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Blockchain está na pista para decolar

A tecnologia que todo mundo diz conhecer, mas que na verdade pouca gente sabe o seu real significado, começa a ensaiar voo. Ainda não é algo hype ou popular - nas esferas corporativas, claro! Porém registra avanços
Blockchain está na pista para decolar

É sintomático, De cinco anos para cá as perguntas-chave ao redor de Blockchain têm se alterado e surgem exemplos de investimentos concretos. Mas o que falta para que alçe voo de vez? Infor Channel conversou com fornecedores e consultorias para entender e passar para nossos leitores o cenário no Brasil e como a tecnologia pode resultar em negócios e agregar novas oportunidades em implementação de plataformas de negócios agora e em um futuro bem próximo!
Em 2015, os executivos de grandes empresas ainda confundiam Blockchain com Bitcoin e buscavam ajuda para esclarecer inúmeras dúvidas: do que se tratava a tecnologia; para que servia; quais os riscos envolvidos e como adotá-la. De dois anos para cá, contudo, as perguntas mudaram. “Agora, o que o mercado que saber é mais concreto, algo como: posso reduzir riscos em transações financeiras com Blockchain? ou posso lançar um serviço que viabilizará mais negócios com múltiplos parceiros?”, explica Ricardo Polisel, diretor de estratégias da Accenture. Questionamentos como estes, efetivamente, extraem mais valor e interesse real pela tecnologia.
A partir do panorama atual, o ambiente parece mais acolhedor para novos projetos e este é um momento-chave, de maior clareza na definição do uso e aplicação da ferramenta. “Grandes empresas estão se movimentando para a criação de soluções e consórcios intersetoriais, sendo um ótimo sinal para o mercado e para o Brasil como um todo”, avalia Carlos Henrique Duarte, líder de serviços de consultoria para Blockchain na IBM na América Latina. Veja mais no destaque Brasil x outros países.
Uma visão semelhante é comungada por Rodrigo Pimenta, CEO da Hubchain Technologies, empresa com especialização em plataformas como Blockchain. Para ele, a tecnologia é encarada como uma alternativa real para soluções elegantes, eficientes e de menor custo. “Acredito que os investimentos triplicarão até 2022, basta ver os projetos em andamento no Brasil”, conclui. Leia abaixo em Iniciativas em andamento.
A demanda por pedidos tem como fonte primária as áreas de inovação, de tecnologia, ou mesmo polos setoriais que buscam tecnologias disruptivas – palavra que significa tudo ou mesmo nada. No entanto, para conseguir recursos, o olhar focado em inovação é mais assertivo.

Utilizamos uma plataforma aberta, com ferramentas que agilizam o desenvolvimento e a operação de novas redes, além de um arcabouço de tecnologias que podem suportar qualquer tipo de implementação, como IA, IoT, RPA e BPM, entre outras  

Maduro ou ‘verde’?
Será que a evolução dos questionamentos para a prática já tem boa escala? A notícia boa é que os executivos ouvidos notam um aumento crescente na maturidade com que as empresas estão empregando Blockchain, seja no lançamento de serviços e produtos ou mesmo na ampliação de serviços existentes. “Em muitos casos, a orientação não está mais na tecnologia em si, mas em como gerar novas fontes de receita com base em Blockchain. Afinal, para o consumidor não importa se o serviço que utiliza está baseado na tecnologia x ou y; isso deve ser transparente para ele”, admite Polisel, da Accenture.
Então, se o mercado está se tornando maduro, teremos mais e melhores oportunidades para todos, certo? Quase isto! Os fornecedores com experiência e qualificação terão papel fundamental neste jogo. Os clientes vão buscar esse conhecimento para que os projetos sejam entregues com maior qualidade e eficiência.
“Há um cenário de fornecedores maduro; não em quantidade, mas considerando as poucas empresas que possuem foco em soluções 100% Blockchain – sem incluir as casas de criptomoedas e bitcoins, ou meios de pagamentos –, que têm presença ativa e possuem laboratórios de pesquisa e desenvolvimento dedicados ao tema”, aponta Pimenta, da Hubchain. Melhor, é possível perceber um número crescente de equipes específicas e dedicadas dentro das próprias instituições e empresas, mesmo que ainda usando soluções ‘standard’ de Blockchain.
Um exemplo de ‘não standard’ é o conceito de identidade digital descentralizada – ou autossoberana – base de uma solução colaborativa e virtual, desenvolvida pelo Cpqd no Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas – Lift e coordenada pelo Banco Central. Na prova de conceito – PoC, a nova solução, que recebeu o nome de Sistema de Identidade Digital Descentralizada – FinID, terá o relatório final do trabalho publicado agora em março.
José Reynaldo Formigoni, gestor de Soluções Blockchain do Cpqd, explica que, de acordo com esse conceito, o próprio dono da identidade digital é o responsável pelo controle e gestão dos seus dados, o que é compatível com a Lei Geral de Proteção dos Dados Pessoais – LGPD, com previsão de entrar em vigor em agosto deste ano. “A identidade digital descentralizada é composta por várias credenciais eletrônicas emitidas por diferentes identificadores participantes (também chamados de agentes), que fazem parte de uma rede Blockchain”, acrescenta.
Saindo totalmente do modo básico, os fornecedores oferecem um mundo de possibilidades no universo Blockchain. A IBM, por exemplo, assegura que possui uma oferta fim a fim distinta, com profissionais experientes tanto na entrega dos projetos quanto nas indústrias e processos de negócios. Conta com especialistas dedicados aos projetos desde a fase de planejamento, análise de viabilidade, desenvolvimento e suporte. “Utilizamos uma plataforma aberta, com ferramentas que agilizam o desenvolvimento e a operação de novas redes, além de um arcabouço de tecnologias que podem suportar qualquer tipo de implementação, como IA, IoT, RPA e BPM, entre outras”, garante Duarte.
Já para a Hubchain Technologies, uma solução específica mesmo, como a voltada para bancos digitais, chamada de ‘white label’, envolve: cartão de crédito, POS e ATM, e pode chegar às corretoras de criptoativos.
Blockchain é usada em sua totalidade na cadeia produtiva, onde segurança, identificação e rastreamento de produtos de trâmite complexo são essenciais. Há aplicação para o controle de registros, fases e lotes de produção nos mais diversos segmentos: do financeiro ao logístico, passando por varejo e agropecuário, indo até as vias de aprovação da Anvisa, Ministério Público, Receita e Polícia Federal, e prontuários médicos. Um exemplo é do da Cannabis-CDH para uso medicinal entre muitas outras utilidades e soluções, sendo a mais curiosa a Gestão de Cemitérios Descentralizada em Blockchain, ou RIPChain.
Em 2015, os executivos de grandes empresas ainda confundiam Blockchain com Bitcoin e buscavam ajuda para esclarecer inúmeras dúvidas: do que se tratava a tecnologia; para que servia; quais os riscos envolvidos e como adotá-la. De dois anos para cá, contudo, as perguntas mudaram 

