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Data Science é a “joia da vez” entre tendências de M&A nas empresas de tecnologia

A competência em Data Science e Inteligência Artificial ganham relevância para investidores, mas tendência de informalidade do trabalho atrapalha acordos de M&A

Data Science é a “joia da vez” entre tendências de M&A nas empresas de tecnologia

As principais tendências em M&A são motivadas pela necessidade de expandir a presença no mercado e ganhos de escala. Nesses processos, os valores intangíveis ganham destaque, ressaltando a importância de uma análise isenta e avaliações imparciais para garantir um posicionamento estratégico diferenciado. É o que explica Omar Tabach, Managing Partner da TGT ISG, empresa de consultoria e pesquisa de fornecedores de serviços em tecnologia no Brasil.

“A empresa deve possuir os meios necessários para atingir essas estratégias, que vão além de receita e rentabilidade, incluindo uma base sólida de clientes e diferenciais competitivos, assegurando os resultados futuros”, comenta Tabach. “Embora os números passados determinem o valor inicial de uma empresa, é a capacidade de executar a estratégia que garante o sucesso futuro. É isso que os analistas observam: a competência para assegurar o crescimento e a sustentabilidade da empresa”.

De acordo com Dados dos estudos ISG Provider Lens, entre as mais de 700 empresas analisadas nos estudos do último ano, das empresas líderes, 47% são nacionais, o que demonstra a relevância destas empresas no mercado brasileiro. Para as empresas que pretendem ser vendidas, uma dimensão crucial da análise é identificar aquelas com grande potencial de crescimento no mercado, o que envolve uma avaliação detalhada das capacidades técnicas, de gestão e suas estratégias empresariais.

No setor de serviços, é comum haver informalidade, com muitas empresas contratando funcionários como PJ (Pessoa Jurídica) ao invés de CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), o que, de acordo com Frugis, é um fator crítico para a avaliação da atratividade para as empresas nacionais em processos de M&A  

Atualmente, investidores internacionais estão olhando também para empresas de serviços de tecnologia. Segundo Rafael Frugis, sócio da igc Partners, empresa de assessoria para M&A da América Latina, em 2019, os fundos de investimentos e grandes empresas globais começaram a olhar o setor de “IT Services”, com foco em consultorias de desenvolvimento de software. Já em 2024, o foco está nos players com habilidades em Data Science e Inteligência Artificial.

“Data Science e IA são as joias do mercado. Todos os fundos de investimentos e players estratégicos globais que olham serviços de TI normalmente priorizam esta área. Já fizemos dois negócios assim neste ano: um deles foi o primeiro investimento da Columbia Capital no Brasil, um fundo de private equity americano focado em tecnologia, que investiu 40 milhões de dólares na Indicium e, o outro, foi um ‘acqui-hire’. Ambas as transações foram muito disputadas por diferentes players, o que demonstra o quão aquecido está o setor”.

Segundo Rafael, a modalidade de “acqui-hire”, focada no processo de M&A para agregar talentos e habilidades, foi muito comum no período pós pandemia, marcado pela escassez de mão de obra técnica, mas isso tem mudado. “Fizemos alguns negócios nos quais os compradores não estavam interessados no EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) que a companhia vendedora gerava. Os compradores estavam interessados nos funcionários, na cultura, na habilidade em recrutar e treinar de forma rápida, além de outros atributos qualitativos. Agora, a grande maioria das transações que estamos fazendo são de players internacionais adquirindo empresas brasileiras, como, por exemplo a venda da Iteris para a Globant e da Monitora para a Marlabs, que assessoramos em 2023 e 2024, respectivamente”.

Algumas transações com o perfil de “acqui-hire” que a Igc Partners assessorou, como comenta Rafael, foram a venda da ZUP para o Itaú com uma avaliação de R$575 milhões; a venda da Ioasys para a Alpargatas por R$200 milhões e a venda da Beta Learning para a Clearsale, sendo a última em 2022.

No setor de serviços, é comum haver informalidade, com muitas empresas contratando funcionários como PJ (Pessoa Jurídica) ao invés de CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), o que, de acordo com Frugis, é um fator crítico para a avaliação da atratividade para as empresas nacionais em processos de M&A. “Às vezes, o investidor estrangeiro vê que a empresa é muito boa, tem uma excelente base de clientes, alta margem e crescimento, mas fica preocupado com a forma de contratação dos funcionários e potenciais passivos que isso pode gerar. Investidores listados em bolsas estrangeiras podem não adquirir empresas com muitos PJs devido a regulamentos e riscos associados que advogados e auditores destacam durante a diligência”.

“Outro motivador importante para as aquisições estratégicas são as multinacionais buscando empresas brasileiras para desenvolver centros de delivery, visando atender o mercado americano e europeu”, afirma Tabach. “Esta procura ficou mais intensa com o início da guerra na Ucrânia e se mantém aquecida, dado que as tensões geopolíticas não diminuem”. Por outro lado, explica o especialista, esta procura agrada aos investidores e empreendedores brasileiros, que querem ter fontes de receita em dólar ou euro.

Dados do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do estado de São Paulo (Sindpd) revelam que quatro em cada dez profissionais da área de tecnologia no Brasil trabalham fora do modelo CLT, o que equivale a cerca de 1,1 milhão de profissionais. Além disso, o sindicato também menciona um número alto de trabalhadores em situação de “internacionalização ilegal da mão de obra”.

“Isso é uma dificuldade. As empresas internacionais encontram muitas empresas boas, mas informais e, como em serviços você está alocando funcionários para prestar serviços, um mercado com muita informalidade torna difícil para empresas formais competirem”, explica Frugis.

Isso porque os serviços são sensíveis a preço. Rafael explica que, diferente de produtos de software ou SaaS, onde mudar de fornecedor pode ser caro e complicado, em serviços, uma empresa pode facilmente trocar de fornecedor. “Empresas menores, por serem informais, têm custos menores e podem oferecer preços mais competitivos. Grandes empresas também enfrentam dificuldades em competir, e algumas acabam seguindo o caminho da informalidade”.

Por este motivo, o especialista destaca que a capacidade da empresa de montar um time é crucial. “Primeiro, é importante considerar o time existente e, segundo, a capacidade de recrutar e treinar, de transformar 800 funcionários técnicos em 4.000. Outro ponto importante é a base de clientes e a diversificação. Quem são os clientes da companhia? Em serviços, é essencial ter clientes que sejam grandes empresas, mas, mais essencial ainda, é ter uma diversificação entre esses clientes, de forma que a companhia não dependa de nenhum cliente específico”.

Além disso, a margem de crescimento continua sendo um fator na avaliação. “um crescimento acelerado é uma proxy de uma boa precificação. Outro fator extremamente importante é a margem. Uma boa margem demostra, por um lado, que o serviço prestado tem um alto valor agregado e, por outro, que há uma eficiência de custo que normalmente é originária de uma cultura forte, permitindo com que a empresa consiga formar e desenvolver funcionários internamente a um custo mais baixo do que o da concorrência”, finaliza Frugis.

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