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Profissões do futuro

As atuais tendências tecnológicas vêm causando uma disrupção também no mercado de trabalho de TIC, exigindo mão de obra com habilidades diferenciadas, não apenas técnicas

Profissões do futuro

A falta de mão de obra qualificada em Tecnologia da Informação e Comunicação – TIC, perdura há vários anos e nada sinaliza que a situação vá mudar no curto ou médio prazo. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação – Brasscom, até 2024 haverá um déficit de 420 mil profissionais no Brasil. Com a pandemia de Covid-19, as empresas aceleraram a jornada de Transformação Digital, o que significa que essa demanda por profissionais qualificados aumentou ainda mais.

Ao mesmo tempo, novas tendências tecnológicas se desenharam no horizonte, e já exigem um nível mais elevado de conhecimento. E quem se enquadrar nestes novos perfis serão muito valorizados no mercado.

Para Luciano Ramos, gerente de Pesquisas e Consultoria da IDC Brasil, o mercado está muito aquecido e buscado profissionais em algumas áreas, a exemplo da Segurança da Informação, tanto os técnicos, que conheçam ferramentas, arquitetura, saibam desenhar soluções para proteger o ambiente, como também aqueles com visão mais holística, mais processual. “A Segurança, cada vez mais, vai convergindo para o tema de privacidade.

Os Desenvolvedores devem responder, cada vez mais, pela implementação de DevOps e automação relacionada ao desenvolvimento, por UX e Segurança 

Os profissionais que conseguem não só pensar na proteção da informação no sentido tradicional – evitar que ela se perca ou seja vazada –, mas no sentido do uso adequado, de governar essa informação, baseada nas novas disposições das leis de privacidade.

“A área de Segurança vai evoluir e os profissionais que nela atuarem ganharão cada vez mais relevância junto às empresas”, prevê o executivo.

Para Ramos, outra área que se destaca neste momento é a de Dados [leia nesta edição a reportagem A doce ditadura da Governança de Dados]. “Temos falado muito nos Cientistas de Dados, pessoas que não necessariamente são especialistas na arquitetura de gestão de dados, mas sim na maneira de pensar e criar modelos que possam tirar proveito desses Dados”, avalia. Essa atividade pode ser pouca ou nada técnica no sentido de ferramental de TI.

Em relação aos Desenvolvedores, Ramos tem uma opinião contrária à de muitas vozes no mercado que dizem que essa função está em baixa, diante da entrada de ferramentas Low-code/No-code. “Fui Desenvolvedor por muitos anos, vejo esse fenômeno desde a década de 1990, quando chegaram ferramentas exatamente com essa intenção de fazer tudo no visual para criar o sistema. Isso é viável para pequenas soluções departamentais, mas particularmente não vejo o Low-code como algo que vá transformar o mercado de Desenvolvimento”, afirma o executivo.

Amadurecimento profissional
Recentemente a IDC lançou a pesquisa global PaaSView and the Developer 2021, que retrata o amadurecimento destes profissionais no desenho das soluções, na implementação de novas arquiteturas, uma codificação mais eficiente, muitas vezes suportados por Inteligência Artificial, que vai conjugada nessa criação. “Vejo que o papel do Desenvolvedor amadureceu, está olhando mais para a Nuvem, para arquiteturas abertas e distribuídas, está evoluindo a maneira de desenvolver”, salienta.

Nessa pesquisa, a Consultoria observou que as funções e responsabilidades desses profissionais continuam a se expandir. Os resultados mostram que eles não são apenas os arquitetos e visionários da Transformação Digital, mas também têm uma visão completa dos processos que governam o Desenvolvimento de soluções digitais. Essa descoberta ressalta a importância dessa atividade para os fornecedores e compradores de tecnologia, já que têm insights sobre como a eficiência operacional dos processos de desenvolvimento pode ser aprimorada.

A robotização e automatização estão tirando esses trabalhos mais simples, mas ao mesmo tempo, o trabalho está ficando mais analítico e estratégico

As responsabilidades do Desenvolvedor se expandiram para incluir a implementação de Automação, Gerenciamento de Desempenho, Experiência do Usuário – EU, ou User Experience – UX, e Segurança. Esta prática tem cada vez mais responsabilidade ​​por todo o ciclo de vida do desenvolvimento de soluções, incluindo controles operacionais, implementação de DevOps, automação, UX e Segurança.

