A pandemia catalisou a migração do offline para o online, que começou há 10 anos com o surgimento das plataformas sociais e a mudança para uma economia mobile-first. Hoje, estamos à beira da próxima mudança de paradigma tecnológico – o Metaverso. Apelidado de a próxima versão da Internet, o Metaverso poderia potencialmente tecer átomos físicos e bits digitais para construir uma experiência tátil e rica em sensoriais que criam a sensação de estar fisicamente presente sem estar realmente no local. A profundidade das experiências imersivas que oferece nos permite conectar e colaborar de novas formas – entre funcionários, clientes, fornecedores e stakeholders.
Do Facebook à Nike, JP Morgan à Toyota, o mundo dos negócios é obcecado pelo Metaverso com corporações apostando alto no conceito de mundos compartilhados alimentados por produtos virtuais e experiências digitais. Ainda no início de sua evolução, quase todas as empresas têm sua própria visão de um arquétipo Metaverso – o que é parte do que a torna excitante. Microsoft e Facebook buscam colocar mundos virtuais e imersivos em suas plataformas existentes. Marcas de moda como Ugg lidam com o que significa fazer novos fluxos de receita significativos vendendo roupas virtuais no Zepetto.
A pergunta que fica para muitos brasileiros vendo todo esse cenário se movimentando é sobre quanto tempo se deve esperar para ver todo o seu potencial, na qual todas essas visões possam coexistir no futuro empregadas no país. Deve demorar, visto que o mundo ainda está lidando com a realidade do universo de ficção científica “Snow Crash”. No entanto, assim como qualquer área desbravada, existem players correndo para conquistar seu espaço, construindo vitrines em terras virtuais.
Diversas Indústrias estão experimentando no Metaverso e não podem esperar dois anos para ver o que acontece. Desde as formas de comercializar, treinar funcionários via realidade virtual e desenvolver novos modelos de negócios, essas companhias visam implementar mudanças. Essas transformações podem não estar certas de como irão seguir daqui para frente, porém há uma coisa que é certa neste imbróglio: ignorar a mudança é o caminho errado a seguir.
A promessa Metaversa para o trabalho
Considere um local de trabalho físico no qual humanos colaboram com robôs, humanoides e outros dispositivos inteligentes. Colegas de Metaversos não se limitaram aos avatares homólogos do mundo real. Em vez disso, eles se juntarão a uma série de companheiros de trabalho digitais, incluindo robôs humanos movidos a IA.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Gartner, espera-se que até 2026, 25% das pessoas passem pelo menos uma hora por dia no Metaverso para trabalho, compras, etc. Ao vincular vidas reais e digitais, o Metaverso pode oferecer oportunidades interoperáveis no novo mundo do trabalho, estabelecendo uma comunidade onde se pode trabalhar, brincar, transacionar e socializar, eventualmente, ajudando as organizações a alcançar um melhor engajamento com seus funcionários através de espaços de trabalho aumentados.
Alguns trabalhos exigiram semanas de treinamento no local, mas a Realidade Virtual, assim como a Artificial, reduzirá o tempo de treinamento e tornará mais flexível onde e como as pessoas podem ser treinadas. Nota-se que a RV tem se mostrado particularmente eficaz na formação de habilidades especializadas para as indústrias de manufatura e saúde, além de estar sendo utilizado no treinamento de soft skills.
Funcionários remotos lutaram para delinear entre seu trabalho e sua vida pessoal, encontrando dificuldades para se desconectar da rotina diária. É aqui que os locais de trabalho virtuais podem ser liberados. Do ponto de vista da experiência dos funcionários, o Metaverso pode servir como um centro de treinamento, uma sala de funcionários e uma área de bem-estar.
Além da experiência, há uma estrutura de incentivo econômico para o engajamento no Metaverso, que é um de seus principais diferenciais. Esse upgrade refere-se ao mecanismo de recompensa multidimensional baseado em tokens de criptomoedas, na qual pode aumentar os ganhos individuais do usuário.
Para que as organizações sejam capazes de construir um ambiente de trabalho virtual convincente no Metaverso e abordar as questões atuais enfrentadas pelas organizações na gestão da força de trabalho, tudo depende da compreensão e capacidade do empregador de adaptar modelos de negócios às preferências dos funcionários, aos comportamentos emergentes e as suas expectativas. Isso exige que os líderes coloquem os humanos no centro da questão e proporcionem experiências com enfoque nas pessoas.
Metaverso e o papel do RH
O Metaverso pode transformar a maneira como se faz negócios, com efeitos de impacto na maneira como se trabalha – dada a capacidade de transformar a maneira como recruta novos colaboradores. No entanto, o aspecto humano – da saúde mental e segurança no local de trabalho à alteração das descrições do trabalho – às vezes é minimizado como uma reflexão posterior em projetos orientados por tecnologia. Para isso, o RH tem um papel fundamental a desempenhar como pioneiro no uso de novas tecnologias para fortalecer projetos existentes.
A geração atual de tecnologias de mídia social e trabalho virtual já tornou o bem-estar dos funcionários uma preocupação fundamental do empregador e o Metaverso pode agravar esses problemas existentes. Os executivos de recursos humanos devem ter um lugar na mesa para quaisquer iniciativas Metaversas que mudem a maneira como as pessoas trabalham. É imprescindível que os líderes de RH se preparem para a futura força de trabalho, assim como concomitantemente gerenciam seus locais, suas novas normas e mudanças nas leis trabalhistas.
Os gargalos e o caminho a seguir
As organizações precisam garantir que seus líderes de tecnologia e inovação estejam prontos para projetar estratégias de negócios digitais que aproveitem a infraestrutura incorporada e as partes desse universo. Muitos modelos de empresas, infra estruturas, tecnologias e oportunidades continuarão além do Metaverso. Nem tudo será relevante para os negócios. O futuro estado da web continuará evoluindo para apoiar a economia da internet.
Enfim, toda nova tecnologia requer supervisão regulatória e de conformidade pensada para mitigar maus comportamentos. O Metaverso pode trazer desafios legais, de privacidade, regulação e conformidade. Esta também é uma oportunidade para as empresas reafirmarem seus valores, terem regras claras em torno disso e processos adequados de denúncia. As credenciais verificadas são imperdíveis para permitir a identificação mais fácil da comunidade e a prevenção do cyberbullying. Portanto, a privacidade e a propriedade dos dados serão fundamentais no Metaverso.
Por Adriano da Silva Santos, jornalista e escritor e comentarista do podcast “Abaixa a Bola”.
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