O Compliance abrange a promoção de uma cultura de integridade e o respeito às leis, às regulamentações e às políticas internas. É um conceito que se estabeleceu no mercado. E sustentabilidade? Para ser sustentável precisa ser verde? É filantropia? É ser contra o capitalismo? É ser uma igreja?
Ainda há a necessidade de conscientizar as pessoas no tema sustentabilidade, pois há relação com a economia verde, engloba a preocupação com os impactos junto aos stakeholders (o que inclui a filantropia), mas é algo ainda mais estratégico e amplo. Um ponto fundamental é entender que o assunto está relacionado à perenidade dos negócios e, para isso, ter uma fonte de recursos financeiros é essencial. Sob a ótica de uma empresa, por exemplo, é ter faturamento e lucro (ou um investidor que faça o aporte) para conseguir gerar empregos e pagar os impostos. E não parar por aí. Logo, comparar sustentabilidade com uma igreja não faz qualquer sentido.
E, então, faço o link com os conceitos do Capitalismo Consciente. É fundamental desmistificar que o capitalismo é algo ruim. Houve, sim, avanços da humanidade, de expectativa de vida, de educação e conhecimento e de tecnologias, entre outros. Mas, isso não significa que não pode ser aprimorado. O ponto é considerar que o capitalismo precisa que as organizações tenham um propósito e que contemplem os seus stakeholders ao tomar as suas decisões. Desta forma, a atenção com os recursos humanos, naturais e com o planeta, enfim, ganha destaque.
No mundo do Compliance e do ESG (Ambiental, Social e Governança, em português), é conhecido o mote que a adoção pode ser por crença, por convencimento ou por coerção. Há empresas que vão atuar porque identificaram oportunidades atreladas ao seu propósito, aquelas que serão seguidoras e outras que só irão adotar quando a lei ou o mercado exigir. Quando falamos sobre o Compliance Sustentável, estamos tratando de monitorar e acompanhar as tendências e de agir por princípios éticos, antes que exista a obrigatoriedade legal ou regulatória. Vide a preocupação de empresas brasileiras com a recente proposta de Mecanismo de Ajuste de Carbono na fronteira da União Europeia.
As questões sobre o mercado de carbono e as mudanças climáticas estarão nos holofotes. Mas quantas empresas já se preocuparam em realizar o inventário de carbono e construir uma estratégia de redução ou avaliação dos riscos oriundos das mudanças climáticas? Quantas repensaram seus processos, produtos e serviços para minimizar ou neutralizar eventuais efeitos danosos, como poluição, geração de gases de efeito estufa, prejuízo à saúde, entre outros?
Há movimentos que já estão acontecendo. E uma organização que quer permanecer no mercado precisa atuar com integridade e Compliance numa abordagem sustentável.
Por Jefferson Kiyohara, professor na FIA e diretor de Compliance & Sustentabilidade na ICTS Protiviti.
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