A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), responsável pelo backbone e conectividade de universidades e institutos federais, vai oferecer serviços de computação em nuvem. Trata-se da consolidação de um projeto que começou há quatro anos, com a adoção de equipamentos pela fabricante Huawei.
“Precisamos de um modelo de negócios diferente do que temos na rede, porque lá o programa é interministerial e o governo custeia a conectividade para todas as universidades. Em TIC, as aplicações são diferentes. Temos que ter um modelo que respeite as diferenças de demanda. Certamente haverá instituições que precisam de 5 mil contas de e-mail, outras precisarão de 50 mil. isso requer uma análise e um modelo de negócios e estamos, agora, nesse ponto”, diz o diretor de serviços e soluções da RNP, José Luiz Ribeiro Filho.
No processo de amadurecimento do projeto de computação em nuvem, a RNP veio tocando pilotos e agora pretende oferecer em larga escala. Como um conjunto de equipamentos foi para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o datacenter lá instalado faz o armazenamento de dados coletados na Floresta. De forma semelhante, há parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, onde está o segundo contêiner da Huawei.
“Fazemos, por exemplo, a hospedagem do sistema de registro digital de obras da ANCINE, numa parceria com a Cinemateca de São Paulo”, conta o diretor da RNP, referindo-se à coleta e análise do conteúdo televisivo para fins de verificação do cumprimento das metas legais, como a relação de propagandas pela quantidade de programação. “A análise é feita no centro de dados que a gente montou para a ANCINE e que usa uma aplicação desenvolvida em parceria com a RNP, a partir de desenvolvimento na Universidade Federal de Campina Grande, que tem um projeto nessa área”.
A aliança tecnológica da Huawei com a RNP começou a ser costurada em 2011. No ano seguinte, a fabricante firmou parceria com os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTIC) e da Educação (MEC), no projeto batizado de Centros de Dados Compartilhado. Os equipamentos – datacenters montados em contêineres com capacidade de processamento de 4 petabytes – foram instalados em Manaus e Recife.
Depois dos pilotos, uma nova oportunidade veio com a demanda de implantação do processo eletrônico nacional nas universidades. O governo busca a padronização por meio do Sistema Eletrônico de informações, que é baseado no programa desenvolvido na Justiça Federal (TRF 4) e vem sendo gradativamente implantado nos ministérios e órgãos da administração federal.
“Essa plataforma começa a ser instalada e o governo se associou à RNP para sermos facilitadores disso junto às universidades. Fizemos a primeira implementação do sistema SEI em nuvem, para a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, e isso já está funcionando. Em seis semanas colocamos no ar o sistema”, lembra Ribeiro Filho.
Como algumas instituições de ensino já usavam outro sistema – desenvolvido na universidade Federal do Rio Grande do Norte – a RNP começou uma experiência com os dois sistemas de processo eletrônico na Federal de Minas Gerais. “Vamos fazer avaliação de resultados e abrir para que qualquer universidade possa escolher”, explica.
Mais armazenamento
A necessidade de armazenamento de dados pelas universidades já seria um primeiro serviço de nuvem. “Uma das demandas identificadas nas conversas com gestores de TI das instituições é por storage. Especialmente agora com o SEI, que gera um volume grande, e que embora seja texto é constante. A cada minuto estão sendo gerados documentos eletrônicos. E as universidades estão desprovidas de recurso para comprar e manter equipamentos para armazenamento. Para os reitores, é uma solução imediata para armazenamento”, aponta Ribeiro Filho.
Paralelamente, a RNP negocia com agências de financiamento de pesquisas ajustes que facilitem a contratação de serviços dentro dos processos naturais de repasse. “Hoje, o pesquisador submete ao edital e tem a parcela do recurso para infraestrutura de TI. Essa parcela ele recebe e vai gastar 3 ou 4 meses para fazer edital, comprar servidores, montar laboratório. A proposta é que essa parcela de recurso, por opção do pesquisador, possa ser convertida em cota de uso da nuvem acadêmica”.
O modelo, lembra o executivo, já é adotado em São Paulo nos aportes feitos pela Fapesp. “Com isso, em duas semanas o pesquisador vai ter acesso às máquinas virtuais, ao ambiente necessário para a pesquisa, e ao final não precisa se preocupar com o que fazer com isso tudo, com o legado. E nem vai ter que se preocupar com segurança ou disponibilidade, porque isso já vem com o serviço. A gente vê aí uma enorme possibilidade. E sem precisar alterar o sistema como o financiamento já é feito”.
A maior escala em serviços de nuvem está diretamente ligada à capacidade da rede gerida pela RNP, que atende mais de 1,5 mil campi e outras instituições de ensino em todos os estados. Essa rede também está sendo reestruturada em um movimento de resposta à demanda natural das instituições, mas também em preparação à substituição completa de infraestrutura até 2020. A rede acadêmica nasceu ainda na década de 1990, mas em meados dos anos 2000 deu um salto ao migrar para fibra óptica, escorada em obrigações impostas à operadora Oi quando da autorização de compra da Brasil Telecom. Agora, a RNP vai usar fibras OPgW do setor elétrico no lugar.
“O grande elemento viabilizador é a existência de uma rede com capacidade. Sem ela não adianta nuvem. Estamos concluindo um ciclo de atualização e vamos para o próximo. Para muitas universidades, conexão de 10 Gbps já não é suficiente. O trecho entre Sudeste e Brasília já vive congestionado. No novo ciclo vamos para múltiplos de 100 Gbps. Temos um acordo já firmado com a Chesf, compramos equipamentos e vamos acender essa fibra e dividir a capacidade com eles. E estamos perto de fechar esse mesmo tipo de acordo com Eletrosul e Furnas”, completa o diretor da RNP.
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