Livros, caderno e smartphone. Para atrair o interesse e aumentar o nível de aprendizagem e retenção do conhecimento, cada vez mais empresas estão recorrendo ao mobile learning para criar cursos e treinamentos. Esse parece ser o caminho natural do aprendizado, já que as gerações mais novas já nem se lembram de como era a vida sem seu smartphone no bolso. Mas, por mais interessante que possa ser, existem alguns limites que precisam ser observados antes de se investir no m-learning dentro da sua empresa.
A primeira questão refere-se justamente ao público-alvo: seus colaboradores estão aptos a aprender utilizando um dispositivo móvel? As novas gerações já nasceram em um mundo com Internet, por isso entender qual a dinâmica do curso e aprender o seu funcionamento é algo praticamente instintivo. Mas com os colaboradores mais velhos, pode existir uma resistência. Apesar dos smartphones estarem presentes em praticamente todas as casas brasileiras, muitas pessoas ainda utilizam apenas as funções mais básicas, como fazer ligações e enviar mensagens. Essas pessoas não são necessariamente indivíduos com menos estudo, mas pessoas que apresentam uma certa resistência ao novo, já que mudar pode ser uma ação desconfortável. Se a sua empresa apresenta um quadro de colaboradores com mais idade, pesquise primeiro se haverá a aceitação do mobile learning. Se a ideia parecer muito avançada para eles, talvez seja mais interessante investir em outras formas de aprendizado.
Também é importante observar os possíveis problemas pedagógicos. Queremos que os alunos/colaboradores aprendam e vejam o mobile learning como um aliado, e não um peso na sua rotina. É preciso que o app ou site responsivo criado seja interessante e fácil de usar, porque senão ele fatalmente será abandonado.
Pense no conteúdo que você deseja ensinar. A melhor ferramenta é realmente o mobile? Considere que o colaborador não estará na empresa quando estiver estudando, na verdade ele pode estar em qualquer lugar, com as mais diferentes possibilidades de distrações. O ideal, é investir em conteúdos curtos, ou algo maior mas que possa ser dividido em pequenos capítulos. Pense também que o smartphone não pode ser considerado um livro: a tecnologia exige interações. Podem ser áudios, vídeos, jogos… Tente algo interessante, mas que não faça a pessoa perder o foco. Não ative o compartilhamento social ou incentive que ela busque informações em outro meio que não seja o seu site ou app. Uma sugestão é não permitir que as notificações dos outros aplicativos apareçam quando o colaborador estiver estudando. Elas são gatilhos para levar o usuário a utilizar a rede social ou outro app e, assim, irão se perder do conteúdo inicial.
Falando sobre a questão técnica, existem muitos detalhes que também precisam ser observados. Estamos trabalhando com uma pequena tela de um aparelho que nem sempre está conectado com a Internet. Seu app funciona mesmo sem conexão? Ele salva os dados para o usuário continuar depois o seu curso? Se ele trocar de aparelho, conseguirá baixar seus dados para continuar de onde parou? E os dados do aluno, ficam realmente seguros? A empresa consegue fazer o acompanhamento pelo sistema para verificar o desempenho desse colaborador?
Eu sei, apontando tantos problemas, parece que quero desencorajar o uso dos smartphones e tablets na educação. Mas não é isso. Aliás, sou um dos maiores entusiastas de m-learning no Brasil e acredito no seu potencial, principalmente quando unimos a tecnologia à ferramentas como o storytelling e a gamification. Tornar o aprendizado mais pessoal, interativo e divertido é uma necessidade, e a tecnologia é sim o melhor caminho. Mas não podemos nos enganar: nem tudo vai funcionar no mobile.
Conteúdos muito técnicos podem ficar superficiais se forem ensinados apenas no mobile. Informações muito detalhadas podem se perder em meio às distrações do dia a dia. Conteúdos extensos fatalmente perderão a atenção do usuário.
Acredito que mobile learning é sim uma excelente ferramenta e faz um trabalho único, principalmente como reforço da fixação de conteúdos que já foram ensinados em sala de aula ou durante treinamentos corporativos. No caso do aprendizado inicial, no qual o smartphone seria o primeiro e principal contato com o conteúdo, acredito que ele também é uma ótima escolha, desde que os critérios técnicos e pedagógicos sejam respeitados.
A melhor maneira de enfrentar as dificuldades apontadas e conseguir realizar um projeto de m-learning para seu treinamento corporativo é conhecer as dificuldades já vividas por outros profissionais da área e traçar a melhor estratégia. Observando sua equipe e a cultura da empresa, verifique quais problemas são mais prováveis e já tenha estratégias para evitá-los ou, ao menos, contorná-los. Pesquise também sobre as tentativas bem sucedidas e extraia o melhor de cada experiência. Avaliando todos os pontos de atenção e pensando estrategicamente, certamente teremos o melhor uso possível das novas tecnologias para a educação corporativa.
* Por Luiz Alexandre Castanha, administrador de Empresas com especialização em Gestão de Conhecimento e Storytelling aplicado à Educação, atua em cargos executivos na área de Educação há mais de 10 anos.
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