A onda de fusões e aquisições entre ISPs, que nunca arrefeceu, deve seguir em ritmo mais acelerado após alcançar um novo nível. As operações, antes concentradas entre pequenos e médios players, passam agora a envolver os grandes provedores. A fusão ente Vero e Americanet – até então, respectivamente os 7º e 11º maiores fornecedores de conexões à Internet do País –, anunciada no início de julho, criou o quinto operador nacional, com 1,422 milhão de clientes – conexões via fibra – atrás apenas de grandes teles (Claro, Vivo e Oi) e Alloha, nova marca da EB Fibra. A operação terá, conforme especialistas, impactos que irão muito além da mudança no ranking do setor: deverá alterar severamente seu topo. O que ainda não foi dito é que o abalo maior se dará na base da pirâmide.
Bancos de investimento consideram que a fusão motivará uma série de operações semelhantes entre provedores de porte equiparável ao que Vero e Americanet dispunham antes do negócio (812,4 mil e 609,7 mil clientes). O BTG Pactual aponta como prováveis M&As envolvendo Desktop e Algar ou Ligga (que detêm, respectivamente, 968,1 mil, 799 mil e 363,8 mil clientes).
Ocorre que, iniciada a maré de fusões entre os grandes, a parte majoritária do mercado, composta por PMEs – muitas optantes pelo SIMPLES –, terá sua consolidação acelerada severamente. Isso deve ocorrer já a partir da empresa resultante da fusão. Principal executivo da Americanet e CEO da nova da companhia – presente já em 450 cidades –, Fabiano Ferreira, afirmou que a empresa nasce com 500 outros municípios mapeados com vistas à ampliação de suas operações. Muitos provedores menores serão incorporados nesse movimento, o que será determinado, a princípio, pelas suas áreas de atuação.
As fusões entre os provedores regionais buscam, principalmente, complementariedade de redes. Isso aconteceu com Vero e Americanet. A primeira possuía atuação forte em Minas Gerais e no Sul do País, enquanto que a outra, em São Paulo e alguns estados do Centro Oeste. É com base nesta lógica que o BTG Pactual sugere como prováveis operações envolvendo Desktop e Algar ou Ligga (participações relevantes, respectivamente, em São Paulo, Minas e Paraná).
Já a XP Investimentos traz abordagem menos pontual para justificar novos M&As entre os grandes. Com a taxa de juros no patamar atual – a fusão deu-se via troca de ações, modelo que deve se repetir em outras operações do gênero – e com a redução da demanda por novos acessos de banda larga, fusões e aquisições são a única alternativa para essas empresas ampliarem suas participações de mercado de forma relevante na velocidade imposta pelo novo cenário.
Ocorre que os M&As entre os grandes são limitados por questões regulatórias. Conforme a Resolução Anatel 694/2018, são considerados Prestadores de Pequeno Porte (PPPs) provedores que detenham menos que 5% de participação em cada mercado de varejo em que atuam – a empresa resultante da fusão detém 3% do mercado nacional. A partir desse percentual limite, provedores passam a arcar com outro nível de obrigações regulatórias, como o cumprimento integral da Resolução 632, que trata sobre direitos dos usuários de serviços de telecomunicações. Para seguirem com essas operações e ampliarem seu market share, as grandes terão de observar esse teto quando avaliarem possíveis fusões. Os menores que atuam nas áreas que lhes interessam sempre estarão na mira. Não são poucos.
Durante o boom da Internet no País – de 2018 a 2022, os acessos de banda larga fixa passaram de 31,2 milhões para 43,9 milhões, uma alta de 40,7% – os ISPs se multiplicaram, muitas vezes, de forma desordenada, a ponto de haver vários atuando simultaneamente em cidades com 20 mil a 40 mil habitantes. Há ainda, mesmo após muitas fusões e aquisições nessa parcela do mercado, várias empresas em localidades com diminuta demanda por conexões.
As aquisições por vir corrigirão essa e outras anomalias existentes no mercado, como o ainda elevado número de provedores – 20 mil no país, segundo a Abrint, sendo que há 32 mil empresas registradas com CNAE de provedor de Internet. Muitos ISPs serão abordados, o que não significa que isso resultará na concretização de negócios. Estas operações são conduzidas com alto grau de profissionalismo.
A análise dos ativos a serem adquiridos observa indicadores financeiros – faturamento, lucro, endividamento etc. –, redes e carteiras de clientes, mas vai muito além disso. É na due diligence que a maior parte dessas negociações acaba, com a desistência dos proponentes, por ser nesta etapa que passivos trabalhistas, fiscais, regulatórios, dentre outros, são revelados.
Os grandes provedores dependem dessas operações para, no cenário atual, preservar ou elevar sua relevância no mercado. Entre eles, muitas negociações estão em curso há anos. Quando estas e outras recentes se consumarem, impactarão, mais que a seus pares, os pequenos. Num futuro próximo, muitos destes serão incorporados. Outros, sucumbirão perante concorrentes capitalizados. Os primeiros a desaparecer serão os que são geridos de forma pouco profissional.
Por Fabio Vianna Coelho, sócio da VianaTel.
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