Esses profissionais sentem que têm liberdade e autonomia para selecionar ferramentas e infraestruturas. Dada essa independência, os fornecedores de tecnologia precisam garantir que os Desenvolvedores estejam familiarizados – e tenham fácil acesso – a seu portfólio completo de produtos e serviços.

Investir em capacitação
Para Luciana Lutaif, diretora de Prática de Talentos e Organização da consultoria Accenture, grande parte das profissões e da demanda de competências é relativamente nova. Tudo que se refere à Analytics, profissionais envolvidos com inovação, comunicação e atendimento via múltiplos canais, Experiência do Consumidor e do Cliente, são atividades que alguns anos atrás não existiam ou não eram valorizadas.

A tecnologia está trazendo uma disrupção no mercado de trabalho; quem tinha uma função muito operacional está sendo substituído pela máquina. A robotização e automatização estão tirando esses trabalhos mais simples, mas ao mesmo tempo, o trabalho está ficando mais analítico e estratégico. “Quanto mais a tecnologia se torna acessível, mais temos visto a demanda por novas profissões”, comenta Luciana. As empresas estão automatizando processos e dispensando pessoas que poderiam ser capacitadas e reaproveitadas. São duas economias, a de não desligar o funcionário, que às vezes está há anos na empresa e conhece o negócio e o custo de buscar um novo profissional no mercado.

Em sua opinião, as grandes corporações estão se organizando em torno de Value Stream, conceito voltado para gerar valor ao cliente, melhorando os passos necessários entregar um produto ou serviço de uma forma mais produtiva e segmentada. “É como se dentro da empresa existissem pequenos negócios autônomos, independentes e que trabalham em parceria. Para cada um deles, dentro do grande negócio, tem todos os papeis atrelados, com pessoas de negócios pensando em como gerar receita, como atender às expectativas do cliente; Arquitetos de sistemas idealizando a entrega de uma solução tecnológica dentro desse conceito, que inclui pessoas de Customer Experience e inovação, olhando juntas uma forma de entregar novos produtos ou serviços para esses clientes”, descreve Luciana.

As áreas de Analytics vêm ganhando relevância porque as empresas estão buscando trabalhar com Dados, seja para prover o próprio negócio, saber qual produto tem melhor desempenho, qual tem melhor aceitação dentro de uma determinada região, por exemplo.

“Também profissionais que adotam o conceito Agile estão em alta, pois conseguem fazer a gestão de negócios de forma mais integrada com a tecnologia, como Scrum Master, Agile Coach, Team Manager, entre outros”, diz.

Além disso, todas as áreas que demandam a criatividade, profissões ligadas ao relacionamento e experiência com o cliente, estão bastante em alta, até para atender à demanda do consumidor”, revela.

Metamorfose
Ana Kuller, especialista em Educação do Senac São Paulo, menciona um estudo do Fórum Econômico Mundial, ou WEF, chamado O futuro do Trabalho, que mapeou empregos e habilidades até 2025. Segundo o relatório, a Automação substituirá 85 milhões de empregos no mundo, mas ao mesmo tempo, a convivência entre máquinas, algoritmos e humanos criará 97 milhões de postos de trabalho.

Habilidades como pensamento crítico e analítico, resolução de problemas, autogestão, autorregulação em termos de aprendizagem e inteligência emocional foram apontadas como essenciais para o novo profissional.

“Ao considerar que o desenvolvimento tecnológico exponencial vai continuar modificando a natureza das tarefas e as próprias ocupações e postos de trabalho, os profissionais precisarão estar aptos a continuar sempre aprendendo e adaptando suas competências às novas configurações que se apresentam”, explica Ana. Ela acrescenta que é importante que, além de uma área de especialidade, os profissionais desenvolvam conhecimentos em uma gama ampla de assuntos, de modo a convocar estes conhecimentos ao desenvolver propostas e projetos.

Os verdadeiros Arquitetos se adaptam ao novo mundo da Nuvem com mais facilidade do que os especialistas de TI

Além disso, o desenvolvimento de capacidades relacionais se torna fundamental, uma vez que o trabalho em equipe se configura como prevalente. Então, é essencial apostar no desenvolvimento de inteligência emocional, comunicação e colaboração.

O conceito de carreira está sofrendo profundas transformações. De acordo com a especialista do Senac São Paulo, a lógica de acúmulo e sequenciamento linear de cargos em hierarquias cada vez mais elevadas já vem sendo posta em xeque há algum tempo, e com o mundo do trabalho se transformando cada vez mais rápido, passou a existir a necessidade de aprendizado contínuo. Muitas vezes, estas transformações alteram profundamente a configuração do campo de trabalho, o que obriga o profissional a se reinserir de novas maneiras.

