É fato que o conhecimento técnico é essencial em qualquer processo de transformação digital, mas é muito comum um erro que custa caro para as organizações: ignorar a perspectiva do negócio na mesma equação. O principal problema é que falta uma estratégia digital única e ainda existe complexidade demais nos modelos atuais de negócios, e a complexidade é um obstáculo natural para a transformação digital. Líderes, desde presidentes até diretores, ainda não se envolvem o suficiente no tema digital, a tecnologia se concentra em silos especialistas e não tem sido uma prioridade corporativa utilizar a digitalização para elevar a produtividade.
Falta especialmente ao empresário construir uma visão digital para o conjunto da organização e isso é fundamental para a competitividade nos próximos anos. Os líderes devem elevar suas apostas digitais para competir com empresas que já executam sua estratégia completamente no campo digital e que vem transformando modelos de negócios existentes e ganhando cada vez mais espaço entre os consumidores.
E esta questão é ainda mais urgente para os que comandam as companhias brasileiras. Entre os países da Europa e América Latina, o Brasil apresenta um dos menores índices de produtividade, em uma escala de zero a dez, aponta o estudo “Latin America 4.0: The Digital Transformation in the Value Chain” produzido pelo Centro de Transformação Digital do gA (Grupo ASSA), sob a direção acadêmica de Raul Katz, diretor de Investigação Estratégica Empresarial da Universidade de Columbia.
Outra conclusão também preocupante: a imensa maioria das empresas latino-americanas ainda não sabe como ganhar dinheiro, gerar negócios e serem mais produtivas apesar dos maciços investimentos feitos em novas tecnologias. As empresas investiram cerca de US$ 130 bilhões em tecnologias em anos anteriores, mas não conseguiram nem avançar nem inovar o quanto esperavam. Neste contexto, crescem pouco e são menos produtivas, aponta o estudo.
Tanto no Brasil como na América Latina a transformação digital é crucial para as empresas. Nos próximos anos a região crescerá em um ritmo mais lento em comparação à década passada, como consequência da baixa mundial dos preços das commodities, o que torna necessário enfrentar o desafio da produtividade e competitividade industrial mediante uma assimilação intensa das tecnologias digitais.
Ainda que a sua adoção seja alta entre as indústrias, o impacto na cadeia de valor continua baixo. Isso ocorre porque para digitalizar a produção não é suficiente o investimento em equipamentos, é preciso demonstrar melhoras na produtividade, combinando a adoção das tecnologias digitais com um trabalho meticuloso de reorganização de processos, reestruturação da organização e capacitação dos recursos humanos. Por si só, a adoção de tecnologias digitais não gera uma melhora nem automática, nem simultânea na produtividade. Por outro lado, o estudo aponta que na visão dos líderes uma estratégia digital combinada com IoT terá um impacto significativo sobre a eficiência organizacional
O cenário que se abre é bastante oportuno para o Brasil e demais países latino-americanos aproveitarem a marcha da digitalização da economia mundial. Os grandes competidores estão mais maduros: a nuvem (cloud-computing) já é uma realidade nas empresas, o software como serviço começa a dominar as decisões das organizações que adotaram a virtualização de sua infraestrutura de TI, e agora as perguntas são mais sofisticadas enquanto todos aproveitam os impactos imediatos.
Hoje, a maturidade do mercado já traz resultados reais de negócios. Foi feito um grande investimento em novas tecnologias SMAC (social, móvel, analytics e nuvem), mas o negócio ainda não viu o real retorno no investimento. Isso ocorre porque a maioria dos projetos foi feito em uma área ou em algum modelo de negócio especifico, sem envolvimento de seus principais líderes em uma iniciativa mais abrangente. No horizonte próximo, a maioria dos líderes e empresários deve se envolver cada vez mais neste tipo de projeto transformacional e, neste contexto, remover barreiras é fundamental para colocar uma estratégia digital em curso. Uma estratégia digital de sucesso tem como mantra a simplicidade e visa a eficiência operacional!
*Fernando Gambôa é diretor senior do gA
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