Após anos de trabalho remoto, o papel do escritório mudou fundamentalmente, levando o mercado a reconsiderar a verdadeira finalidade do local físico de trabalho.
Não é surpresa para ninguém que o mercado sofreu um choque em 2020 devido às restrições impostas pela pandemia, quando o trabalho remoto deixou de ser apenas um benefício e se tornou uma necessidade ao redor do mundo. Mas, mesmo antes disso, diversas empresas já experimentavam com essa tendência. Startups conhecidas e de renome, como o Airbnb, adotaram um modelo que mantém até hoje, com os colaboradores podendo viver e trabalhar de qualquer lugar do planeta. Outras como a Allstate, gigante de seguros norte-americana, optaram por vender a sua sede de mais de 600 mil metros quadrados, que existia há décadas, uma vez que 83% dos seus funcionários passaram a trabalhar remotamente após 2020.
Se por muito tempo não houve dúvidas sobre o propósito dos escritórios, atualmente o dilema sobre o local de trabalho ideal tem intrigado os executivos e o mercado como um todo.
Mudando o paradigma dos escritórios
Antes dos computadores portáteis, dos smartphones e da internet, a empresa era o local em que os colaboradores iam para trabalhar em conjunto na mesma sala. Ali, também, socializavam com seus pares e era onde os gestores mantinham um olhar atento sobre as equipes. O objetivo de um escritório era claro: instituir e consolidar uma cultura organizacional que otimizasse a produtividade, a proximidade entre a equipe e permitisse que as empresas mostrassem status, colocando o seu nome em um edifício que destacasse sua marca.
O trabalho remoto mudou tudo isso, dissociando a gestão da obrigatoriedade do trabalho presencial e acelerando a desvinculação dos profissionais do escritório graças à utilização da tecnologia. Antes de 2020, as equipes já estavam mais distribuídas, mas o momento mundial acelerou uma tendência que era implementada aos poucos à prática. Segundo a pesquisa Tendências e Perspectivas do Trabalho, realizada pela WeWork, 95% dos colaboradores acreditam que a flexibilidade é um fator decisivo na hora de aceitar um emprego, e 78% dos entrevistados afirmam que trocariam de empresa devido a questões envolvendo o modelo de trabalho.
Nos últimos anos, muitos locais de trabalho passaram a existir em um purgatório de modelos diferentes. Na prática, a mudança para o trabalho virtual significou revisar e repensar décadas de práticas presenciais já estabelecidas e concretizadas na cultura empresarial e no mercado de trabalho.
E é nessa reflexão que está a divisão de opiniões: se por um lado existe a real necessidade de repensar os deslocamentos desnecessários e morosos, além das infinitas reuniões que podem ser feitas online, por outro há a questão de ter um time próximo, seja por necessidade ou por pura nostalgia gerencial, além da discussão de como fazer os colaboradores cumprirem os compromissos exigidos, especialmente em posições executivas.
Ouvindo a equipe
Embora muitos funcionários queiram um local para trabalhar que não seja seu próprio apartamento – e muitos concordam que estar fisicamente com colegas ajuda a construir relacionamentos mais próximos, facilita a colaboração e acelera determinados trabalhos – a questão não é tão simples. Não há consenso entre trabalhadores e gestores sobre com que frequência – ou onde – esse tempo juntos deve acontecer.
Vale destacar: as empresas não devem ser surdas. Nesta era de crescimento impulsionado pela tecnologia, espera-se que os líderes aproveitem o poder do mundo digital e da análise. Muitos estão repensando o funcionamento dos espaços presenciais ou abrindo mais espaço para reuniões e socialização dentro e fora dos ambientes fixos.
Trata-se de tornar a vida das pessoas melhor! Essa é a promessa quando pensamos em tecnologias aplicadas ao ambiente de trabalho. Se você, líder, desvencilhar as pessoas da mesa e orientar os gerentes a repensarem o que significa ou não ser produtivo, os colaboradores poderão se adaptar a uma variedade muito maior de espaços.
Entretanto, para que modelos de trabalho diferenciados funcionem, é necessário que os advisors de tecnologia e as empresas se empenhem em uma medição de resultados assertiva. Só então será possível usar a tecnologia para implementar a próxima melhor ação ou ferramentas que possam otimizar o tempo do time de forma eficiente – e sem as temidas reuniões presenciais desnecessárias. A tecnologia aqui é essencial para garantir o trabalho remoto, proporcionando colaboração entre todos os envolvidos no projeto por meio da Nuvem, não importando sua localização geográfica.
Em um momento de transição como o que vivemos, experimentar e aprender são primordiais para todos os envolvidos. Apenas assim poderemos evoluir em nossa forma de pensar para acompanhar as necessidades do mercado e dos colaboradores, um benefício que irá se refletir tanto na empresa como no sucesso e bem-estar das equipes.
Trabalhos de escritório e leitura de e-mails não exigem presença física na sede da empresa. Mas há profissões e posições que, sim, se beneficiam do presencial e exigem que as pessoas estejam juntas com regularidade. Esse equilíbrio requer um grau de flexibilidade ao qual o mercado de trabalho ainda está se adaptando.
Seja por meio de IAs, implementação ou gestão humanizada da equipe, a construção de relacionamentos profissionais está muito pautada em ecossistemas colaborativos, integração de ferramentas, comunicação digital assertiva e otimização de tarefas em grupo. Mas, no fim das contas, repensar onde os escritórios estão localizados, como são projetados ou com que frequência são usados não significa que eles não sejam necessários. Está na hora de repensar esse cenário.
Por Alline Antóquio, diretora executiva na Gentrop.
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