“Em um mundo não linear, conectado, multidisciplinar, exponencial e não previsível, as carreiras lineares passam a ser ainda mais raras. O que passamos a verificar são caminhos variados a partir de oportunidades que vão sendo identificadas e acabam construindo um percurso no qual a experiência anterior funciona de base para o passo seguinte”, afirma Ana.

“A partir dessas características, deixa de fazer sentido uma lógica na qual há prescrições de cargos com tarefas e responsabilidades predefinidas e passa a vigorar uma lógica em que as oportunidades são criadas, identificadas e aproveitadas em função de uma situação emergente, num processo que chamamos de invenção ocupacional”, finaliza.

Arquitetos adaptados
Um estudo efetuado pelo Gartner em 2020 listou algumas das principais tendências tecnológicas para os próximos anos e que irão demandar profissionais especializados em Arquitetura de Automação; Planejamento de Recuperação de Desastres; DevOps; Gerenciamento de Armazenamento em Infraestrutura Distribuída; Serviços e Suporte de IoT; Infraestrutura e Operações de Nuvens Distribuídas; Plataformas Low-code e Rede Agile.

A maioria dessas tendências pode ser vinculada à tarefa de migração de aplicativos para a Nuvem e quatro áreas são fundamentais: Arquitetura de Sistemas; Aplicativos de Negócios; Processos de Negócios e Gerenciamento da Infraestrutura de TI.

Na opinião de Mike Edholm, diretor de Pesquisa e Consultoria do Gartner, os Arquitetos de Sistemas serão fundamentais para as empresas, já que precisam aprender e entender como arquitetar, implementar e integrar redes com os provedores de Nuvem, porque as ferramentas e as arquiteturas são diferentes quando implementadas no local e nas diferentes plataformas.

Esses profissionais têm profundidade e amplitude técnica e, contanto que tenham as habilidades básicas e possam trabalhar em colaboração com fornecedores e outros profissionais, eles podem aproveitar essas habilidades. “Os verdadeiros Arquitetos se adaptam ao novo mundo da Nuvem com mais facilidade do que os especialistas de TI, que podem estar familiarizados apenas com a administração de armazenamento ou com os mecanismos de implementação de Multiprotocol Label Switching, MPLS”, comenta.

Daqui para frente a especialização técnica limitada não será uma estratégia vencedora para as carreiras de TI. Em vez disso, a amplitude técnica será mais importante. Profissionais de TI de todos os tipos devem adotar uma orientação mais sistêmica. A integração com serviços baseados em Nuvem se tornará ainda mais importante do que é hoje. Engenharia em Nuvem, Administração de Sistema em Nuvem, Monitoramento, Automação e Segurança em Nuvem serão habilidades muito procuradas.

Edholm acredita que o profissional do futuro deverá ser versátil, cujas atribuições, funções e experiências multidisciplinares criam uma mistura de conhecimento, competências e contexto sintetizados, alimentando valor de negócios. “Ao contrário dos especialistas de TI, que são profundos e estreitos, e dos generalistas, que são superficiais e amplos, os ‘versatilistas’ são mais valorizados porque são tecnicamente competentes nas áreas técnicas transversais”, defende e completa: aplicam percepções e conhecimentos a uma gama cada vez mais ampla de situações, equipes, iniciativas e experiências.

Competências e especializações em alta

Algumas competências foram apontadas como essenciais para o novo profissional, assim como funções que até alguns anos atrás não existiam ou não eram valorizadas e agora vêm ganhando relevância. Confira.

Atividades
· Administração de Sistema em Nuvem;
· Agile – Scrum Master, Agile Coach, Team Manager, entre outros;
· Analytics;
· Arquitetura de Automação;
· Automação;
· DevOps;
· Engenharia em Nuvem;
· Experiência do Consumidor e do Cliente;
· Gerenciamento de Armazenamento em Infraestrutura Distribuída;
· Infraestrutura e Operações de Nuvens Distribuídas;
· Monitoramento;
· Múltiplos canais de atendimento;
Planejamento de Recuperação de Desastres;
· Plataformas Low-Code;
· Segurança em Nuvem;.
· Serviços e Suporte de IoT.
Habilidades
· Autogestão e autorregulação da aprendizagem;
· Comunicação;
· Criatividade;
· Inteligência emocional;
· Pensamento crítico e analítico;
· Resolução de problemas.
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