Com taxas de crescimento superiores a 20% ao ano nos últimos dois anos, o mercado de Certificação Digital promete avançar cada vez mais. As discussões em torno de privacidade e segurança no acesso aos dados – as quais se intensificam com o advento crescente do trabalho remoto, que se tornou uma realidade contundente diante do isolamento social imposto pelo Coronavírus, e com a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD – devem impulsionar o segmento, mesmo que indiretamente.
“Nos tempos de home office, a Certificação Digital faz muito sentido. Ela pode ser usada para o usuário se autenticar no sistema da empresa, substituindo o login e senha; para assinar documentos a distância e até no registro de ponto que, com essa ferramenta, tem validade jurídica”, relata Júlio Mendes, diretor Comercial da Soluti, empresa emissora de certificados digitais. O gerente de identidade digital da Serasa Experian, Fabiano Leite, concorda e complementa: “um dos papéis das empresas é permitir que seus funcionários consigam produzir, remotamente, com o mesmo padrão de segurança, como se estivessem dentro da organização”. Ele aponta como grande benefício para as companhias que adotam a certificação como Single Sing-On (SSO), a redução das solicitações para redefinição de senha, que representam, em média, 19% dos chamados de suporte técnico das empresas.
Outra utilidade importante será para checar o titular dos dados que, pela nova regulamentação, terá de dar consentimento para o uso de suas informações. “A identificação inequívoca do titular dos dados é um dos desafios que a LGPD trará, e o Certificado Digital se apresenta como ferramenta adequada”, acredita Gisele Strey, advogada especialista em Direito Digital da área de Compliance da Autoridade Certificadora Safeweb. “Enxergamos uma ótima oportunidade de impulsionar o mercado dessa ferramenta de identificação digital”, complementa Gabriel Jório, superintendente de Operações e Comercial da Valid Certificadora.
Novas aplicações
O fato de o Certificado Digital equiparar-se a uma assinatura física dos indivíduos, tendo validade jurídica reconhecida, abre inúmeras oportunidades. “Todas as operações que antes necessitavam de uma assinatura física podem ser concretizadas virtualmente, o que significa redução de gastos com papel, autenticação, deslocamento e armazenagem, trazendo agilidade e economia”, destaca Gisele.
A expectativa é que, cada vez mais, existirão aplicações compatíveis com a tecnologia e, segundo a Certisign, as empresas já começam a ampliar o uso da ferramenta “Isso se aplica a organizações públicas e privadas, de todos os segmentos: do hospital que usa o Certificado para assinar o prontuário eletrônico do paciente, ao microempreendedor que utiliza a tecnologia para a emissão de notas fiscais eletrônicas”, destaca Gonçalves. A Telemedicina é, inclusive, um modelo em que o Certificado é imprescindível e é necessário para garantir a identidade do médico e a validade da prescrição.
Apesar dos benefícios, os especialistas acreditam que o Certificado ainda está muito atrelado às obrigações fiscais, fazendo com que seu uso seja limitado. “O grande desafio do setor é mostrar as diversas aplicações dessa tecnologia, aumentando a percepção de valor”, afirma Mendes. Uma das formas que a Soluti encontrou para impulsionar a adoção mais massiva foi lançar uma campanha para entregar gratuitamente Certificados para a declaração de Imposto de Renda 2020 de pessoas físicas, permitindo, com isso, o uso da declaração preenchida antecipadamente, na qual, muitas vezes, cabe ao contribuinte apenas revisar os dados.
Parceiros, a chave do crescimento
As estratégias para impulsionar o setor ainda passam pelo fortalecimento das redes de parceiros das autoridades emissoras. A Serasa, por exemplo, promete investir fortemente em seu programa de parceiros este ano. Sua estrutura está dividida em cinco modelos de negócio. Um deles é o Parceiro Tecnológico, no qual empresas de tecnologia (como fornecedores de ERP), incorporam a Certificação Digital em suas soluções e recebem comissão de 15% do valor total de vendas dos certificados. Quem quer vender e emitir o Certificado da Serasa e possui um espaço físico pode se tornar uma Autoridade de Registro, mas para isso é necessário um credenciamento junto ao órgão regulador.
Se o objetivo é apenas emitir o certificado e a empresa possui um espaço físico, é possível se tornar parceiro no modelo do Clube do Emissor, recebendo 15% a cada emissão realizada no local. Para os interessados apenas em vender os certificados há duas possibilidades: Empresa Promotora, que tem a missão de fomentar o uso e Clube do Revendedor, em que o parceiro pode ofertar 10% de desconto para os clientes e ganhar 15% de comissão a cada venda efetuada. “Este último é o modelo que mais atrai o Contador e será o foco da nossa atuação. O objetivo é triplicar o número de integrantes desse clube em 2020”, revela Leite. Segundo ele, a Serasa, que já está presente em cerca de 80% dos municípios brasileiros, também apostará na ampliação do número de Autoridades de Registro e de Parceiros tecnológicos.
Para a Certisign, mais do que ampliar o número de parceiros, a meta é fortalecer a atual rede. Presente em 700 municípios, com 2,2 mil pontos, a empresa acredita que ainda há espaço para avançar dentro dos atuais parceiros. “Queremos poucos, mas fortes”, afirma Gonçalves. O Contador também está no foco da estratégia. “Temos um programa para que ele controle a validade do Certificado do cliente e possa alertá-lo para garantir que esteja sempre ativo”, explica.
Para a Valid Certificadora é importante ampliar a rede de parceiros. “Oferecemos todo o suporte, treinamento e direcionamento para alcançarmos juntos mais cidades do território nacional, com um programa que atenda às necessidades de todos os envolvidos”, afirma. Segundo Jório, a empresa atua com diversos formatos: de remuneração, afiliados e white label, em que companhia oferece a solução como se a inteligência por trás do produto fosse da marca que o revende. “Nesse momento de expansão explosiva dos processos digitais, a Certificação Digital se torna cada vez mais fundamental”, conclui o executivo.
Ao esforço das empresas soma-se à iniciativa do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação – ITI, cujo objetivo é manter a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP- Brasil, sendo a primeira autoridade da Cadeia de Certificação – AC Raiz, que trabalha para modernizar o sistema.
Recentemente foi autorizada a renovação online e a validação por videoconferência de um certificado emitido por qualquer Autoridade Certificadora. A expectativa do órgão é que, com as empresas que já possuem Certificado Digital realizem novas emissões e renovações online, otimizando os processos operacionais e evitando aglomerações nos pontos de atendimento autorizados, ocorra um novo impulso à popularização da ferramenta, passo importante para o Brasil a se tornar mais digital.
Leia nesta edição:
CAPA | TECNOLOGIA
Centros de Dados privados ainda geram bons negócios
TENDÊNCIA
Processadores ganham centralidade com IA
TIC APLICADA
Digitalização do canteiro de obras
Esta você só vai ler na versão digital
TECNOLOGIA
A tecnologia RFID está madura, mas há espaço para crescimento
Baixe o nosso aplicativo
Comentários