É importante discutirmos com profundidade o conceito de multiCloud tal como se apresenta hoje. Diante de várias definições com viés de mercado, há espaço e necessidade de se analisar este conceito de forma neutra e ponderada. Não é uma tarefa direta, já que o conceito de multiCloud evoluiu em alguns anos tanto quanto a tecnologia Cloud em si.
Quando Cloud Computing surgiu, praticamente não havia a discussão de uso de várias Nuvens pois havia uma oferta dominante da AWS, enquanto os demais provedores estavam em desenvolvimento de suas plataformas. Assim, a AWS dominou isoladamente o mercado, de 2009 até 2014. Com o lançamento de novas ofertas como GCP e Azure, seguidas por várias outras, os próprios provedores que se anunciavam ao mercado começam a discutir a ideia de que empresas poderiam e deveriam fazer uso de várias Clouds, o que seria chamado de multiCloud.
Originalmente, o conceito de multiCloud era muito vago. E o imaginário ocupou o espaço do mercado em se projetar um futuro em que seria transparente para cada empresa qual Cloud, de fato, estava utilizando e, assim, surgiria – e se discutiu muito isto de 2014 a 2017 – uma ferramenta, que permitisse interoperar entre clouds e alterar entre uma e outra. Assim, se um serviço de armazenamento ou um servidor era oferecido mais barato por outra Cloud, esta ferramenta providenciaria a mudança de seus recursos para esta nova oferta.
Por mais estranha e imprópria que esta ideia seja, ao não considerar a complexidade e fragilidade de se fazer estas manobras no que tange à compatibilidade, latência, segurança e viabilidade operacional, muitos bons profissionais acreditaram e investiram desta forma. Alguns ainda o fazem.
À medida que as Clouds foram evoluindo além de infraestrutura como serviço, mais uma complexidade surgiu. Os ambientes de PaaS (plataforma como serviço), serverless e mesmo microserviços não eram compatíveis entre Clouds. Poderiam ser , se não fossem as forças de mercado tentando impedir que seus clientes fluíssem com liberdade para outras Clouds. Mas o fato é que, a partir de 2016, o objetivo de interoperabilizar seus ambientes só era possível se apenas fosse utilizado IaaS (infraestrutura como serviço) – em tese, pois, na prática a migração de IaaS entre clouds era e continua sendo tão complexa quanto uma migração lift and shift (sem alterações estruturais) do mundo on-premise para Cloud.
E neste momento, multiCloud passa a ser o que deveria ter sido desde o início: a possibilidade de uma empresa utilizar Clouds distintas para ambientes distintos, acoplados entre si em transações via APIs ou mesmo formas mais tradicionais. Assim, atualmente, mais de 90% das empresas utilizam-se de mais de uma Cloud para cobrir de maneira adequada suas demandas de sistemas, sempre buscando a que é mais conveniente para cada tarefa. Talvez estes sistemas se comuniquem, mas definitivamente não são interoperáveis em geral.
Benefícios
Melhor adequação a cada sistema. Cada provedor é oriundo de uma determinada matriz de tecnologias e tende a ser a melhor opção pelo seu legado, experiência e suporte. Mais um exemplo aqui, um banco de dados Oracle tende a ter o melhor custo-benefício e suporte em OCI. Isto significa que seu ambiente de aplicação também terá de ficar em OCI, pois a latência impedirá uma boa performance se estiver em outra cloud ou on-premise. Evoluções recentes, porém, de conexão nativa entre Clouds permite que, neste exemplo, os servidores de aplicação estejam em Azure, pois a latência entre Azure e OCI é da ordem de 1ms. Esta é uma tendência que está se expandindo no mercado: Clouds nativamente conectadas com baixa latência.
Redução de risco de lock-in
Ao empregar múltiplas Clouds, reduz-se o impacto de manter todos os contratos e recursos dedicados a apenas uma cloud, criando um ambiente mais aberto e competitivo para as escolhas de cada ambiente.
Maior poder de negociação
Ao ter estabelecido uma estratégia e prática multiCloud, cada ambiente novo pode ser avaliado em mais de uma Cloud, naturalmente levando em conta o melhor de cada provedor, oferecendo não somente preços melhores, mas principalmente benefícios indiretos como créditos, treinamento e mesmo algum tipo de assistência.