Parceiros da corrente
Para a IBM, por exemplo, o canal de distribuição ocupa um papel-chave no que diz respeito à viabilização das soluções, integrando plataformas e oferecendo uma diversidade fundamental para o surgimento de novas redes Blockchain. “Temos trabalhado principalmente com canais que possuem aplicações próprias, que possam trazer um diferencial para a necessidade de nossos clientes”, conta Duarte. A companhia mantém o Open Ventures, programa que inclui startups com soluções especializadas, que dão flexibilidade para compor projetos completos, únicos e eficientes. “Sem nos esquecer dos integradores que podem construir soluções com agilidade, utilizando o que temos de melhor em termos de ofertas”, completa.
Parceiros que conseguem de maneira ágil solucionar problemas potencializando a criação de novas redes possuem um grande diferencial para a IBM. Segurança, neste sentido, é um ponto fundamental, no qual canais especializados agregam muito valor, assim como especialistas em meios de pagamento e em diferentes indústrias. “Supply chain, transporte, saúde e seguro são setores-chave para a execução de nossa estratégia, de acordo com a abordagem de que a tecnologia Blockchain não se encontra restrita à transação de um tipo único de ativo ou indústria”, enumera.
Na Accenture, o item segurança também tem seu peso. Até porque como a tecnologia Blockchain para soluções na vida real é algo bem recente, surgiu a figura dos ‘hackers white hats’, que ajudam a identificar e a corrigir possíveis pontos de falhas. No entanto, Blockchain é somente uma das tecnologias utilizadas para uma solução completa. “Com isso, especialistas tradicionais em segurança nos ajudam a melhorar um processo, bem como os enriquecemos com informações, em um eterno aprendizado e ganhos significativos de conhecimento”, aponta Polisel.
Outro movimento concreto é o da Hubchain, que criou a Capacitt, uma escola especial para formação e capacitação de novos talentos em Blockchain, AI e IoT. A proposta é qualificar profissionais de alta performance para diversas áreas de TI, e não só para trabalhar na empresa, como também para desenvolver o setor e auxiliar outras grandes empresas na obtenção de mão de obra qualificada. “A principal responsabilidade e desafio estão em identificar se Blockchain deve ser utilizada ou não, pois nem sempre ela é a solução de todos os problemas”, alerta Pimenta.
Vender pra quem?
Ao contrário do que se imaginava, a vertical de Serviços Financeiros não está mais na liderança isolada dos projetos com Blockchain. Varejo, Bens de Consumo, Agronegócio e Energia já têm iniciativas inovadoras orientadas à geração de novas receitas, nas quais Blockchain é um dos componentes, como deveria ser, e não mais a motivação principal dos projetos. A Accenture no ano passado, por exemplo, desenvolveu um serviço de comercialização de energia solar, que ajuda a ligar diversos parceiros de negócio, tendo Blockchain como a tecnologia-base.
A pluralidade de projetos e de setores da economia também é vislumbrada pela IBM, entre eles, o Público, Óleo e Gás, Telecomunicações, Varejo, Farmacêutico, Mineração e Financeiro. Em comum: todas buscam soluções diferenciadas para o uso da tecnologia e têm como motivador a aproximação de atores dentro das redes de negócio, utilizando um ‘barramento de confiança’, que não existia antes.
É fundamental que, além do conhecimento tecnológico, os decisores estejam mais atentos ao potencial de negócio e às interações e integrações possíveis com a tecnologia. Ainda há muito ruído com relação a padrões e conceitos, mas hoje os clientes necessitam de gente que entenda as repercussões do ponto de vista do negócio  

