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Transformação digital e os desafios da educação na América Latina

São muitos os desafios que as empresas e instituições terão de enfrentar nos próximos anos para se adequarem à transformação digital. Sob o ponto de vista tecnológico, infraestruturas terão de ser renovadas, aplicações redesenhadas, modelos operacionais e de governança revistos.

As questões de segurança da informação e privacidade dos indivíduos continuarão presentes, com novas e cada vez mais frequentes ameaças, alimentadas por componentes sofisticados de inteligência artificial. Ferramentas de gestão avançadas e inovadoras estarão disponíveis e serão necessárias para administrar ambientes híbridos de TI e fluxos dinâmicos de informações entre diferentes instâncias.

O objetivo final é dar flexibilidade e escalabilidade aos diferentes modelos de negócios, permitindo reconfigurações, adaptações e a criação e destruição de produtos e serviços em tempo real, sempre em linha com a demanda dos usuários e consumidores. Tudo isso em escala global, por meio de implementações locais.

A tecnologia já está por aí! Ainda necessita evoluir em muitas frentes, porém, a direção a seguir é cada vez mais clara – e os grandes desenvolvedores, assim como as startups e os provedores de propostas de valor mais segmentadas, sabem exatamente por onde avançar. Por outro lado, o maior gargalo que veremos nos próximos anos se refere à disponibilidade de pessoas capazes de navegar neste ambiente extremamente veloz e de constante mudança. E esse desafio será ainda maior em mercados emergentes, como é o caso da América Latina.

Se observarmos os indicadores educacionais dos países da região, veremos que estamos todos praticamente no mesmo barco: uma educação – tanto pública quanto privada – longe da realidade, gerando pessoas, em muitos casos, analfabetas no que se refere aos componentes cognitivos fundamentais, como linguagem, matemática e ciências.

Essa deficiência já tem impacto – e terá ainda mais – na produtividade do trabalhador nessas regiões. Afinal, não é novidade que, em termos econômicos, a produtividade na América Latina se encontra estagnada há muitos anos. O exemplo que sempre é usado como benchmark para esse tema é a comparação entre a produtividade dos trabalhadores brasileiros e a dos coreanos: na década de 70, um brasileiro produzia 10% a mais do que um sul-coreano; hoje, produz um terço. Ou seja, atualmente um coreano agrega, em média, o mesmo valor que três brasileiros.

E por que isso ocorreu? A resposta é simples: educação. A Coreia do Sul, desde a década de 50, vem investindo pesadamente em educação, formando pessoas cada vez mais qualificadas como uma aposta de longo prazo. A conexão entre educação e produtividade é bastante conhecida pelos economistas.

E não me refiro apenas ao volume de dinheiro investido em educação. O Brasil, nesse aspecto, gasta mais do que a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, ou seja, 6% do PIB contra uma média de 5,5%. No entanto, o dinheiro não é bem gasto e forma seus profissionais de maneira deficiente, com grandes lacunas, que acabam cobrando seu preço no futuro. Uma renovação nos modelos educacionais, associada à uma profunda revisão de conteúdo é essencial para garantir uma economia sustentável no longo prazo.

Necessitamos incorporar rapidamente mais tecnologia na educação para assim formar pessoas capazes de entender a dinâmica que virá, com suas mudanças nos modelos e na cultura do trabalho. Pessoas hábeis para dominar as ferramentas básicas para a produtividade no século XXI.

Este é um tema estratégico, sobre o qual vejo pouco posicionamentos de políticos ou tomadores de decisão do setor público. Corremos o risco de nos depararmos, em alguns anos, com uma legião de pessoas que não terão condições de contribuir com um ambiente econômico extremamente competitivo e globalizado.

Por Rodrigo Parreira, CEO da Logicalis para a América Latina

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