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Consultorias em TIC: bússola estratégica

Mercado de consultorias em TIC é o foco da reportagem abaixo, publicada na edição impressa de Infor Channel de janeiro-fevereiro, que está em circulação
Consultorias em TIC: bússola estratégica

O patamar que a tecnologia da informação alcançou como instrumento estratégico, somado à necessidade das companhias se transformarem digitalmente têm impulsionado a prestação de serviços de consultorias que atuam em TIC.
A área de tecnologia da informação não está mais restrita à atividade de infraestrutura. Ela foi para o front-office e hoje é tão estratégica quanto decisões comerciais. Isto tem mudado o perfil dos executivos que atuam na área e também impulsionado a busca por serviços de consultorias. A economia digital, com migração para nuvem, que é o pontapé inicial para a Transformação Digital, além de automação, indústria 4.0, Internet das Coisas, segurança da informação e adequação à Lei Geral de Proteção de Dados vêm impulsionando a procura por serviços de consultoria.
De acordo com estudo de panorama e tendências do mercado brasileiro publicado pela Abes Software e produzido pela IDC, o segmento de serviços de TIC movimentou, em 2018, US$ 12.828 milhões, sendo que consultoria e planejamento representaram 10,2%, ou US$ 1,312 milhão do total. Em 2018 em relação a 2017, este setor de atividade registrou crescimento de 9,2%.

O Sudeste predomina com maior número de consultores (54,7%), seguido do Sul com 30,9%, Centro-Oeste com 12,2%, Nordeste com 6,7% e a região Norte, com 4,3% em respostas de opções múltiplas

