O blockchain é uma nova tecnologia aberta que apresentou um novo paradigma para a armazenagem e transferência prática e segura de recursos financeiros, ativos, direitos e dados em geral. Composto por elementos conhecidos no mundo de TI, como a criptografia e uma rede de validação descentralizada, já existem mais de 80 instituições (entre bancos e seguradoras) explorando soluções em blockchain através de um consórcio chamado R3. De acordo com pesquisa da Accenture, o uso de blockchain por bancos de investimento deve gerar uma economia de U$ 12 bilhões anualmente em custos operacionais.
Mas não é somente o mercado financeiro que está surfando nesta onda. O Walmart tem um projeto que usa a tecnologia do Hyperledger, recurso colaborativo da Linux Foudation, para rastrear informações do envio de porco, incluindo detalhes de fazenda de origem, números de lote e temperaturas de armazenamento em um blockchain seguro.
Mais recentemente, a IBM lançou uma plataforma tecnológica voltada para o Agronegócio, que possui tecnologia de Blockchain. As tecnologias que constituem a IBM AgriTech permitem resolução de problemas históricos do agronegócio ligados a compliance, gestão de risco, análise de imagens, seleção e planejamento de culturas e transações de crédito rural. Por exemplo, as tecnologias ajudam a estimar a produção e determinar as posições de mercado. Para os varejistas, é possível monitorar a origem dos produtos e a produtividade de seu ecossistema de fornecedores. A solução consolidará informações públicas muitas vezes difíceis de serem encontradas e as deixará acessíveis para os usuários. Além disso, no âmbito privado, também há uma enormidade de dados disponíveis que, respeitando aspectos de confidencialidade, podem ser integrados aos dados públicos para criar uma visão holística de cada setor.
O fato é que independente do segmento, blockchain repercute em toda a cadeia de TI. A IBM, por exemplo, possui linhas de financiamento disponíveis para compradores diretos e distribuidores. Analisando o processo desse serviço, a companhia identificou uma dificuldade para a resolução de disputas, o que fazia com que a empresa tivesse capital alocado sem uso até resolver as questões. Em 2015, havia 35 mil disputas, com um tempo médio de 40 dias para resolução. No início do ano passado, foi estruturada uma rede blockchain a fim de resolver automaticamente as disputas, o que fez cair o tempo médio de resolução da disputa para 2 dias, representando uma economia de US$ 20 milhões. Mais de 60% das disputas passaram a ser resolvidas automaticamente, por conta dos smart contracts, programação da rede blockchain para que opere sem a necessidade de soluções tecnológicas externas e sem interferência humana, o que garante mais agilidade e confiabilidade ao processo.
Além disso, a IBM conta com o Blockchain Lab, garagens espalhadas pelo mundo com o intuito de acelerar o desenvolvimento de projetos usando essa tecnologia. Em São Paulo, existe uma garagem com 10 projetos em andamento. De acordo com Luiz Fernando Jeronymo, executivo para Blockchain da IBM Brasil, essa tecnologia tem um potencial de transformação dos modelos de negócios, processos e cadeia. “Mas é uma tecnologia que está amadurecendo e ainda é muito cedo ter conclusões definitivas”, pondera.
No Brasil, há ainda a Blockchain Academy, que tem o propósito de ser uma rede educativa sobre bitcoin e blockchain com atuação neutra, multidisciplinar e colaborativa. Afinal, por se tratar de uma tecnologia recente, há a necessidade de capacitar as pessoas. Rosine Kadamani, sócia da entidade, acredita num cenário brasileiro favorável ao desenvolvimento e à implementação de soluções. “Agentes relevantes do sistema privado e do sistema público já estão começando a ficar mais familiarizados com o assunto e já temos soluções de primeira qualidade e que otimizam os esforços, como o OriginalMy, sistema criado por um brasileiro especializado em segurança da informação que se dispõe a fazer o registro de quaisquer dados na rede blockchain e a permitir a celebração de contratos pela própria rede”, diz.
Aplicabilidade em diferentes setores
1) Mercado financeiro e de capitais: possibilidade de realização de microtransferências (microcréditos, micropagamentos, microdoações), que hoje é inviável no sistema tradicional em razão dos custos envolvidos; otimização da infraestrutura de remessa de valores; otimização do processo de cadastro e transferência de valores mobiliários e ativos em geral; criação de base de dados compartilhada sobre clientes;
2) Setor de saúde: otimização do fluxo da criação de base de dados e transferência de informações com histórico de pacientes;
3) Setor público: criação de sistemas de votação e de doação de recursos mais transparentes; possibilidade de otimização do sistema cartorário e notarial em geral,
4) Indústria: otimização do processo produtivo mediante registros não corrompíveis das etapas da produção, agregando confiabilidade ao processo;
5) Aplicável a qualquer setor: possibilidade de assinaturas de contrato via blockchain.
Oportunidades e desafios
O mercado avalia que as maiores oportunidades devem advir de blockchains públicos, os quais permitem, com custo reduzido, trazer novas camadas de segurança, praticidade, transparência, imutabilidade e automatização a processos industriais, financeiros e comerciais. Para Rosine, o blockchain público (do bitcoin) tem algumas restrições em relação à escalabilidade das operações. “Há uma grande corrida tecnológica, com mais de 40 soluções que se propõem a fortalecer os blockchains públicos e/ou a apresentar plataformas alternativas”, comenta.
As deficiências do mercado envolvendo fraude e burocracia para armazenagem e transferência de recursos, ativos e dados são os principais targets para uso de blockchain. “O blockchain consegue mitigar as vulnerabilidades e os processos custosos de backoffice, mas ainda é preciso ter mais mão de obra qualificada para lidar com blockchain”, avalia Jeronymo.
Startups de olho no potencial do blockchain
Blockchains públicos tendem a ser mais buscados para segurança quanto à imutabilidade e para ações visando transparência. Blockchains privados podem fazer mais sentido em redes em que a confiança entre os agentes já esteja mais estabelecida.
Público ou privado, o fato é que o blockchain tem inspirado muitos empreendedores brasileiros. Exemplo disso é o OriginalMy, lançado em julho de 2015. Hoje, com mais de 25 mil registros, a plataforma autentica documentos por meio da tecnologia blockchain.
Imagine que o documento original é a chave para acessar o sistema. É através do mesmo que é possível verificar a autenticidade e atestar se você tem em mãos o mesmo documento (ou cópia) registrado previamente. A companhia agora está lançando um aplicativo para assinatura de documentos e contratos utilizando a mesma tecnologia.
“O blockchain traz uma camada de confiança e uma infraestrutura à prova de fraude. É atualmente a única tecnologia capaz de trazer transparência absoluta, auditabilidade, é distribuída e descentralizada e totalmente imparável, impossível de ser derrubada ou ficar fora do ar”, disse Edilson Osorio Junior, fundador e CEO da OriginalMy.
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