Apesar de “retrofit” não ter tradução literal, o termo pode ser entendido como “atualização” ou “modernização” ao substituir sistemas obsoletos e implementar tecnologias mais modernas, reduzindo custos operacionais e de manutenção, além de diminuir o impacto ambiental.
Se você nunca ouviu falar em Retrofit, esse é o nome do processo para restaurar prédios antigos de forma a preservar a arquitetura original, e também adequá-lo à legislação vigente, envolvendo uma atuação ampla na atualização e modernização das instalações.
O objetivo do retrofit é melhorar o conforto dos usuários, reduzir os custos operacionais e de manutenção, além de diminuir o impacto ambiental do edifício sem descaracterizar o conceito arquitetônico original… Soa familiar?
Esse conceito se originou nos Estados Unidos e na Europa, quando surgiram impedimentos ligados à legislação local que proibia que alguns edifícios fossem demolidos já que faziam parte de um rico acervo arquitetônico de épocas anteriores.
Mas quando falamos de tecnologia, será que a área de TI terá de esperar uma lei ou a demanda dos CEOs e investidores para rever os investimentos em novas tecnologias e focar em inovações que realmente façam a diferença e modernizem os processos mais importantes?
A área de TI está em constante evolução, no Brasil e no mundo, e as opções de investimentos em tecnologia por aqui são semelhantes às do restante do mundo. Segundo a pesquisa “2023 CIO and Technology Executive Agenda: A Brazil Perspective” do Gartner, os programas digitais no Brasil muitas vezes não alcançam o grau de foco e disciplina necessários para serem realizados em toda a empresa, e mais: a tecnologia e os talentos não estão performando tão bem quanto poderiam, levando as organizações de TI a lutarem para entregar os resultados esperados.
Entretanto, nesse mesmo estudo, a Gartner aponta que os CIOs brasileiros estão prontos para alcançar os países mais avançados, com 89% dos entrevistados declarando que a Nuvem distribuída é uma das tecnologias com maior probabilidade de serem implementadas até 2025 em suas companhias. Mas quando o assunto é investimento no setor, grande parte do desafio é explicar a necessidade de investimentos em novas soluções aos boards de acionistas ou aos C-Levels.
Sobre esse assunto, Antônio Bulcão, Principal da SPX Capital, opina que “o conhecimento dos boards e executivos sobre tecnologia foi ganhando relevância nas discussões a partir de 2015, e o time de Tecnologia foi entendendo a responsabilidade que vem com o aumento do budget. Conseguir tomar decisões e compartilhar os resultados é um desafio para os profissionais de TI e para os boards também, ao precisarem aprender como se mensura o resultado de tudo isso”. Perspectiva compartilhada por Fábio Quintão, senior director da Alvarez & Marsal, “a TI precisa ensinar. É responsabilidade da pessoa de tecnologia colocar em fatos e dados para que as decisões sejam no brainer“.
DSAG e a migração para a Nuvem
O cenário do Brasil não é tão diferente de casos como o visto na Europa, com a insatisfação causada pela SAP por conta de seu esforço em migrar para a Nuvem os sistemas ERP vitais de diversas companhias. As empresas integrantes da DSAG, clientes SAP localizadas na Alemanha, Suíça e Áustria, têm demandado que a versão do software S/4 on premise da SAP receba todas as novas funcionalidades disponíveis para o Cloud ERP, o que faz sentido, visto que esse modelo segue atendendo às necessidades dos clientes e, portanto, sua mudança não é prioridade.
A própria DSAG fez uma pesquisa em 2022 que apontou que só 8% dos seus associados haviam aderido ao S/4 na Nuvem, enquanto um grupo significativo de 32% utiliza o S/4 on premise. Na prática, cerca de 75% dos clientes ainda estão em versões anteriores ao S/4, o que mostra o tamanho do problema que os fabricantes têm nas mãos ao impossibilitar a flexibilização e colocar pressão na migração para a Nuvem.
O fato é que os investimentos de muitos clientes estão na casa das dezenas ou centenas de milhões em versões on premise desde o lançamento do ERP nos anos 1990. Mas, ainda assim, o grande foco dos fabricantes tem sido lançar produtos disponíveis somente na Nuvem. E esta é justamente a crítica do DSAG, o grupo de usuários na Alemanha, em que 27% de seus membros e 3% dos membros do ASUG expressaram opiniões extremamente ou relativamente negativas em relação ao serviço de Nuvem. O contraponto é que empresas que optam por executar o SAP S/4Hana on premise o fazem devido à proteção de Dados e requisitos de segurança da informação, à capacidade de controlar o hardware e, claro, aos investimentos significativos que já foram feitos na infraestrutura existente. O questionamento principal do grupo de usuários, é que os lançamentos e inovação de produtos deveriam estar disponíveis nas duas versões: Nuvem e on-premise – para que o cliente final possa exercer seu poder de escolha e para que não se sintam pressionados a investir em algo que não faz sentido para o negócio. Justamente por ser a TI a guardiã e executora de budgets de altos valores e hoje CIOs precisam buscar o equilíbrio entre investir na manutenção da operação ou em projetos estratégicos de diferenciação e inovação.
O futuro é a modernização
Orquestrar o ecossistema de negócios, modernizá-lo e colocá-lo em sintonia com os softwares legados, de maneira totalmente integrada é o caminho para modernizar o roadmap de TI e, ao mesmo tempo, é implementar novas soluções. Isso é o que chamamos de Composable Architecture, ou arquitetura combinável, que se refere a adotar uma arquitetura flexível, seja por meio de APIs ou de tecnologias compatíveis, com sistemas conectados, integrados, formando um ecossistema que une diversas ferramentas, plataformas e soluções.
O grande trunfo do Composable é essa flexibilidade, que permite infinitas mudanças, inclusões e alterações, sem impacto na operação. Ao contrário do que muitos pensam, e alguns fabricantes insistem em dizer, investir em melhorias tecnológicas não significa deixar de lado os sistemas legados, reflexo de uma propriedade intelectual acumulada durante anos, que recebeu pesados investimentos financeiros e que tem valor significativo para as organizações. Fabio Yoshitome, Partner e Head of Brazil da A.T. Kearney, aponta que “o desafio é entender como iremos configurar a arquitetura e a complexidade de novas plataformas e sistemas. Cada vez mais devemos estar indo na direção do Composable Business e Composable ERP. Todo mundo vai ter que se reinventar nesse sentido”.
O legado jamais deve ser visto como um fardo, mas como um diferencial e uma vantagem competitiva no mercado, em que outros players operam com sistemas totalmente em Nuvem, mas não possuem um histórico de atuação consolidado para os auxiliar no direcionamento dos negócios.
É primordial contar com parceiros especializados e agnósticos para auxiliá-las neste novo caminho de adoção de soluções que tornem o roadmap de TI totalmente flexível, escalável, adaptável e ágil. A mudança é a única constante no nosso mercado e se adaptar é a solução. É hora de ter isso em mente.
Por Edenize Maron, diretora-presidente da Rimini Street para América do Sul.
Leia nesta edição:
CAPA | TECNOLOGIA
Centros de Dados privados ainda geram bons negócios
TENDÊNCIA
Processadores ganham centralidade com IA
TIC APLICADA
Digitalização do canteiro de obras
Esta você só vai ler na versão digital
TECNOLOGIA
A tecnologia RFID está madura, mas há espaço para crescimento
Baixe o nosso aplicativo