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VADs correm para evitar se tornarem a Blockbuster da 4ª Revolução

Mais que um termo da moda, a transformação digital coloca em xeque muitos preceitos e players consolidados no mercado. Como ninguém pretende ser a Blockbuster da vez, o jeito é correr atrás de inovação e de caminhos diversificados para sobreviver em um mundo em revolução e repleto de meandros fiscais, tributários e de incertezas econômicas. Um dos setores mais afetados e que terá que se reinventar completamente é o da distribuição de TI. Especialmente os VADs (do inglês Value Added Distributors), Distribuidores de Valor Agregado.

Com a evolução do SaaS “Software-as-a-Service” se transformando no XaaS (X-tudo-como-serviço), a comercialização fica completamente diferente, tendendo a eliminar os terceiros de praticamente todas as negociações.

Nesse modelo e, considerando a cascata de impostos brasileiros, a venda direita aos canais ou mesmo aos clientes finais passa a ser fortemente tentadora para os fabricantes. Some-se a isso o processo crescente de automação no atendimento dos distribuidores, que continua se propagando e pode significar perda de qualidade. Esses fatores implicam em muito mais adição de valor a projetos cirurgicamente endereçados às especificidades de cada cliente / projeto.

Caso contrário, para que intermediários?

Nos Estados Unidos esse cenário está mais bem delineado. Distribuidores mono-vendor, sem agregar nenhum valor, comercializam 300 milhões de dólares por ano, com apenas 20 colaboradores e produtividade de 15 milhões de dólares por colaborador.

No entanto, é preciso entender o contexto americano, onde há segurança jurídica e tributária, impostos muito mais simples e baixos, se comparados com os do Brasil. Sem falar nos juros baixos, que reduzem os custos de manutenção de estoques; importações super simplificadas; margens baixas; automação do atendimento e os canais é que têm que ter equipes técnicas adequadas e bem formadas.

Lá, os distribuidores praticamente não agregam valor para os canais, do ponto de vista de pré-vendas, limitando-se a ter “programas de milhagem” com descontos progressivos em função das vendas dos canais e verba de marketing atrelada a esse programa.

No Brasil, caminhamos para esse cenário, que por outro lado abre nichos para distribuidores de valor agregado que consigam atender os canais brasileiros ao apoiá-los no marketing, comercialização, pré e pós-venda. Infelizmente, na média, os canais brasileiros dispõem de poucos recursos técnicos e financeiros e precisam contar com o apoio do distribuidor.

No Brasil, os VADs, os distribuidores de valor agregado, como o nome diz, agregam valor na importação, na análise da tributação mais adequada, no hedge cambial e ainda inserem qualidade técnica aos projetos, o que não é trivial. Ao contrário, exige manter uma estrutura de procurement, importação, logística, fiscal de alta qualidade, bem como estrutura de pré e pós-venda, altamente especializada porque as vendas, cujos ciclos são longos, são consultivas e complexas.

Isso acarreta custos de capacitação contínua, inclusive fora do Brasil, de modo que os colaboradores estejam mais que aptos para atender às revendas e a seus clientes com o que se convencionou chamar de soluções de alfaiataria, sempre com necessidades peculiares a cada projeto.

Além disso, outros três fatores explicam o cenário desafiador da distribuição de TI no Brasil: impostos, taxas de juros e volatilidade do real em relação ao dólar.

A híper especialização necessária aos distribuidores de valor agregado precisa encontrar novas formas de ser remunerada, uma vez que são eles que assumem todos os riscos: de crédito dos canais e seus clientes; de atrasos de pagamentos; de variação cambial, pois compra em dólares e vende em reais; e os riscos tributários, dada a complexidade do sistema de impostos brasileiros, ICMS, Substituição Tributária, Difal, PIS, COFINS, ISS, CPOM’s etc.

VADs ainda precisam de quantidades crescentes de capital de giro para financiar seus canais, às escorchantes taxas de juros brasileiras e frente à oscilação do dólar, cujas variações importantes da cotação levam as empresas compradoras a entrar em compasso de espera. E tudo isso com a menor margem da cadeia de valor.

A importância de se ‘mixar’ soluções e serviços com alto valor se mostra um caminho viável para ampliar a rentabilidade, tanto de distribuidores como das revendas. Diante disso, não há como fugir de investimentos fortes em capacitação; parcerias com integradores reconhecidos e saber articular a oferta de soluções que se complementam de modo a entregar o projeto pronto. Nesse sentido, a busca por mostrar elevados níveis de entrega, faz com que cada vez mais sejamos conhecidos por realizar uma distribuição consultiva, com aporte de inteligência às revendas e apoio para que elas ganhem dinheiro, o que fortalece os laços comerciais e amplia as vendas.

Os serviços especializados também ganham força na batalha para a sobrevivência de distribuidores e canais. Nesse sentido, é preciso manter sempre um relacionamento profissional de alto nível com os clientes, nunca os abandonando após a venda da solução. Estar atento à evolução tecnológica para garantir ofertas excepcionais e, obviamente, ter coragem de abandonar a velha tecnologia, os fornecedores tradicionais por um, tecnologicamente inovador, novo fornecedor.

* Francisco Camargo é CEO da CLM, distribuidora de valor agregado especializada em segurança da informação e infraestrutura de TI

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