde em média 75% da água potável. No Sudeste, que reúne maior número de habitantes (42%), há apenas 6% da água disponível e se dá ao luxo de perder em média 48%. E cada vez vai piorando porque cresce o número de pessoas se aglomerando em regiões com pouca água”. O CTO enfatiza ainda que o agronegócio é o segmento que mais utiliza água, porque o Brasil é o celeiro do mundo. Em consequência, há rios e córregos completamente secos em vários locais e pessoas tendo que andar quilômetros para encher seus baldes de água. A situação piora cada vez mais. Além disso, 85% do esgoto não é tratado, gerando doenças e mortandade de peixes e animais. “Temos a cultura de que basta abrir a torneira e temos água. Achamos que será sempre assim, mas isso não é mais uma realidade”, destaca Ripoli.
A expectativa é que ocorra uma mudança de postura com relação à gestão das perdas de água o mais rápido possível. Do ponto de vista de possibilidades há tecnologias que permitem fazer esse gerenciamento e controle das perdas dando mais eficiência ao prestador, e a SmartAcqua é uma delas. “Quanto mais o setor se profissionaliza, e estamos num contexto de maior profissionalização do setor, independentemente da natureza do prestador de serviço, e com uma regulação mais forte como a do novo marco regulatório do saneamento, essas questões, associadas à grande produtividade no tratamento, vão fazer com que a gestão das perdas se intensifique e passe cada vez mais a fazer parte da agenda do setor”, destaca Ayrimoraes.
Enéas Ripoli lembra que há países como a Dinamarca, Japão, Israel, entre outros, em que o índice de perdas é inferior a 10%. “Então não é nada que não seja factível. É uma questão de querer reduzir as perdas e de ir atrás do problema. A diferença desses países é que eles têm gestão, porque usam os mesmos medidores, tubulações etc. que são empregados no Brasil. O problema é que aqui nada está sendo feito para recuperar as perdas”. O executivo destaca que nos últimos 5 anos as perdas têm se mantido iguais no Brasil e é preciso refletir sobre o que não está sendo feito para baixar esses índices. “Temos vários desafios além daqueles que já foram colocados e que estão implícitos, como a energia elétrica que corresponde a 40% dos custos das empresas de saneamento e é usada para tratamento da água. Então está cada vez mais caro e as prestadoras acabam majorando as tarifas, criando uma bola de neve”.
Na avaliação de Ripoli, o combate às perdas poderá contribuir para se chegar em parte ao resultado pretendido pelo marco regulatório, que estipula que 100% das casas serão abastecidas com água potável até 2033. “Temos que ter ações imediatas. Em 2020 o Brasil produziu 16 bilhões de m³, mas a água que foi medida foi de 8 bilhões de m³. Então tiramos dos mananciais e tratamos a água e usamos a metade porque a outra metade se perde de um jeito ou de outro. Temos que tomar uma atitude sobre isso”. Se as perdas baixarem de 40% (IN049 – SNIS 2020) para 25%, como estipula o marco regulatório, mais de 40 milhões de pessoas terão água de imediato, sem a necessidade de investimentos em novos mananciais e em outras ações. “E as companhias de saneamento teriam R$ 12 bilhões ao ano de recursos adicionais, que atualmente estão indo para o ralo, para melhorar os serviços e autofinanciar os projetos de combate as perdas de água”, completa Ripoli.
Hélio Samora complementa lembrando que no Brasil os números são enormes e há muitas oportunidades de melhorias. “Mais uma vez ressalto que as perdas se autofinanciam, ou seja, com a redução das perdas sobram recursos para serem investidos em melhorias dos serviços. É um investimento que tem retorno garantido”, conclui.
Serviço
smartacqua.com
ana.gov.br
atlas.ana.gov.br
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