Ao falar do mercado como um todo, Luiz Affonso Romano, presidente da Associação Brasileira de Consultores – Abco, define como consultoria os serviços prestados de forma temporária por consultores profissionais, independentes e externos, que amparam a empresa — acionista, conselho, diretoria, gerência — a prevenir ou corrigir problemas, identificando, analisando e interpretando o real problema para, na sequência, elaborar junto com o cliente os diagnósticos, buscando alternativas adequadas.
Além disto, os consultores acompanham a implementação da solução mais apropriada e estão atentos a novas oportunidades e ameaças. “Os serviços são sempre prestados junto à empresa e que nunca sabe qual é o problema. Temos de entender a dificuldade dele, identificar e elaborar com o cliente o diagnóstico. E não tem isto de ir com o diagnóstico pronto”, ressalta Romano. A Abco calcula que existam 40 mil consultores no Brasil e que boa parte deles — entre oito mil e nove mil — são autônomos ou de micro e pequenas empresas (leia mais no destaque).
Impulsionadores
Felipe Catharino, sócio da consultoria KPMG e líder do segmento de tecnologia, aponta que a migração para nuvem está fazendo com que as companhias contratem consultorias. “Não é pegar o que se tem e jogar na nuvem; e as organizações já estão olhando ir para nuvem de forma estratégica. Isto aumenta orçamento para consultoria”, diz, acrescentando que os consultores têm encontrado três cenários dentro dos clientes. “O primeiro é o ‘lift and shift’(levanta e muda); o segundo é o contain, expose and extend (conter, expor e expandir), ou seja, uma vez na nuvem, consegue usar aplicativos para fazer coisas que não fazia quando estava com sistemas on premise. O terceiro é o refactoring, quando o software é desenhado para nuvem”, explica.
Segurança e adequação à LGPD são outras duas vertentes superaquecidas para a contratação de consultoria. As empresas precisam se preparar e estar em conformidade com a lei que, a princípio, entrará em vigor ainda neste ano. Muitos sistemas de segurança precisam passar por compliance e as empresas precisam contar com um bom regulamento para responder à ameaça, englobando além de software, todos os processos internos. “Mas, mesmo se não houvesse a LGPD, a segurança tem tomado um protagonismo e não é mais uma questão de infraestrutura do departamento de TI. Ela é estratégica, porque vazamento de informação tem consequência enorme e direta na reputação”, aponta Catharino.
“É preciso ter a cultura de olhar para o mercado e trazer de volta o aconselhamento para o cliente e em cima de estudo, pesquisa e número”, diz o consultor independente Anderson Baldin Figueiredo (veja detalhes no destaque). “Vivemos um momento que empresas terão de transformar seus negócios. Isto não tem retorno. E talvez fosse bom momento de contratar consultoria para entender o que está acontecendo no mercado e ajudar, porque vai ser transformado o jeito de fazer e ninguém está preparado”, acrescenta.
Para Marcia Ogawa, sócia-líder de telecomunicações, mídia e tecnologia da Deloitte, o mercado de consultoria está em ascensão devido à economia digital. “O mercado da tecnologia incorporada ao negócio está em ebulição, com IoT e analytics demandando produção de tecnologia e não somente a aplicação de tecnologia”, diz.
A economia digital, que força a digitalização das empresas, tem gerado, segundo Ogawa, muitos projetos de melhoria da experiência do cliente e omnichannel, digitalização interna das operações, adoção de robótica e Inteligência Artificial. “Quatro pilares de competências que têm sido demandados pelas empresas são negócios, tecnologia, analytics e design da experiência de usuário. E, também, a combinação e a sinergia entre eles”, conta.
Empresas dos segmentos financeiro, de telecomunicações e de consumo são as que estão se movendo na frente, passando pelo processo de digitalização e puxando o mercado. Para Ogawa, companhias de grande porte demandam consultorias como a Deloitte, mas as pequenas e médias também estão sendo impactadas pela nova industrialização e precisam se reinventar.
As consultorias têm de focar no negócio do cliente e apontar os rumos e a jornada dessa transformação, sendo agnósticas a tecnologias e a fornecedores. “Usamos o que faz mais sentido para impulsionar o modelo de negócios do cliente. Estamos menos interessados na infraestrutura atual e mais aonde ele quer chegar”, ressalta Catharino. A KPMG soma cerca de 300 sócios no Brasil e 4 mil funcionários entre consultores, auditores e analistas de mercado. O executivo destaca que entender o macrocenário é essencial para direcionar as estratégias de tecnologia.
Ogawa acrescenta que enxerga uma demanda grande por parte de empresas que ainda estão “um pouco perdidas” para passar pela jornada de Transformação Digital. Desta forma, as empresas têm recorrido às consultorias para elaborarem seus projetos estratégicos. A Deloitte atua em diversas frentes: consultoria estratégica, análise de mercado e serviços. Esta última trabalhando na definição de arquitetura e estratégia de TI, além de implementação, tendo um papel de integradora de tecnologias. “Novas tecnologias deixam CIOs perdidos sobre desenho de arquitetura. Eles tinham receita de bolo com ERP e CRM, mas hoje no mundo de nuvem é diferente”, explica.
Mudança no perfil é realidade
Ao longo das décadas houve uma mudança no perfil das consultorias. Os grandes escritórios deram lugar a empreendedores individuais. Luiz Affonso Romano, presidente da Associação Brasileira de Consultores – Abco, diz que a entidade calcula que existam 40 mil consultores no Brasil e que boa parte deles — entre 8 mil e 9 mil — são autônomos ou de micro e pequenas empresas.
O próprio Romano é um exemplo da transformação do mercado. “Quando eu comecei, tínhamos metros quadrados, mas agora tendo celular e notebook você consegue dar consultoria. Hoje o mercado é totalmente diferente, onde consultores que trabalham sozinhos, não têm sócios; trabalham em home office ou coworking”, conta.
No mercado de TIC, Anderson Baldin Figueiredo é um exemplo clássico de consultor independente. Atuando na área de TI e telecom desde 1978 e depois de passar por grandes empresas, ter tido uma empresa de desenvolvimento (software house) de automação bancária e atuado na consultoria IDC, ele aproveitou sua rede de relacionamento e seguiu como autônomo. “Sempre tive facilidade de falar em público e de escrever e estas coisas acabaram me levando para a IDC, onde fiquei por seis anos e saí em 2013”, conta.
Entre os desafios dos consultores independentes estão: criar uma carteira de clientes, conquistar a confiança das empresas e fazer com que elas valorizem o profissional mais que o ‘sobrenome’ de um grande grupo que represente. “É fazer as empresas acreditarem que o consultor individual que eles conhecem não perdeu o conhecimento e a experiência e que o trabalho vai ser do mesmo jeito [ao que era quando estava em uma empresa]. O segundo desafio é os caras entenderem o valor que tem o trabalho de consultoria”, aponta. Do outro lado, ao contratar um consultor individual o trabalho pode ser muito mais personalizado, já que ele dispõe de uma independência maior.
A Abco realiza uma pesquisa sobre o perfil das consultorias no Brasil. Os resultados da última edição, de 2018, apontaram que a tendência neste setor é de formação de parcerias entre consultorias e consultores para realizar projetos e não mais formação de sociedade. As mulheres representam 40% do mercado total de consultores brasileiros e a faixa etária de até 40 anos tem aumentado a presença. “Hoje, você tem uma participação muito grande dos jovens e, no passado, não era assim. O emprego acabou, então, vemos jovens entrando e o pessoal de mais de 50 anos permanecendo. As pessoas seniores não querem ficar paradas em casa”, detalha.
Quanto à área de atuação, a pesquisa apontou que as principais são relacionadas à gestão de negócios, treinamento, planejamento, diagnóstico, finanças e gestão de processos. O Sudeste predomina com maior número de consultores (54,7%), seguido do Sul com 30,9%, Centro-Oeste com 12,2%, Nordeste com 6,7% e a região Norte, com 4,3% em respostas de opções múltiplas.
As empresas do segmento de serviços, seguidas pela indústria e pelo comércio são, segundo a pesquisa da associação, as que mais demandam consultoria.

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