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Porque provavelmente nunca teremos um Steve Jobs brasileiro?

O Brasil tem potencial para ser o celeiro de uma geração inteira de empreendedores e inovações disruptivas focadas em resolver grandes problemas, talvez até mundiais. Ouvimos isso há décadas, e por isso uma das coisas que sempre me perguntam quando falo de empreendedorismo e negócios no país é: quem será o Steve Jobs nascido em terras tupiniquins, que vai mudar completamente o cenário mundial, deixando sua marca na história?

O fato é que empreender no Brasil não é para amadores. Criar um negócio, mesmo que pequeno, requer um alto grau de conhecimento para regras tão complexas que especialistas nem sempre conseguem dar informações corretas sobre problemas simples do dia-a-dia. Eventualmente, todo empreendedor que alcança um certo nível de sucesso acaba procurando ambientes menos hostis para criar o seu negócio, o que quase sempre resulta em brasileiros exilados com jornadas brilhantes em empresas bilionárias – veja o Facebook e o Instagram, ambas empresas com co-fundadores brasileiros.

O maior problema que enxergo na nossa sociedade, e que é o principal motivo do êxodo de pessoas inteligentes do país, é o intervencionismo do estado nas atividades empresariais. No Brasil de hoje – e no de ontem já era assim – precisamos de autorização para vender. O mais simples dos estabelecimentos que fornecem algo ao público precisa, obrigatoriamente, comprar uma impressora fiscal – que é vendida uma ou duas empresas apenas e custa quase dez vezes do que uma não fiscal – para poder emitir os cupons. Quem não precisa disso, envia uma Nota Fiscal Eletrônica a cada venda, mas tem que conversar com a Secretária da Fazenda em tempo real para fazer qualquer tipo de operação.

No caso dos prestadores de serviço, é necessário emitir uma Nota Fiscal Eletrônica de Serviço na prefeitura da cidade sede da empresa — por enquanto. Já fala-se na alteração que vai exigir que empresas como a minha tenham que lançar a nota na sede do município do cliente final. Os meus estão em mais de mil cidades, em todos os estados do Brasil, e terei que criar um departamento exclusivo para fazer esse trabalho (lembre que o processo muda em cada localidade, e às vezes só pode ser feito presencialmente). Para as indústrias, exige-se o SPED fiscal, sobre o qual precisaria escrever um livro só pra explicar. Em linhas gerais, o Governo planeja controlar o seu estoque para saber se você está comprando mais insumos do que vende, ou seja sonegando com vendas “por fora”.

As exigências são muitas, e não param por aí. Vão desde a necessidade de atendimento à regras pouco conhecidas que limitam até o uso do estacionamento, até uma pesada e antiga legislação trabalhista. Como alguém com todas essas obrigações vai competir com uma empresa americana, criar um produto superior, disputar espaço no mercado brasileiro com ela e ainda ganhar lá fora? A chance, se não é zero, é quase nula.

Temos que rever o que queremos para nós e nossos filhos pois, se desejamos ser uma sociedade avançada – talvez até de primeiro mundo algum dia – precisamos mudar completamente a cultura intervencionista do nosso estado. Se não fizermos isso, em poucas décadas estaremos tão distantes do resto da humanidade que seremos vistos como aborígenes.

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