Menor dependência tecnológica e operacional
Embora indisponibilidades dos grandes provedores seja cada vez mais rara, é prudente distribuir seus ambientes em estruturas diferentes – sejam em Data Centers (ou zonas, como chamam alguns provedores) ou mesmo entre clouds, quando apropriado. E a médio prazo, diante de toda a evolução que ainda está por vir neste mercado, é adequado acompanhar e aprender sobre a forma de atuar dos principais provedores.
Maior variedade de soluções
Os provedores de cloud tem origens e culturas muito diferentes entre si. Isto se reflete em seus portifólio, ofertas, forma de atender a cada desafio. Ter acesso a este acervo e disponibilizá-lo em seu ambiente é um benefício interessante.
Mais disponibilidade de mão de obra
Num contexto de escassez de profissionais, e de inúmeros programas de capacitação, dividir riscos e agregar diversidade cultural tem sido uma experiência real de nossos clientes multiCloud.
Riscos
Naturalmente há pontos de atenção em multicloud:
Complexidade de gestão unificada. Se a gestão de uma Cloud ainda é um desafio para a maioria das empresas, o esforço e a complexidade crescem geometricamente à medida que mais clouds são utilizadas. Isto requer investimentos, processos, pessoal e ferramentas.
Amplitude de conhecimento necessário. Naturalmente, e dada a diversidade de clouds, há a necessidade de especialistas em cada uma delas. Trata-se de arquitetos, analistas de operações, FinOps, segurança, redes, performance, continuidade, implementação, gestão de mudanças etc.
Necessidade de reforçar aspectos de segurança, performance e custos. Mesmo que fracamente acopladas, as clouds ao coexistirem promovem a necessidade de se gerenciar vários aspectos que ficam evidenciados nas interações (segurança), latências, filas e APIs (performance) e decisões de escolha de cada recurso (custos e performance).
Como atuar sobre os riscos para extrair o melhor de multiCloud
Uma boa gestão, seja no que for, mas em especial em um ambiente complexo como multicloud, é feita de componentes essenciais para o sucesso:
Automação – ferramentas adequadas;
Visão preditiva e voltada ao negócio – há muita tecnologia de Inteligência Artificial (IA) disponível;
Processos robustos;
Time especializado;
Observabilidade;
Agilidade e flexibilidade.
Embora algumas empresas enveredem por criar suas estruturas próprias de gestão de multiCloud, muitas vezes evoluindo seus times de outras plataformas, nossa experiência mostra que contar com um Provedor de Serviços Gerenciados (MSP, em inglês) atende a todos estes requisitos e ainda:
Oferece conhecimento e experiência;
Agrega suporte e relacionamento com os provedores;
Reduz custos devido à escala;
Diminui riscos de turnover de um time próprio.
Cloud, como sabemos, é uma tecnologia que depende de volume e automação. A gestão de cloud deveria seguir estes mesmos preceitos e é esta a proposta de valor de um MSP: volume e automação.
Poder contar com um MSP multiCloud é importante para uma transformação digital de sucesso.
Futuro
É impossível, no cenário atual, determinar tendências duradouras. O impulso na adoção de tecnologias digitais durante a pandemia; a exuberância das empresas digitais, que tem um ciclo descendente neste momento; a evolução tecnológica enfrentando a redução dos orçamentos P&D em todos os provedores de Cloud; a comoditização de serviços de IaaS em provedores alternativos; a ascensão de provedores regionais que atendem requisitos locais. Cloud e multicloud são realidades;
O processamento mundial, dos ambientes existentes atualmente on-premise, vão continuar a migrar para Cloud;
Novos ambientes continuarão a ser desenvolvidos prioritariamente em cloud;
A variedade de ofertas e a comoditização dos serviços seguirá seu rumo natural;
Ofertas de nicho e soluções regionalizadas se fortalecerão;
Seres humanos continuarão importantes em todos os aspectos de uma utilização adequada de Cloud.
Por Maurício Fernandes, CEO da Dedalus.
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