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Transição energética pede estratégia e visão de longo prazo

Quanto espaço o assunto “energia” ocupa na sua vida? Quem sabe ele surge como uma preocupação no final do mês, quando a conta de luz vem mais alta do que o esperado, ou um inconveniente esporádico, quando a rua fica sem energia, por exemplo. Para os britânicos, esse cenário está um pouco mais complicado: segundo uma reportagem da BBC, o aumento de até 300% nos custos de energia está afetando até o funcionamento dos tradicionais pubs. Observando os desafios enfrentados pelo Reino Unido e outros países, decidi fazer algumas reflexões sobre o cenário de energia no Brasil.

Nos últimos anos, os brasileiros vivenciaram aumentos significativos nas cobranças pelo uso de energia elétrica em suas residências – o principal aconteceu no ano passado, quando a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou a criação da Bandeira Escassez Hídrica, refletindo os aumentos de custos de geração de energia em meio à crise hídrica. Residências e comércios foram diretamente impactados e, como uma forma de minimizar os gastos, explodiram as dicas de como economizar energia no dia a dia.

Quando expandimos o nosso olhar e observamos os impactos que a demanda por energia tem causado nos países, a situação fica ainda mais complexa. O caso do Reino Unido, citado no começo do texto, é crítico e vem sendo amplamente veiculado na imprensa internacional. Porém, um outro caso recente também chamou minha atenção: moradores do estado da Califórnia, nos EUA, estão sendo instruídos a não carregar seus veículos elétricos por causa das ondas de calor, apenas algumas semanas após o decreto que proíbe a venda de carros movidos a gasolina.

Ou seja, quão preparados estamos de fato para uma transição energética – e para qualquer assunto que envolva energia de forma qualificada? É claro que é preciso encontrar formas de contornar crises que surgem no setor, mas se a abordagem usada sempre for a de prestar atenção no problema apenas quando ele já está acontecendo, ficaremos permanentemente apagando incêndios em vez de traçarmos soluções que resolvam as questões na raiz. Além disso, teremos pouca segurança na tomada de decisões para um futuro mais limpo, como mostra o exemplo estadunidense, em que uma atitude revolucionária não encontrou respaldo no planejamento energético em um momento desafiador.

Paralelamente, vemos que a população está de fato tentando encontrar soluções para essas demandas – um exemplo é a adesão a fontes de energia renováveis, como a solar. O resultado dessa movimentação é visto agora, em que o segmento bate recordes de instalação e chega ao posto de terceira fonte de energia em potência no Brasil. Obviamente, esse é um momento de comemoração para o setor, que está em crescimento desde 2012, quando foi aprovada a Resolução Normativa ANEEL nº 482/2012.

Em menos de seis meses viveremos outra transformação na área devido ao marco legal da micro e minigeração de energia, que começa a valer em janeiro de 2023. Um avanço muito esperado por quem atua na área e que vai fomentar transformações importantes em um mercado em crescimento acelerado. Por isso acho importante ressaltar que esse é o momento para olharmos com verdadeira atenção para o segmento solar. Como o mercado está atendendo as demandas dos integradores solares? Como está a oferta de financiamento para grandes projetos? E a pauta de venda de energia para o consumidor, quem está liderando?

Trago esses questionamentos para gerar reflexões e também para mostrar que há muito a ser analisado no setor de energia, especialmente no segmento solar. Com um interesse ativo de todas as peças desse tabuleiro, poderemos avaliar se as medidas que estão sendo tomadas são adequadas, se os serviços ofertados são o suficiente e se conseguimos pensar de forma consolidada em um Brasil livre de combustíveis fósseis. Além de observarmos como essa transição vem ocorrendo em outros países, para nos apropriarmos dos bons exemplos e evitarmos os erros. Nosso potencial nessa área é grande – que a nossa vontade de ser agente dessa transformação seja também.

Por Jackson Chirollo, CEO e cofundador da Edmond.

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