Blockchain é o futuro. “Temos visto grandes instituições, corporações e governos se movimentarem na criação de equipes multidisciplinares para entender, desenvolver e implementar provas de conceito e, até já colocar em operação soluções envolvendo tecnologia Blockchain na versão standard”, garante Pimenta. Traduzindo: o interesse ainda é no Blockchain focado em administração de tokens, ativos financeiros e uma espécie de cartório de registros de dados pessoais, inventários, dispositivos para disponibilização da informação comum entre órgãos, departamentos e entre países.
A curto e médio prazo fará muito sentido utilizar Blockchain-as-a-Service, BaaS, principalmente em open banking, cash back e fidelidade, além de hubs financeiros (Corda/R3, Hyperledger, Quorum). A longo prazo, a previsão é de seu uso, em massa, na simplificação de cadeias de processos burocráticos de Governo e na Saúde.
Brasil x outros países
Dentre os países que mais se destacam no uso da tecnologia estão a China, os Estados Unidos e a Austrália. Ao olhar para eles, o Brasil está atrasado na adoção mais abrangente de Blockchain, enfrentando uma resistência de colaboração entre empresas distintas. Blockchain é um esporte de equipe e parece que os executivos brasileiros querem tentar jogar sozinhos!
É fundamental que, além do conhecimento tecnológico, os decisores estejam mais atentos ao potencial de negócio e às interações e integrações possíveis com a tecnologia. Ainda há muito ruído com relação a padrões e conceitos, mas hoje os clientes necessitam de gente que entenda as repercussões do ponto de vista do negócio. Para Duarte, da IBM esta é a próxima barreira que deverá ser transposta por fornecedores, desenvolvedores e clientes. Portanto, para que ocorra uma adequação aos maiores investidores globais, ainda há uma boa estrada pela frente.
Iniciativas em andamento
Saiba quem promove, implementa e o estágio de alguns dos projetos em gestação ou em início de produção em Blokchain:
-CIAB Febraban – projeto com Corda R3 e projeto DNA, com Hyperledger.
-Banco Central – A Câmara Interbancária de Pagamentos tentou, porém desistiu de um projeto com boletos, mas continua estudando; e Projeto para Pagamentos Instantâneos (sandbox regulatório), assim como lançou a primeira rede Blockchain do Sistema Financeiro Nacional.
-Vivo – Divulgou ter a terceira maior rede Blockchain do mundo para tracking de equipamentos e dispositivos.
-Bancos Digitais 100% Blockchain – P2Ebank, Pitaia.
-Votação – eleições – em estudo.
-Cartórios Digitais – em gestação para o registro de títulos, propriedades e direitos autorais, alguns registros médicos, cadeias de suprimentos e contratos de seguros de forma geral.
Tem boi na linha…ou no bloco
O preço da carne bovina subiu, mas não é por falta de tecnologia. Com o objetivo de integrar os diversos atores da cadeia de produção da agroindústria, de uma forma simples, flexível e, principalmente, com confiabilidade e segurança, entrou em campo a Blockchain. Projeto que envolve o Cpqd e a empresa Safe Trace, especializada em rastreamento na cadeia produtiva de alimentos, com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial – Embrapii, é o primeiro do gênero baseado nesta tecnologia para o Agronegócio brasileiro.
Batizado de Agro Trace Chain, o projeto permitirá a evolução do protótipo, ou produto mínimo viável – MVP, da solução de rastreabilidade da carne bovina que, durante seis meses, passou por testes de desempenho e análise de mercado. “A intenção agora é ganhar escala, ampliar as aplicações e atender a novos requisitos dos clientes, como a conformidade socioambiental das propriedades e a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – LGPD”, exemplifica Vasco Picchi, diretor de novos negócios da Safe Trace.
Para assegurar a procedência e a qualidade o sistema desenvolvido cria uma identidade digital baseada em Blockchain, na qual cada boi passa a ser rastreado. É por essa identidade que as informações sobre o animal, a formação de lotes de produção, movimentações, dados sanitários, qualidade e transformação em produtos são trocadas entre os diversos atores dessa cadeia – o que envolve desde a produção na fazenda, o processamento na indústria (quando ocorre a identificação de cada uma das partes do boi), até a disponibilidade da carne no varejo. Com isso, cria-se uma trilha de auditoria, confiável e segura, da procedência do animal.
Picchi revela ainda que a rede Carrefour vem usando o sistema desde março de 2019 para fazer a rastreabilidade de carne suína. E a meta do MVP é chegar a mil transações por segundo, com tempo de validação na rede Blockchain em até dois segundos.

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