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Score extrapola área de crédito e tem novos usos

Evento discutiu os cenários e os desafios da ferramenta, que passa a ser usada em tomadas de decisões em diversos setores
Score extrapola área de crédito e tem novos usos

Se alguém perguntar a um transeunte na rua o que é score, provavelmente ele não saberá responder. Por outro lado, qualquer um que for pedir um empréstimo no banco ou abrir um crediário na loja, sabe que o pedido será analisado, o CPF será checado para ver se está negativado e outros documentos poderão ser pedidos, como comprovação de renda e residência. Todo mundo com CPF tem um score em algum lugar, uma pontuação, e é com base nisso que muitos produtos e serviços são oferecidos e aprovados. Ainda muito usado no setor de crédito, o score vem ampliando a área de atuação, por conta da digitalização da sociedade. Esta semana, diversos especialistas se reuniram virtualmente no Score Summit 2020 para debater o panorama e os desafios dessa ferramenta.
Rafael Zanatta, diretor da ong Data Privacy Brasil, abordou a questão da privacidade e da ética. “Há uma preocupação geral daqueles que combatem a desigualdade social em entender como fórmulas matemática e algoritmos funcionam e a partir disso debater sobre discriminação abusiva, que pode afetar milhões de pessoas no acesso a bens e serviços”, disse. Segundo ele, em 1969 o Congresso Americano fez um amplo debate sobre a questão do score, buscando regulamentar o setor e garantir um sistema de pontuação de crédito justo. Pelo menos na época, os negros tinham uma pontuação menor e menos acesso a crédito, o que levou à contestação dos movimentos de direitos civis.
Zanatta observa que o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2014, fez uma ampla análise sobre os sistemas de score de crédito e decidiu que é legal o uso dessa ferramenta e metodologia, mas isso se dá dentro de uma relação de boa fé contratual. As empresas que produzem esse sistema de pontuação de crédito se comprometem a garantir o direito de acesso, de modificar dados imprecisos e que eles sejam verdadeiros. “Se uma empresa faz uma pontuação levando em conta preferência sexual, religiosa ou partidária, isso é totalmente ilegal e abusiva, gerando danos morais”, afirmou.
Novo normal
Para o economista Fábio Lacerda Carneiro, a recuperação econômica pós-pandemia será digital. “A Febraban divulgou uma pesquisa sobre os impactos da Covid-19 nos canais digitais de janeiro a abril. As transações por mobile cresceram 22%, nas agências caíram 53% e nos caixas eletrônicos a queda foi de 19%”, disse. “Em dezembro de 2019, quando não se falava em pandemia, 2/3 das transações já eram por meio digital, celular ou internet. Essa tendência não volta mais, o que a Covid fez foi acelerar o processo”, afirmou.

O score da AliPay é como se fosse um clube de benefícios, com descontos em lojas parceiras, menos burocracias para ter acesso a serviços, como por exemplo tirar um visto para viajar  

Segundo o economista, o Gartner fez uma pesquisa sobre os impactos da pandemia nos negócios. Os resultados foram interessantes, pois somente 5% disseram que os negócios iriam piorar, 57% que ficariam iguais e 38% afirmaram que iriam melhorar. “O Gartner até fez uma ressalva de que os executivos estavam muito otimistas, mas eu acho que eles perceberam essa aceleração do digital, que já vinha se construindo”, comenta.
Em relação ao score, Carneiro diz que é uma ferramenta essencial para o sistema de crédito, mas afirmou que os algoritmos precisam evoluir e avançar para dados não estruturados. “O digital não tem relacionamento, é impessoal. Claro que esse avanço deve obedecer a limites éticos, principalmente no uso de inteligência artificial e Machine Learning”, concluiu.
Score no mundo
Para Dorival Dourado, que já foi presidente da Boa Vista SCPC, o score é usado hoje em diversas atividades, apesar de ser mais conhecido na área de crédito. “Ele é usado em todas as áreas do conhecimento, sendo que 75% das empresas usam algum tipo de score e 33% vão usar algoritmos para tomada de decisões. Este mercado movimenta mais de US$ 200 bilhões por ano”, afirmou.
Uma das discussões no Score Summit 2020 foi como o score vem sendo usado no mundo. Bruno Chan, cofundador da CrediGo, contou o panorama na China, país em que morou de 2010 até o ano passado. “Vi muita coisa acontecer nesse período, tanto do lado do consumidor, quanto das plataformas, já que trabalhei em empresas de venture capital e aprendi como as modelagens funcionam”, contou.
Segundo Chan, na China existe o score público, do governo, e o privado. O público, que é o social score, surgiu com uma lei de 2014 para coletar dados de diversas bases para a construção de um score de todos os cidadãos. Isso ainda não está em pleno funcionamento. O que funciona são os scores privados, como AliPay.
“O score na China é diferente do Brasil, Europa e EUA. Eles montaram scores de crédito usando dados alternativos desde o começo. Até os anos de 1980, a China era um país pobre e pouco bancarizada. Assim, eles começaram a usar dados de celular, hábito de consumo e geolocalização, montando scores com base em hábitos de consumo, viagens, quem são os amigos, como se usa o dinheiro”, explicou. “O score lá vai além do crédito. O score da AliPay é como se fosse um clube de benefícios, com descontos em lojas parceiras, menos burocracias para ter acesso a serviços, como por exemplo tirar um visto para viajar”.
Silvan Roth, cofundador da fintech suíça Aable, deu um panorama do score de crédito na Europa, onde os consumidores são mais conservadores e prezam muito a privacidade. Segundo o executivo, o consumo online cresceu e representa hoje entre 10% e 20% das vendas. Isso cria muitos dados comportamentais, que estão sendo usados pelas novas fintechs e bancos digitais, que trazem novas capacidades de avaliação de risco para oferecer produtos customizados. “O consumidor quer cada vez mais facilidade e simplicidade nos serviços financeiros. Os bancos tradicionais têm muita dificuldade em entregar isso. Quando se quer fechar um empréstimo com um banco tradicional, ainda é preciso ir fisicamente à agência para concluir o processo de avaliação de risco. Eles estão perdendo muito market share para os bancos digitais”, afirma.
Serviço
www.scoresummit.com.br
 

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