Após registrarem um crescimento de 32,5% em 2019, disponibilizando mais acessos de banda larga que a maior operadora do País, conforme dados da Anatel, os provedores regionais de Internet passam por um momento único, que deve se estender pelos próximos anos e acelerar sobremaneira a competição e a concentração no setor. Toda essa movimentação força as empresas a adotarem novos patamares de profissionalismo, particularmente quanto à sua gestão.
Significativa há anos, a expansão do segmento ganhou, em 2020, novas dimensões a partir de uma combinação de fatores. O principal foi a Covid-19. O isolamento social, que forçou boa parte dos profissionais a trabalharem de suas casas, fez a contratação de acessos de banda larga junto a provedores regionais saltar 43% entre março – início da pandemia – e setembro, segundo a Abrint (Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações). A tendência não irá recuar tão cedo.
Crescente há anos, o home office tende a se tornar usual, mesmo após a pandemia. Muitas empresas descartam a reativação de pontos físicos, enquanto profissionais passam a considerar boa parte dos deslocamentos que realizavam para o exercício de suas atividades como desnecessária. Os pequenos provedores, que já respondiam pela maior parte dos novos acessos, concentrarão ainda mais as demandas por novas e melhores conexões.
Esse quadro, que aumentou ainda mais as já elevadas perspectivas de crescimento do setor, dá-se num momento raro da política monetária nacional. Historicamente, o País sempre teve uma das maiores taxas de juros do mundo, o que fazia investidores de todos os portes terem a renda fixa – atrelada a títulos públicos – como principal escolha. Com a Selic em 2% ao ano, as opções do segmento passaram a ter rentabilidade real negativa, o que faz o capital migrar para a economia real.
Por conta da crise, poucos segmentos respondem aos efeitos positivos da atual taxa de juros. Dentre esses, o de pequenos provedores é dos que mais se destacam. Cortejadas há tempos por grandes operadoras, essas empresas passam a interessar a investidores de todos os portes, desde os profissionais e institucionais, que adquirem participações acionárias, promovem fusões e realizam aquisições, até os pequenos, que ingressam como cotistas em fundos de private equity. O movimento impulsiona a melhoria e ampliação dos serviços, estabelecendo novos patamares de competição e de exigência dos consumidores.
Um ponto fraco comum a muitos provedores de pequeno porte é a gestão, que pode comprometer tanto existência da empresa quanto a concretização de ofertas de interessados em aquisições ou na realização de aportes financeiros. Geralmente, o empreendedor do segmento é alguém que começa o negócio sozinho e vale-se de capacitação técnica e conhecimento tecnológico para compensar pouco ou – por vezes – nenhum preparo quanto à administração da empresa.
A natureza da atividade, que permite a ampliação da base de clientes sem investimentos proporcionais em tecnologia e pessoal, faz com que a gestão fique em segundo plano, até que suas falhas comprometem a parte operacional do negócio, gerando má-reputação facilmente disseminada pela área de cobertura de sua rede.
Esses problemas tornam-se críticos quando as carteiras chegam à primeira centena de clientes. É aí que a gestão e mapeamento de redes, carteiras, planos distintos, integração de tecnologias, cobranças, contratos, tributos, suspensão de serviço a inadimplentes, dentre outros tornam-se inexequíveis sem o uso de um sistema de gestão adequado à atividade.
Além de comprometer a parte operacional, a falta de uma gestão adequada pode resultar na desistência de investidores interessados em fazer aportes ou adquirir a empresa, situação que o momento vivido pelo setor torna comum. Parte significativa de fusões, aquisições e incorporações naufraga no processo de due diligence, principalmente por conta da parte contábil, e a falta de comprovantes de movimentações financeiras. Mesmo quando as redes e carteiras têm porte, interessados desistem por conta de passivos resultantes de má-gestão.
Seja no auxílio à equipe contábil, administração da parte operacional ou no controle financeiro, o investimento em um software de gestão é, dependendo do porte do provedor, tão ou mais fundamental que a parte tecnológica. É a ferramenta que possibilita o controle adequado de equipes, parte financeira, tributária e dos planos, sem o que não se sobrevive mais no mercado. O momento atual gera oportunidade de ganhos significativos para quem atua no setor acompanhando seus novos patamares de profissionalismo.
Por Fabio Vianna Coelho, sócio da RadiusNet e da Vianatel
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