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Um novo sindicalismo nasce no Vale do Silício

Funcionários do Google criaram um sindicato e agora articulam uma aliança internacional com colaboradores de outras subsidiárias
Um novo sindicalismo nasce no Vale do Silício

Na segunda-feira (25/1), quase todos os sites de tecnologia repercutiram a notícia de que os funcionários do Google do mundo inteiro estão se organizando para formar uma aliança sindical mundial, que deverá se chamar Alpha Global. No início deste mês, centenas de funcionários do Google dos EUA anunciaram a criação de um sindicato, batizado de Alphabet Workers Union (AWU).

O sindicalismo nos EUA não é visto com bons olhos. Apenas 7% dos trabalhadores da iniciativa privada participam de um sindicato, que é criado na empresa (por isso os funcionários do Google estão criando o seu). Os sucessivos governos Republicanos a partir dos anos de 1980 foram restringindo a atuação dos sindicatos e Hollywood tem dado uma bela ajuda para construir uma imagem negativa, com filmes associando sindicatos com a máfia, a exemplo de O Irlandês, de 2019, que teve 10 indicações ao Oscar de 2020, mas não levou nenhuma estatueta. O filme conta a história de Frank Sheeran, conhecido como Irlandês, sindicalista ligado ao crime organizado que, pouco antes de morrer em 2003, confessou o assassinato de Jimmy Hoffa, líder sindical desaparecido em 1975.

No mundo todo, a principal função do sindicato é representar os trabalhadores em negociações salariais e condições de trabalho. No Vale do Silício, onde os salários são altos e o ambiente de trabalho é de dar inveja (com áreas de lazer, refrigerante à vontade, horários flexíveis etc), não parecia que um sindicato faria sucesso. Mas fatos ocorreram no Google que ajudam a explicar esse movimento, que pode se alastrar para outras companhias de tecnologia. A bem da verdade, o mundo não é mais o mesmo e nem o ambiente de trabalho.

Em novembro de 2018, milhares de funcionários do Google no mundo todo foram às ruas para protestar contra o comportamento de alguns executivos da companhia, acusados de assédio sexual, e o tratamento desigual dado às mulheres e outras minorias.

Em dezembro passado, a cientista de Inteligência Artificial Timnit Gebru (foto) foi demitida do Google por causa de um artigo e um e-mail que ela escreveu criticando o tratamento dado pela empresa a grupos minoritários, como negros e deficientes, alertando, como era seu papel, sobre riscos éticos nos modelos de linguagem desenvolvidos pela empresa. Após a demissão, milhares de funcionários e colaboradores assinaram uma carta online exigindo que a empresa explicasse os motivos do desligamento de Gebru.

Esses acontecimentos culminaram agora na criação do Alphabet Workers Union (AWU). Em seu manifesto, os funcionários falam que “todos merecem ser tratados com respeito e dignidade e têm direito a um ambiente acolhedor, independentemente de raça, sexo, orientação sexual, deficiência, idade, classe, casta, país de origem, convicção política ou religião”. Eles falam em exercer o poder para garantir que as condições de trabalho sejam inclusivas e justas; que os perpetradores de assédio, abuso, discriminação e retaliação sejam responsabilizados; ter a liberdade de recusar trabalhar em projetos que não se alinham com os seus valores; que todos os trabalhadores, independentemente da situação de emprego, possam desfrutar dos mesmos benefícios; entre outras reivindicações.

“Nosso trabalho afeta outros trabalhadores da Alphabet, nossas comunidades e o mundo. Todos os aspectos de nosso trabalho devem ser transparentes e devemos ter a liberdade de escolher quais projetos se beneficiam de nosso trabalho”, diz o manifesto. “A Alphabet pode ganhar dinheiro sem fazer o mal. Devemos priorizar o bem-estar da sociedade e do meio ambiente acima da maximização dos lucros”, observa.

Serviço
alphabetworkersunion.org

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