A pandemia causada pelo novo coronavírus deixa grandes marcas ao mesmo tempo em que apressa movimentos que apenas engatinhavam. Na medicina, fez com que a transformação digital chegasse mais cedo para muitos consultórios e se tornasse uma forte tendência para este e o próximo ano, como mostra o estudo da IDC: o investimento em tecnologias no setor de saúde na América Latina deve atingir US$ 1.931 milhões até 2022, o que equivale a 10 bilhões de reais.
Exemplo disso foi o Hospital Albert Einstein, que aplicou R$ 25 milhões em equipamentos que oferecem segurança de dados e boa conexão para a realização da telemedicina. Já o grupo Prevent Senior criou uma sala de 350 metros quadrados para os médicos acompanharem virtualmente seus pacientes.
O surto da Covid-19 também acelerou os negócios, como as aquisições de muitas empresas médicas por grandes players, hospitais e planos de saúde. A recente manobra enxadrista da direção do Hospital Care exemplifica isso. Depois de ter adquirido o grupo Austa, de São José do Rio Preto, a holding, controlada pelos empresários Elie Horn, Julio Bozano e pelo fundo Crescera, planeja fazer IPO (processo de transição em que uma empresa deixa de ter capital fechado e passa a ter capital aberto) ainda no primeiro semestre de 2021.
A Rede D’Or, maior grupo independente de hospitais do Brasil, também vem fazendo a lição de casa. Ela protagonizou o maior IPO de uma companhia nacional desde 2013, captando R$ 11,5 bilhões na sua oferta pública de ações, ficando atrás apenas do Santander, que levantou R$ 13,2 bilhões em 2009. Assim, entrou no restrito grupo das dez empresas com valor de mercado acima de R$ 100 bilhões, que tem Vale, Itaú e Petrobras.
Diante disso, Tiago Lázaro, economista e CEO da Mitfokus, fintech especializada em soluções tributárias, financeiras e contábeis para a área médica, afirma que o cenário da saúde no Brasil tende a se configurar cada vez mais a partir de grandes complexos médicos, que crescem progressivamente com investimentos em tecnologia e profissionalização da gestão e, ainda, realizam incorporações constantes para o fortalecimento de sua cadeia.
“O mercado da saúde está cada vez mais verticalizado, ou seja, administrado por poucos e grandes grupos, a exemplo dos operadores de planos de saúde, que por sua vez estão gradativamente centralizando os serviços médicos com a aquisição de clínicas médicas, centros de diagnósticos e até hospitais”, diz Lázaro. Dados recentes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que o País conta com 726 operadoras de assistência médica ativas, que operam quase 17 mil planos, que, por sequência, possuem uma rede de clínicas e laboratórios adquiridos ou associados.
Contudo, o que pode resultar em bons negócios para as grandes organizações também pode colocar as médias e as pequenas empresas do setor contra a parede. Segundo o economista, uma solução, seja para manter-se competitivo no mercado diante dos grandes grupos ou para “entrar no radar” dos investidores, clínicas e laboratórios de médio e pequeno porte, é investir em gestão, governança e softwares.
“Oitenta por cento das empresas médicas do mercado são familiares e mantêm aspectos de gestão ultrapassados. É preciso dizer que a profissionalização e a digitalização é um caminho sem volta, seja no atendimento ou na gestão no setor médico. Em ambos os casos criam uma nova cultura nas empresas, que torna ágil e assertivo o atendimento, beneficiando pacientes e médicos, e que garante uma gestão eficiente que reduz custos e traz vantagem competitiva aos donos em um mercado em constantes mudanças”, conta Júlia Lázaro, consultora financeira da Mitfokus.
Ainda conforme Júlia, de cada dez profissionais da área médica, praticamente nove pagam mais tributos do que deveriam. O que demonstra como é importante o monitoramento dos aspectos financeiros e o planejamento tributário da empresa médica, desde o prestador de serviço até grandes hospitais. O processo passa pelo uso de softwares e consultoria específica para área médica, que respeita as particularidades típicas das atividades médicas e de saúde. Assim, ganha-se tempo e evita-se o desperdício de recursos que podem representar investimentos no próprio negócio e serem revertidos em crescimento.
“O primeiro passo para a informatização já está dado, com a recorrente implantação de softwares para atividade-fim. A telemedicina, por exemplo, cresceu muito nos últimos meses, no período de pandemia que restringiu a ida a consultórios. Agora, é preciso integrar as ferramentas de atendimento on-line com as soluções de gestão”, observa a executiva.
A fintech conta hoje com cerca de 1,2 mil clientes, entre profissionais, clínicas e hospitais, com mais de 40 especialidades médicas, em todo o Brasil. Com unidades no estado de São Paulo (em Campinas e na capital paulista), a empresa presta serviços de consultoria tributária, consultoria financeira, contabilidade, orientações em fusões e aquisições.
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