A Organização Pan-Americana de Saúde, a OPAS, estima que de 10% a 20% dos adolescentes do mundo enfrentam problemas de saúde mental. E, sabemos que as experiências na escola influenciam diretamente nessa realidade.
A tragédia da escola de Suzano, interior de São Paulo, em que dois jovens entraram armados e mataram dez pessoas, deixando 11 feridos, colocou em alerta pais, docentes e profissionais que atuam em unidades de ensino. Como estar preparado para lidar com transtornos e dificuldades que cada estudante pode desenvolver nessa etapa da vida, analisando o comportamento deles e os orientando da forma mais responsável possível?
O bem-estar psicológico pode e deve ser tratado como tema na sala de aula, e, para tanto, os professores precisam passar por treinamentos. A OPAS também já divulgou que metade dessas questões de saúde mental, entre elas, depressão e ansiedade, aparece para os jovens a partir dos 14 anos. É com esse público que os docentes precisam dialogar e estabelecer novas formas de conexões. E a tecnologia pode ser uma aliada e tanto para esse aprofundamento.
A carreira educacional ganha, e muito, com as novas possibilidades de comunicação e transmissão de conhecimento. Por isso, me parece potencialmente impactante a ideia de criar materiais de apoio, com a consultoria de psicólogos e psiquiatras em plataformas digitais para acesso de professores.
Nos Estados Unidos, a tecnologia tem sido usada para a capacitação de professores por meio de cenários com avatar. Em simulações, os docentes lidam com alunos que poderiam apresentar déficit de atenção, comportamentos suicidas e traços de psicopatia, com o objetivo de capacitá-los no reconhecimento dos possíveis riscos frente a esses perfis de aluno.
Nesse trabalho, é fundamental a assistência social para monitoramento constante. De qualquer forma, é mais uma abordagem válida para se tratar do tema, pois vidas estão em jogo.
As instituições de ensino também podem trabalhar com o conceito de microlearning, apresentando textos e vídeos informativos que dialoguem diretamente com a compreensão desses comportamentos dos alunos. É importante que se reconheça sinais, até onde for possível, de que o estudante não está bem, sofre ou provoca bullying ou apresenta quadros de distúrbio de comportamento, e treinamentos assim são muito eficazes nesse sentido.
É claro que abrir rodas de conversa e abraçar as experiências dos meninos e meninas como seres em formação também é indispensável. Mas, até mesmo para conduzir essas interações, o professor deve ter em mão um conteúdo direcionado, e que colabore, de antemão, com o reconhecimento de situações como evasão escolar, mau desempenho e até de problemas pessoais com que cada aluno está lidando.
O encaminhamento para profissionais da saúde mental é essencial. Dito isso, é preciso instrumentalizar e instruir os professores para que saibam ajudar os alunos em classe e para que eles também vejam a escola como um ambiente de acolhimento, reconhecimento e confiança.
Por Luiz Alexandre Castanha, diretor geral da Telefônica Educação Digital – Brasil e especialista em Gestão de Conhecimento e Tecnologias Educacionais
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