Por anos o setor de educação foi um dos que menos investiu em tecnologia, principalmente em sala de aula. Mas a pandemia de Covid-19 mudou isso. Pegas de surpresa como o restante do mercado, as escolas tiveram que se reinventar em pouquíssimo tempo para manter os processos de aprendizagem de seus alunos.
O aumento da demanda por soluções digitais abriu caminho para o crescimento de um setor que ainda não havia decolado: as chamadas edtechs, startups que desenvolvem ou promovem recursos educacionais digitais. O mapeamento Edtech 2020 realizado pela Associação Brasileira de Startups, em parceria com o CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), apresentou um crescimento de 26% em relação ao número de edtechs registradas em 2019, somando 566 startups ativas no mercado brasileiro em 2020.
De acordo com o estudo, ao longo de 2020 as edtechs conseguiram suprir as demandas existentes em um volume muito maior do que o esperado, o que garantiu que as escolas pudessem superar todas as fases de pico desta demanda. Isso começou com a necessidade de se dar aulas remotas, passou pela melhoria das plataformas emergencialmente adotadas e pelo desenvolvimento de ferramentas de avaliação, culminando, mais recentemente, com o desenvolvimento de ferramentas de gestão escolar e saúde para acompanhamento do retorno do ensino presencial.
Se pensarmos que as escolas, como toda a sociedade, não devem retornar ao estágio anterior à pandemia, o que vimos foi um ano que marcou uma nova etapa para estas empresas. Isso significa que muitos recursos digitais serão definitivamente incorporados ao dia a dia das escolas e muitos outros devem surgir a partir daí.
Por aqui, acompanhamos bem de perto o que aconteceu com duas destas edtechs, investidas do nosso fundo Invest Tech VC, a ClipEscola e a Skore, que demonstram perfeitamente o quanto estas demandas cresceram. A ClipEscola, por exemplo, nasceu como um aplicativo (web e mobile) de gestão e comunicação entre alunos, pais e escolas, com foco em instituições de educação básica.
Com o aumento na busca por ambientes virtuais de aprendizagem, a startup decidiu acelerar o desenvolvimento de seu próprio módulo de salas virtuais, que foi lançado em março do ano passado. Um ano depois, este módulo já responde por 10% do faturamento da empresa, que cresceu mais de 60% em 2020, quando foi premiada como uma das 100 edtechs mais inovadoras da América Latina, pela HolonIQ.
Não só. Em uma pesquisa do Google sobre as startups mais procuradas durante a pandemia, a ClipEscola ganhou destaque como a startup de educação que mais cresceu em número de acessos: 598%. O estudo apontou as 350 startups brasileiras que tiveram aumento de acessos de mais de 30% entre março e abril de 2020, comparados ao mesmo período de 2019.
Crescimento semelhante atingiu também as áreas de treinamento das empresas. Um estudo do Fosway Group indica que 94% dos profissionais de treinamento reconheceram que tiveram que mudar suas estratégias. A exigência veio da ponta: 71% deles disseram que cresceu a demanda por ofertas digitais de treinamento por parte de usuários finais e 82% apontando o mesmo movimento, só que de colaboradores sêniores de suas empresas.
Esta demanda foi sentida especificamente pela Skore, uma plataforma de treinamento e desenvolvimento (T&D) para grandes empresas. Durante a pandemia, o uso da plataforma cresceu quatro vezes, e empresas que no período pré-pandemia não ministravam treinamentos online passaram a contatar a startup para implementar sua solução.
A Skore também viu crescer a busca por ferramentas de aulas ao vivo. Como sua plataforma permite personalizar o treinamento, oferecendo qualquer formato, desde chatbots até vídeos em uma experiência integrada ao dia a dia dos usuários, as empresas e gestores conseguem contribuir com o desenvolvimento de seus colaboradores, mesmo à distância.
Estes são apenas dois exemplos que indicam que, a partir de agora, o ecossistema de inovação educacional brasileiro tende a crescer. Não se trata mais de discutir se isso vai acontecer, mas de que forma e que desafios ele terá pela frente.
Por Viviane Radiuk, diretora de Venture Capital da Invest Tech.
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