Segundo dados do Banco Central, pelo menos 40 instituições financeiras iniciaram suas atividades em 2020. A avaliação do setor é que o distanciamento social forçado pela pandemia do novo coronavírus acabou criando um ambiente propício para que surgissem mais fintechs e bancos digitais especializados em tecnologia e serviços por aplicativos. Mas o que os profissionais podem esperar de 2021?
A percepção geral é de que o ecossistema de fintechs no País está amadurecendo. Segundo relatório anual Fintech Deep Dive, publicado pela Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) em conjunto com a consultoria PwC, quase metade das fintechs do País aumentaram a receita em mais de 100% ao longo de 2019, comparado ao ano anterior. Hoje, 58% das startups faturam mais do que R$ 350 mil anuais — em 2020, esta proporção não chegava aos 50%.
Para 2021, especialistas e profissionais do setor listam os principais desafios e tendências que serão enfrentados pelas fintechs este ano. Confira:
PIX
Lançado há dois meses, o Pix já foi usado por mais de 44 milhões de pessoas e 3 milhões de empresas, superando as expectativas do Banco Central. Para 2021, a tecnologia deve se fortalecer ainda mais como uma tendência, impactando diretamente outras formas de pagamento. “As maquininhas de cartão de crédito, por exemplo, provavelmente começarão a cobrar taxas mais competitivas”, comenta Piero Contezini, CEO da fintech Asaas, que oferece uma conta digital completa focada em micro e pequenos empreendedores. Para ele, o Pix está trazendo uma mudança positiva para esses negócios e seus consumidores, que podem realizar operações mais baratas, simples e independentes de bancos. “Por outro lado, a crescente adesão ao sistema também traz uma necessidade de reinvenção por parte das empresas do setor financeiro, que precisarão continuar gerando valor ao cliente em um cenário onde a movimentação do dinheiro em si não será mais uma barreira”, reforça.
Open Banking
Outra tendência é o open finance, cenário em que além dos bancos, várias organizações podem oferecer produtos financeiros, obedecendo a regulações pré-estabelecidas. No open finance, o cliente será dono de seus próprios dados. “Essa abertura do sistema financeiro vai permitir um acesso a dados nunca antes visto pelas fintechs brasileiras. Os grandes bancos têm hoje o que pode ser considerado um monopólio de dados, devido à concentração de consumidores”, comenta Guilherme Verdasca, CEO da fintech open banking Transfeera. “Quando há uma abertura, ou seja, o cliente pode escolher compartilhar suas informações bancárias com qual instituição escolher, sendo ela fintech ou não, passa a existir uma expansão do mercado, gerando mais competição e possibilitando a entrada de novos players, com novos serviços, novas tecnologias que vão revolucionar o dia a dia do consumidor”, finaliza.
Investimentos
Seguindo as tendências econômicas de taxas de juros baixas e a demanda crescente por digitalização, os investimentos em fintechs devem aumentar em 2021, na visão de Marcelo Wolowski, diretor do Grupo de Investimentos da ACATE (Associação Catarinense de Tecnologia). “Existe uma tendência de mais investimentos em qualquer segmento voltado à digitalização e democratização do acesso aos serviços financeiros e também outros que estejam baseados em mobilidade. Um dos desafios para as fintechs é atrair novas rodadas de investimentos de alto valor em um mercado no qual grandes players prevalecerão. Ao mesmo tempo, muitas empresas de software consolidadas, que já tem o seu próprio ecossistema construído, passarão a oferecer serviços financeiros aos seus clientes.
Mão de obra
O problema da falta de mão de obra qualificada perpassa todos os setores de tecnologia — e com o financeiro não seria diferente. De acordo com Gustavo Raposo, CEO e fundador da Leve, fintech de bem-estar financeiro para colaboradores, a contratação de profissionais será ainda mais desafiadora em 2021 pelo impacto das últimas mudanças nos modelos de trabalho. “Com o home office e o real desvalorizado, muitos desenvolvedores já estão atuando em empresas de fora do país. Sabemos que não faltam vagas, mas sim pessoas capacitadas para atuar no mercado”, explica Raposo. Porém, nem tudo está perdido. Segundo ele, a situação é uma faca de dois gumes. “Ao mesmo tempo que o trabalho à distância pode estar levando talentos para o exterior, ele também amplia nossa gama de possibilidades dentro do país”, complementa. Para sobreviver este ano, os negócios irão precisar de um olhar mais estratégico vindo de seus recrutadores.
Novos mercados
Para Eládio Isoppo, CEO e fundador da Payface, startup de reconhecimento facial para pagamentos, as fintechs que se arriscam em novas soluções serão as mais procuradas por investidores em 2021, assim como por grandes corporações em busca de transformação digital. Segundo ele, em razão do crescimento na busca por tecnologias touchless, que reduzem o risco de exposição aos vírus e bactérias, novas formas de pagamentos estarão cada vez mais em alta. “Tecnologias como as de aproximação e o novo PIX irão chamar atenção este ano. A pandemia trouxe múltiplas mudanças no dia a dia da população, não deixando de afetar a forma como fazemos compras”, explica. O segmento financeiro está expandindo, mas a certeza que fica é que ainda tem muito espaço para inovação.
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