A Copa do Mundo da Rússia chega dando show de tecnologia e o futebol, paixão mundial, seguido por bilhões de pessoas em todo o mundo não ficaria imune à transformação digital. No último final de semana, o jogo França e Austrália foi considerado o jogo da tecnologia, com gol marcado com apoio da VAR (“video assistant referee” ou “árbitro assistente de vídeo”) e gol confirmado no relógio inteligente do árbitro.
O VAR vem para apoiar os árbitros e reduzir erros durante os jogos. A FIFA montou uma central de operações em Moscou, que recebe imagens captadas por 33 câmeras, para ajudar os árbitros em momentos difíceis das partidas.
Em campo, além do árbitro de vídeo, a bola equipada com chip, monitorada em tempo real pela equipe de arbitragem, e o relógio inteligente do Juiz, que vibra toda vez que a bola passa totalmente a linha do gol.
Outra inovação da FIFA é o Sistema Eletrônico de Performance e Rastreamento (EPTS), um sistema que dará aos técnicos das 32 equipes acesso às estatísticas de jogadores e filmagens em tempo real. Os assistentes têm acesso a dados de posicionamento do jogador, passes, marcações, velocidade e tackles.
Assim como em outros segmentos, o uso intensivo de tecnologia pode gerar desconforto e opiniões opostas. O fato é que a tecnologia vem precedida de mudança de cultura. A construção de mindset digital é necessária para que velhas crenças não atrasem o processo de transformação.
A seleção Alemã, por exemplo, passa por um processo de transformação digital onde os jogadores estão exigindo informação da equipe de treinamento, assim o uso de inteligência artificial e aprendizado de máquina desempenham um papel significativo e são uma parte essencial da análise de dados. A análise de partidas não é novidade no futebol, mas dar aos jogadores a flexibilidade de acessar informações a qualquer momento é uma mudança na forma tradicional de preparação.
Observemos o processo de transformação do poder judiciário, passada a primeira fase de digitalização, hoje mais de 70% dos processos no Brasil já ingressam de forma Eletrônica, o segmento entra em um momento transformacional na cultura digital, pois os processos já estão tramitando internamente de forma mais rápidas. Agora começam a investir em tecnologias que apoiam no processo de decisão, para suportar os magistrados em seus gabinetes.
No transcurso digital do judiciário o mito de que a tecnologia substituirá o juiz já vem sendo desconstruído. O STF recentemente lançou o VICTOR, sua primeira ferramenta de inteligência artificial. Ele foi desenvolvido para “atuar em camadas de organização dos processos para aumentar a eficiência e velocidade de avaliação judicial”. É importante lembrar a afirmação do STF: “a máquina não decide, não julga, isso é atividade humana”.
No livro “Os Humanos Subestimados”, de Geoff Colvin, o autor lembra que em uma situação tão importante quanto um julgamento, as pessoas não querem decisões de um punhado de dados, elas querem ver e ouvir um ser humano vivendo, sentido e julgando.
Na copa, assim como no poder judiciário, o juiz de campo continuará sendo a autoridade máxima. O papel da tecnologia não é substituir, mas complementar e agilizar o processo de tomada de decisão, não devemos competir com ela, mas desenvolver habilidades que vão além, centradas na relação entre as pessoas, pois elas estão no centro de todas as mudanças.
*Ademir Milton Piccoli é advogado evangelizador do uso intensivo de tecnologia no segmento Jurídico, atuando a mais de 15 anos no mercado de tecnologia com experiencia nos setores público e privado.
É curador de projetos ligados à tecnologia e inovação, difusor de conceitos e atividades ligadas a modernização do setor público, ativista na transformação digital do poder judiciário, faz mentoria e aceleração de startups e atua em projetos de inovação corporativa.
Palestrante em centenas de eventos ligados ao direito e à tecnologia.
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