A Indústria 5.0 está começando a ser conhecida no Brasil. O setor de Petróleo e Gás é o mais avançado nesse conceito. Segundo estudo da UFRJ de abril de 2021, o segmento petroquímico e de gás nacional se organiza em 15,5% de empresas que já contam com ao menos um projeto de Indústria 5.0. 47,3% de organizações são seguidoras e 37,2% são defasadas. Apesar dessa realidade incipiente, a Indústria 5.0 é um caminho sem volta que corrige distorções da Indústria 4.0 e trabalha a favor de um mundo centrado em pessoas e totalmente alinhado com os valores ESG (Environment, Social e Governance). Relatório do instituto de pesquisas norte-americano AllTheResearch de dezembro de 2020 mostra que a Indústria 5.0 deverá movimentar US$ 298,2 bilhões até 2027.
Para compreender os benefícios que a Indústria 5.0 trará ao Brasil em 2022, é necessário, primeiramente, investigar as ondas tecnológicas anteriores:
1780 – Mecanização. A primeira revolução industrial usou o poder da água e do vapor para mecanizar processos industriais.
1870 – Eletrificação. Essa onda aconteceu entre o final do Século XIX e o início do Século XX. Seu ponto focal foi a eletrificação das fábricas e a criação de linhas de montagem para produção em massa de produtos.
1970 – Automação. As primeiras tecnologias digitais – incluindo robôs – passam a automatizar tarefas antes realizadas por seres humanos. Com a Internet, acontece também a globalização dos processos produtivos.
2011 – Conexão. Começou na Alemanha, onde o conceito da Indústria 4.0 passou a conectar tudo, de robôs a carros. É a era da convergência entre OT e TI e da redução da intervenção humana. Um dos destaques é o IoT e o IIoT, com sensores conectados a redes baseadas em recursos de Inteligência Artificial.
2020 – Indústria 5.0. Ao colocar pessoas – sejam os clientes, sejam os colaboradores – no centro da produção industrial, a Indústria 5.0 entrega ao mercado produtos diferenciados e, aos trabalhadores, oportunidades de trabalho voltadas à preservação da vida e do planeta.
O grande diferencial da Indústria 5.0 em relação ao modelo 4.0 é que seres humanos estão no centro dessa onda. Nesse novo mundo, sensores coletam dados e computadores com recursos de IA processam e analisam essas informações. Máquinas e robôs passam a usar esses dados e algoritmos para suportar decisões que incorporam valores como prosperidade, sustentabilidade, ética, preservação da vida.
Profissionais e robôs colaborativos trabalham lado a lado
Nesse novo paradigma, profissionais de chão de fábrica vão trabalhar lado a lado de robôs colaborativos (collaborative robots, ou “cobots”). O gestor humano atua como um “coach” do recurso digital, garantindo que valores humanistas, de preservação do ambiente ecológico, da ética e da justiça estão sendo seguidos.
Enquanto as máquinas seguirão realizando os trabalhos perigosos e repetitivos, pessoas usarão seus cérebros e sentimentos para tomar decisões de alto nível. Há uma forte ênfase em pesquisa e em projetos inovadores que preservem a vida. Uma das tecnologias mais usadas na Indústria 5.0 é o “Digital Twin”, uma cópia virtual de uma fábrica ou de uma linha de montagem onde as mais diversas simulações – inclusive de segurança pessoal e patrimonial – são executadas antes do chão de fábrica ser efetivamente construído.
Para que esses ganhos aconteçam, há mudanças sendo gestadas. Novas parcerias estratégicas serão formadas entre 40% dos principais fornecedores de TI e OT do mercado global. A meta é chegar a uma solução holística que reduzirá os custos de integração e implementação em 20%. Haverá um aumento de 40% em investimentos em governança de dados, times de engenharia digital e tecnologias digitais de operações.
Será necessário, também, investir em uma cultura focada em produtos e serviços altamente individualizados. Para isso, as organizações estão equipando seus produtos industriais com componentes e sensores digitais. Isso facilitará que os produtos se comuniquem entre si, recebam sinais e usem tecnologias como 5G e LoRaWan. Componentes IIoT criam uma visualização mais transparente do status de produtos individuais e de processos inteiros – e, assim, permitem uma rápida intervenção em casos de dificuldades iminentes (gestão preditiva).
Monitoração de 360º suporta a conformidade da indústria às normas ESG
O foco no humano da Indústria 5.0 exigirá que o gestor tenha uma visão de 360º do sempre heterogêneo ambiente industrial e, a partir daí, consiga implementar de forma continua inovações e otimizações. Quanto mais transparente é a visão que o gestor possui do ambiente, maior a eficiência e mais estreita a conformidade com os valores ESG. Naturalmente, a Indústria 4.0, o retrofitting e a interconexão entre TI e OT também exigem a expansão do monitoramento. A meta é proteger processos interdepartamentais e revelar inter-relacionamentos críticos.
Além da conquista de uma visão preditiva sobre tudo o que se passa na Indústria 5.0, há outra frente de batalha para avançar nesse conceito: a falta de profissionais preparados para esse universo.
O Brasil e o mundo sofrem com a escassez de profissionais capacitados para as novas ondas tecnológicas. Em 2022, portanto, será mais importante do que nunca automatizar o maior número possível de processos de TI e OT, de modo a usar o recurso humano em inovação e transformação dos negócios, não em processos repetitivos. A escassez de habilidades dará destaque aos MSPs (Managed Services Providers) brasileiros que já contam com times formados em Indústria 4.0 e avançam, agora, para a era da Indústria 5.0. Há espaço para MSPs especializados em setores específicos como montadoras de automóveis, indústria química, etc.
O desafio de formar o profissional preparado para a Indústria 5.0
Para que essas conquistas se realizem, é essencial repensar o modelo pedagógico do Brasil. As habilidades necessárias para acompanhar a Quarta e a Quinta Revoluções Industriais surtirão efeito, apenas, se for equilibrado o déficit educacional da população brasileira.
Não dá para pular etapas
A Indústria 5.0 com seus valores éticos, inclusivos e sustentáveis só acontece onde, antes, já foi concretizada a Indústria 4.0. O profissional brasileiro alinhado à Indústria 5.0 será mais qualificado, terá estudado mais anos e estará habituado a uma rotina de renovação contínua de seu conhecimento. É fundamental que, em 2022, haja incentivos para que essa mudança de paradigma seja implementada, e o novo chegue.
Por David Montoya, diretor global de Desenvolvimento de Negócios IoT da Paessler.
Leia nesta edição:
CAPA | TECNOLOGIA
Centros de Dados privados ainda geram bons negócios
TENDÊNCIA
Processadores ganham centralidade com IA
TIC APLICADA
Digitalização do canteiro de obras
Esta você só vai ler na versão digital
TECNOLOGIA
A tecnologia RFID está madura, mas há espaço para crescimento
Baixe o nosso aplicativo