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Pesquisa da Deloitte mostra apagão de mão de obra especializada

O estudo Agenda 2022 também mostra, por outro lado, que mesmo com falta de profissionais, as empresas afirmam que vão investir em Pesquisa e Desenvolvimento

Pesquisa da Deloitte mostra apagão de mão de obra especializada

No início do ano, a consultoria Deloitte divulgou a sua pesquisa anual Agenda, que mostra as prioridades e as expectativas dos líderes empresariais para o ambiente de negócios no Brasil. É um estudo extenso, que na edição deste ano consultou 491 empresas, de vários setores, sendo 57 das áreas de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações (TMT). Neste segmento específico, a pesquisa mostrou que a maior dor hoje é a falta de mão de obra especializada. Mesmo assim, as empresas de TMT afirmam que continuarão investindo em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e que mesmo com as instabilidades econômicas e por ser um ano de eleições, há um otimismo quanto aos resultados deste ano.

A pesquisa Agenda 2022 revelou que 96% dos empresários de TMT têm como investimento prioritário o treinamento e formação de funcionários. Os outros investimentos apontados como prioritários pelos participantes foram em lançamento de produtos ou serviços (94%), Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), apontado por 76%, e parceria com startups (57%). “O apagão de mão de obra especializada ocorre em todos os setores de tecnologia, mas é mais grave em Telecomunicações, em que a tecnologia é o core business. O mercado de Telecom está exigindo cada vez mais conhecimento profundo, até pelas mudanças nas arquiteturas de rede”, diz Márcia Ogawa, líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da Deloitte. “Paralelamente à falta de profissionais capacitados, há a complexidade da indústria, pois novas tecnologias estão surgindo, como o 5G, fazendo com que a demanda só aumente”, observa.

Segundo ela, o Brasil não forma engenheiros de Telecomunicações em número suficiente. Os que são treinados logo saem da empresa com ofertas melhores e alguns até mesmo vão para fora do País. Muitos profissionais oriundos do setor de Telecomunicações também acabam indo para outras empresas de tecnologia, bancos, empresas de consumo, entre outras, agravando ainda mais a escassez de profissionais. “Também há falta de profissionais de desenvolvimento de softwares, de Cloud Computing, Inteligência Artificial, Machine Learning, entre outros. Também há os profissionais híbridos, que combinam conhecimento da tecnologia com a área de negócios, como engenharia com medicina, mídia e tecnologia, agricultura com tecnologia etc. Esses profissionais também faltam no mercado”, comenta Márcia.

Solução

Em sua opinião, para formar toda essa mão de obra será necessário mexer em toda a cadeia de formação, com criação de novo currículos para atender a essas novas funções. “A solução virá de várias frentes, uma parte do setor privado, que está se esforçando para fazer a capacitação, recrutando profissionais no mercado e dando treinamento para uso imediato. Mas isso não é suficiente, será preciso um esforço do governo, que sensibilizado com essa mudança do perfil dos profissionais, deverá investir em ações para aumentar a quantidade de profissionais que possam ingressar nessas carreiras, sem esquecer a qualidade do ensino. Isso vai desde incentivar as crianças a gostar de tecnologia, mais cursos em quantidade e qualidade, com grade curricular mais adaptado ao nosso mercado. São ações que deverão ocorrer em paralelo”, afirma.

Segundo a executiva, a inserção das mulheres neste setor de tecnologia também é importante, pois a porcentagem de mulheres no mercado de trabalho ainda é baixa. Há necessidade de estímulo para se ampliar a base e a oferta de mão de obra. “Em alguns países houve iniciativas relevantes, como na Índia, com ações que fizeram as meninas se interessarem pelo setor. Apesar de as empresas estarem buscando uma equidade de gênero, há um problema estrutural que se deve resolver pela base”, comenta.

De acordo com a pesquisa Agenda 2022, pouco mais de dois terços das companhias (67%) vão direcionar esses treinamentos a diversas áreas da empresa. Além disso, os investimentos na área serão direcionados a sistemas e ferramentas de gestão e segurança digital (ambos para 98% dos empresários), infraestrutura (96%), gestão de dados (94%), ferramentas de customer marketing (91%), canais de atendimento ao consumidor (81%) e canais de vendas online (67%). Outros investimentos que chamam a atenção são os relacionados às tecnologias emergentes, que serão direcionados à Robôs Móveis Autônomos (AMR), apontados por 38% das empresas, digitalização do parque fabril (23%) e Realidade Virtual e Aumentada (15%).

Pesquisa e Desenvolvimento

Na área de P&D, 80% dos empresários realizarão investimentos ao longo de 2022. Das empresas que afirmam investir, 59% pretendem focar em pesquisa aplicada, 52% no desenvolvimento experimental, 20% em pesquisa básica dirigida e 7% em tecnologia industrial básica.

As ações de inovação realizadas colaborativamente, segundo os respondentes, serão: desenvolvimento de novos produtos/serviços e comunicação/interação com os clientes (ambos apontados por 62%), treinamento de equipes (57%), realização de pesquisas e adoção de novas tecnologias (ambos por 47%), realização de eventos (45%), troca de conhecimento/experiências (43%), captação de investimentos/recursos financeiros (28%), simplificação de processos burocráticos (23%), registro de patentes (17%) e intercâmbio de funcionários (9%).

“Fico feliz em ver que os resultados da pesquisa mostram que o Brasil está mais antenado com a necessidade de investir em pesquisa e desenvolvimento. As empresas e seus produtos precisam se diferenciar frente à concorrência. Para isso é preciso inovação. Investindo em pesquisa, o produto fica mais complexo, com mais camadas de tecnologia, e assim mais competitivo no exterior”, explica Márcia.

Com o surgimento das startups, muitas corporações estão preferindo adquirir empresas inovadoras ao invés de fazer o desenvolvimento interno. “O Open Innovation, a inovação aberta, com profissionais e empresas de fora, vem sendo muito utilizado e com bons resultados. Ele usa tanto startups como institutos de pesquisas, muitos deles ligados às universidades, e também as grandes consultorias, que trazem conhecimentos de fora e que podem estimular a inovação. Uma grande vantagem é que se divide o risco do desenvolvimento”, explica Márcia.

Preocupações

Diante do que foi vivenciado nos últimos anos com as variações das últimas eleições e com os impactos da pandemia, os empresários apontam na pesquisa a evolução do processo eleitoral (75%) como a maior preocupação para o ambiente de negócios em 2022. As outras preocupações elencadas foram a inflação acima de 5% (61%), as instabilidades políticas (53%), alta dos juros e desvalorização do real (ambos por 49%), nova onda da Covid-19 (46%), volatilidade na bolsa e no câmbio (39%) e riscos fiscais (39%).

“Mesmo com incertezas no ambiente de negócios, as organizações continuarão investindo em Transformação Digital, capacitação profissional e melhoria contínua de suas operações. Somente assim elas vão se manter competitivas em um contexto de mudanças tão relevantes como o atual. A Agenda 2022 revela que há uma consciência clara das empresas sobre o dever de casa a ser feito”, afirma João Gumiero, sócio-líder de Market Development da Deloitte.

Serviço
www.deloitte.com

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