O ser humano se move constantemente para se adaptar a mudanças de toda ordem – ambiental, social, econômica – e, assim, sobreviver. Porém, nunca antes nos deparamos com tantos desafios como os que a explosão populacional nas áreas urbanas traz.
Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) até 2030, cinco bilhões de pessoas viverão em cidades, o equivalente a 60% da população. Em 2050, deve saltar para 70%.
Como os moradores do planeta Terra se multiplicaram de dois para 7,5 bilhões, nos últimos 90 anos – o relógio que estima em tempo real a população mundial, em 10 de maio de 2017, às 11h48 (horário no Brasil) somava 7.503.604.678 pessoas – a gestão, a integração cidadãos/governo/empresas e a tecnologia se mostram o caminho para manter a qualidade de vida dos indivíduos.
O fato é que a vida com tanta gente traz muitos desafios: mobilidade, que inclui tráfego, transporte, enchentes; saúde, com a urgência da expansão do saneamento básico, gestão do consumo de água, preservação de áreas verdes, controle da emissão de poluentes. Bem como educação; trabalho; produção e descarte de lixo e de equipamentos obsoletos e moradia. Estudo da ONU dá conta que, no Brasil, 55 milhões de pessoas viverão em favelas em 2020. Isso para citar alguns desafios que vem junto com a urbanização exacerbada, que é bom lembrar não é sinônimo de crescimento econômico e social das cidades.
Foi neste contexto que o conceito de Smart Cities foi pensado. Para o pesquisador, Ph.D. em urbanismo, Boyd Cohen, cidades inteligentes são as que conseguem se desenvolver economicamente ao mesmo tempo em que aumentam a qualidade de vida dos habitantes ao gerar eficiência nas operações urbanas. O enfoque atual é na cidade criativa e sustentável, que faz uso da tecnologia em seu processo de planejamento com a participação dos cidadãos.
Segundo a União Europeia, Smart Cities são sistemas de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para catalisar o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida. Esses fluxos de interação são considerados inteligentes por fazer uso estratégico de infraestrutura e serviços e de informação e comunicação com planejamento e gestão urbana para dar resposta às necessidades sociais e econômicas da sociedade.
De acordo com o Cities in Motion Index, do IESE Business School na Espanha, 10 dimensões indicam o nível de inteligência de uma cidade: governança, administração pública, planejamento urbano, tecnologia, o meio-ambiente, conexões internacionais, coesão social, capital humano e a economia.
Em países em desenvolvimento, como o Brasil, a necessidade de investir em tecnologias eficientes precisa estar na agenda dos governantes. Há muitas soluções disponíveis para melhorar a vida nas cidades. Melhor aproveitamento da luz natural, redes de eletricidade eficientes, redução na emissão de gases do efeito estufa; bueiros inteligentes, já implantados em alguns bairros de São Paulo, contam com software e filtro que otimizam os recursos e minimizam as enchentes. Reaproveitamento da água. Recentemente, tivemos um exemplo claro da escassez de água em nosso país.
Existem sensores capazes de detectar as condições do tráfego e prever com antecedência a formação de congestionamentos, com conexões 3G e 4G que avisam em tempo real os motoristas para que evitem a área. A sustentabilidade implica na colaboração, o que nos leva a pensar em compartilhamento de muitos produtos, como automóveis de uso coletivo. E a analisar a viabilidade de carros dobráveis, que otimizam os espaços urbanos ou semáforos cujo tempo aberto e fechado muda de acordo com as condições do trânsito.
A segurança, sem dúvida, é uma das mais prementes demandas das cidades superpopulosas. Vale lembrar que os conceitos de segurança, defesa e vigilância, bem como a prática de coletar informações do meio passaram por evoluções ao longo do tempo. O advento tecnológico dos últimos anos gerou mudanças substanciais, como mais variedade das informações disponíveis, mais acessibilidade de coleta e a duração perpétua do registro.
Além disso, a utilização de tecnologias cada vez menores e mais sofisticadas para fins de vigilância, prevenção e militarização do espaço urbano é parte da construção dos chamados smart spaces e/ou smart cities (espaços inteligentes e cidades inteligentes, em tradução livre, respectivamente, embora a palavra “inteligente” não reflita, em totalidade, a complexidade presente no termo “smart”). Isso nos leva de volta à definição das smart cities que, de acordo com Kitchin (2014), são redes urbanas complexas e de alta densidade que podem ser gerenciadas a partir da utilização de tecnologias.
Não são, portanto “cidades do futuro”, mas espaços que apresentam diversos desdobramentos sociais e espaciais a partir das conexões criadas por instrumentos digitais. Desse modo, o processo de vigilância também pode passar pelo processo de “tornar inteligente”, sendo então denominado smart surveillance (Hampapur et al., 2003), que se utiliza de tecnologias inteligentes que controlam diretamente o meio. Com relação à privacidade, por utilizar câmeras “smart”, este processo pode ser menos invasivo, uma vez que é orientado para identificar mudanças em padrões de comportamento, não necessariamente precisando identificar cada indivíduo.
O que se sabe, no entanto, é que para garantir a implantação e as melhores soluções, os governos precisam contar com parceiros estratégicos, confiáveis e com grande expertise, que distribuam as melhores tecnologias adequadas às necessidades atuais e, com escalabilidade para suprir as demandas no médio e longo prazo. Esta é a forma mais eficiente de otimizar os recursos financeiros aplicados em sistemas inteligentes nas cidades brasileiras. Tecnologias de conexão 4G, por exemplo, entregues em um mesmo projeto com sensores, câmeras IP inteligentes, sistemas avançados de gestão, e softwares de logística. É um ganho inimaginável, uma vez que a compatibilidade, desenvolvimento, implantação e acompanhamento posterior são realizados de forma coesa.
* Eliandro Oshiro é analista sênior de pré-vendas da Alcateia
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