Pela primeira vez, o Brasil tem um levantamento completo do ecossistema das ‘cleantechs’, como são chamadas as startups do segmento de tecnologias limpas,. O estudo inédito Impacto do Ecossistema de Startups no Setor Elétrico Brasileiro traça o perfil das empresas e contou com a participação de 136 cleantechs de todo o País.
A pesquisa é fruto de uma parceria entre a EDP, empresa do setor elétrico; GVces – Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, FGV; o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ; a ABStartups e a Statkraft; e viabilizado pelo Programa P&D.
Além disso foi criado o Observatório de Cleantechs, plataforma que faz parte do estudo e possui conteúdos importantes sobre a transição do setor elétrico brasileiro e o mapeamento dessas startups de tecnologias limpas. A plataforma online já está disponível e vai ajudar a investigar, analisar, construir e gerenciar conhecimento da relação e interação entre tecnologias limpas, o mercado privado, a regulação e o desenvolvimento tecnológico no setor energético brasileiro.
“As Cleantechs representam o encontro da inovação com a sustentabilidade no segmento de energia. A sondagem nos mostra o perfil dessas startups e permite a aproximação dos setores, fortalecendo o ecossistema. Dessa forma, teremos mais apoio na busca de soluções para usar melhor os recursos naturais nas diversas atividades desse mercado e gerar impacto positivo na sociedade”, explica Rafael Marciano, gestor de Inovação da EDP Brasil.
Há algumas peculiaridades do segmento, como o fato de 34% dos fundadores de Cleantechs estar na faixa dos 31 a 40 anos, diferente do padrão característico das startups – que figura na casa dos 20 anos. Isso mostra um perfil jovem, mas com acúmulo de experiências e aprendizados em suas jornadas profissionais.
Quase 80% dessas startups estão nas regiões Sudeste e Sul. Além delas, Pernambuco foi o estado com maior destaque, principalmente pelo impulso do Porto Digital. Além das disparidades entre as regiões, alguns hubs se destacam no mapeamento, como a agência de pesquisa Inova Unicamp, em Campinas,SP, e a Universidade Federal de Itajubá, Unifei, em Minas Gerais.
Desafios
Um dos gargalos do setor é a margem operacional: 39% ainda estão no negativo. Além do alto investimento que os empreendimentos demandam, fatores como os ciclos extensos de pesquisa e desenvolvimento trazem mais dificuldade para a operação e crescimento em um mercado de investidores avessos ao risco ou que demandam rápido retorno.
Isso se reflete nos desafios percebidos pelas startups do segmento. Em uma lista com nove opções em que se podia escolher mais de um item, os mais citados foram: expandir o negócio (63%), acessar serviços financeiros (62%) e comunicar proposta de valor (46%).
Sobre o tipo de negócio, cerca de 41% das empresas pesquisadas atuam no segmento de energia limpa e 71% atuam no B2B (business to business). A grande maioria (82%) possuem de um a três sócios e 49% já receberam algum aporte de capital. Dentre as que receberam recursos, a modalidade mais frequente foi o “investimento-anjo”. O cruzamento entre os dados revela que 21% das empresas que receberam algum recurso são de eficiência energética e 18% de energia limpa.
No que diz respeito à cooperação entre startups e grandes empresas no setor de energia, 79% das Cleantechs já participaram de algum tipo de programa. Apesar disso, a maior parte delas revelam um comprometimento instrumental, como co-desenvolvimento de produtos ou serviços. As corporate venture capital e as aquisições/joint ventures, que demandam negociações e estratégias mais profundas, têm pouca incidência – apenas 9,5% empresas do segmento recebeu esse tipo de investimento.
O Observatório
O trabalho resultou também no Observatório de Cleantechs, uma plataforma voltada a construir conhecimento coletivamente e dar a oportunidade de análise e conformação de cenários. Por meio da plataforma, será possível que empresas e profissionais elaborem estratégias, plano e modelos operacionais. Estão reunidos dados que fundamentam o cenário das tecnologias limpas ligadas ao setor, tanto no Brasil, como no exterior. A plataforma abriga ainda publicações relevantes que focalizam a transição energética e as Cleantechs de energia, incluindo créditos e links para suas fontes primárias.
O observatório mostra aspectos evolutivos da transição energética, bem como comparações entre regiões e períodos. De posse desses dados, é possível visualizar a geografia da mudança, seus desdobramentos e impactos efetivos frente às ações e políticas públicas do setor. Existem ainda vídeos informativos voltados à implantação de startups hardtechs. As produções contam com a presença de especialistas em vários setores, discutindo temas como Indústria 4.0, desafios das hardtechs industriais; propriedade intelectual; relação academia-empresas, dentre outros.
Reunindo inicialmente 136 empresas do segmento, a plataforma possibilita ainda o cadastro permanente de outras Cleantechs. Cada empresa está listada com acesso a informações sobre os serviços e produtos ofertados. O observatório reúne ainda a legislação atrelada ao setor elétrico, principalmente aquela relacionada à indução das startups Cleantechs. A plataforma nasceu com intuito de ser um ambiente dinâmico e interativo. Dessa forma, sua estrutura, apresentação, produtos e serviços podem evoluir à medida que a transição energética assim também passe por mudanças.
O ecossistema
O trabalho traçou ainda um diagnóstico sintético do ecossistema brasileiro de empreendedorismo de startups de tecnologias limpas. As características reveladas nas dimensões de mercado, políticas públicas e instrumentos financeiros apontam para um ecossistema em formação e com potencial de se fortalecer, partindo de uma estratégia nacional de longo prazo para a transição do setor elétrico que fomente a inovação e estabeleça um ambiente regulatório favorável para startups.
Já como fragilidades e incipiências foram apontadas a escassez de iniciativas específicas de cultura empreendedora, de agentes de apoio e de capital humano voltadas às Cleantechs, em especial nos segmentos ligados ao setor elétrico.
O estudo realizou, ainda, uma proposição de melhorias no Manual do Programa de P&D da ANEEL e um teste empírico de cooperação entre startups e grandes empresas, que teve a EDP como empresa-piloto. A iniciativa servirá para futuras cooperações comerciais ou de investimento.
Serviço
https://www.observatoriocleantech.org
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