A distância que separa o Brasil de grandes avanços rumo à indústria 4.0 ainda é grande, apesar de haver muito interesse e debate sobre o assunto entre empresários, cientistas, estudantes e técnicos. O País ainda está longe das potências mundiais que aderiram à modernização e à automação das fábricas, como a Alemanha. “Estamos dando os primeiros passos em relação ao processo de automatização, mas ainda temos muitos entraves pela frente, em um cenário de instabilidade e desconfiança”, aponta Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Embora boa parte dos empresários brasileiros ainda não tenha conhecimento sobre o potencial e a necessidade de se aplicar a digitalização na indústria, conforme identificou pesquisa na CNI são 42%, para Skaf o cenário de desconfiança contribui para a diminuição de investimentos no País. Em entrevista à Infor Channel, o presidente da Fiesp defende a implementação de reformas que melhorem o ambiente de negócios, devolva a confiança aos empresários e acelere o crescimento do País.
“A luta continuará contra o aumento dos impostos, os juros elevados, a precária infraestrutura, a excessiva burocracia, enfim, contra o elevado Custo Brasil, que impede a indústria nacional de ter condições de encarar a concorrência externa de maneira igualitária, de investir em tecnologia e em inovação”, destaca. Leia a entrevista completa com Paulo Skaf abaixo:
Alemanha e Estados Unidos dão prioridade para a manufatura avançada. Como avalia as ações do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços no que diz respeito aos avanços da indústria 4.0?
O mercado alemão é o país em que a quarta revolução industrial está mais avançada, uma vez que é quem mais investe em automação e tecnologia. O Brasil ainda caminha a passos lentos rumo à indústria 4.0, apesar de haver muito interesse e debate sobre o assunto entre empresários, cientistas, estudantes e técnicos.
O Brasil tem condições de pôr em prática o conceito de Indústria 4.0? O que a Fiesp tem feito para incentivar?
A Fiesp tem muito a contribuir para a elaboração e a implementação de uma agenda estratégica para a Indústria 4.0. O cenário de crise torna essa tarefa ainda mais desafiadora, mas é preciso sair da inércia, e podemos contribuir com a proposição de políticas públicas que promovam o investimento e a gestão estratégica de informações, cujos pilares são estudos e análises que ajudam a dialogar com os principais stakeholders, além de aperfeiçoar marcos regulatórios, que resultam na melhoria do ambiente de negócios.
A chegada da Indústria 4.0 assume caráter estratégico em duas frentes importantes: a tecnologia embarcada nesse novo chão de fábrica e a formação de capital humano responsável por operar e gerenciar essa infraestrutura. Por isso, o Senai-SP já está priorizando investimentos em laboratórios e equipamentos nos seus centros de excelência, com ênfase em automação, tecnologia da informação, robótica e segurança da informação, como em sua Escola de Mecatrônica, em São Caetano do Sul, além da adequação de seus currículos, principalmente na área da Metalmecânica.
Também se dá ênfase às pequenas e micro empresas para que acompanhem o cenário mundial quanto à competitividade e capacidade de exportação com o devido suporte em tecnologias de transição para adequar gradativamente suas instalações, máquinas, equipamentos e pessoal técnico. No Senai-SP já são ofertados cursos de pós-graduação em Internet das Coisas (IoT) e Indústria 4.0. Por fim, destaco que para 2017 a rede Senai, em ação conjunta com os demais departamentos da Fiesp, as entidades e as instituições, terá como um de seus objetivos a implementação de tecnologia e inovação para Indústria 4.0, seja ela destinada a empresas de qualquer porte ou setor industrial no Estado de São Paulo.
Na sua opinião, em que estágio a indústria brasileira se encontra na automatização de processos e adoção de tecnologias rumo à indústria 4.0? Qual é o principal desafio para a sua massificação? E os entraves?
Estamos dando os primeiros passos em relação ao processo de automatização. Temos muitos entraves pela frente, um cenário de instabilidade e desconfiança. A necessidade da aceleração da queda da taxa de juros, da manutenção da taxa de câmbio em níveis mais competitivos e de um direcionamento sustentável do problema dos gastos públicos são fundamentais para que a indústria e a economia, como um todo, invertam o quadro no qual se encontram. Porém, é fundamental a implementação de reformas que melhorem o ambiente de negócios, devolva a confiança aos empresários e acelere o crescimento do país. A luta continuará contra o aumento dos impostos, os juros elevados, a precária infraestrutura, a excessiva burocracia, enfim, contra o elevado Custo Brasil, que impede a indústria nacional de ter condições de encarar a concorrência externa de maneira igualitária, de investir em tecnologia e em inovação. Acredito que a transição da indústria 4.0 deverá ocorrer de forma lenta e gradual, pois o nosso desafio imediato é sobreviver a esse período conturbado, porém sem perder o foco no avanço da tecnologia.
Acredita que é possível coexistir modelos diferentes de indústrias? Ou algum deve morrer com a automatização em massa da indústria 4.0?
Toda revolução industrial é um processo de continuidade. Precisará haver mudança governamentais, estruturais e conceituais. Isto não ocorre do dia para a noite. Então, sem dúvida, por algumas décadas os dois modelos coexistirão. Até que todos os espaços das fábricas do futuro tenham sido conquistados.
Qual será o impacto que essa revolução digital terá para os empregos na indústria?
Todos se perguntam sobre o risco de desemprego em larga escala, mas o que de fato a indústria 4.0 traz é uma mudança de perfil do trabalhador. Menos força física, mais conhecimento intelectual. A indústria 4.0 necessita de profissionais com alto valor agregado. Onde víamos pessoas apertando parafusos, veremos profissionais trabalhando em inovação.
Um possível aumento na arrecadação de impostos pode prejudicar a adoção de tecnologias por parte da indústria?
O país como um todo, e os empresários em particular, sofrem com os custos adicionais na economia, compostos pela soma do excesso de tributação, da burocracia para o pagamento de impostos, do elevadíssimo custo de capital, da insegurança jurídica, do custo e da ineficiência da infraestrutura nacional, do câmbio volátil e sobrevalorizado por longos períodos. Esse conjunto de características negativas é o que se apelidou de Custo Brasil. E é este conjunto que gera desconfiança nos empresários e faz com que eles pisem no freio quando o assunto é investimento. Precisamos de estabilidade no país para podermos investir em tecnologia e caminhar rumo a um futuro mais competitivo.
Em evento na Fiesp, o professor da Harvard (Estados Unidos), Sunil Gupta, afirmou que a indústria 4.0 propõe uma transição de produto para plataforma. Por quê?
Com a inovação e o avanço tecnológico, o perfil das indústrias também passará por mudanças. Ao longo dos séculos, as indústrias foram acompanhando as mudanças tecnológicas, de mercado e de mão de obra. Fomos da máquina a vapor e chegamos à era 4.0. Estamos vivendo a quarta revolução industrial. Temos a inteligência artificial, a internet e processos interligados. Sem dúvida, tudo isso causará grandes transformações no escopo da indústria. Haverá transformações de setores e diversificação de negócios e novos serviços.
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