Nas últimas semanas, o noticiário vem trazendo uma discussão ampla sobre CEOs e empresários defendendo o combate às mudanças climáticas e sobre a criação de diretorias voltadas a iniciativas de responsabilidade ESG (Environmental, Social and Governance ou meio ambiente, social e governança). Junto a esse movimento interno, grupos de empresas têm enviado cartas ao vice-presidente da república defendendo uma agenda para o desenvolvimento sustentável, enquanto ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central estão cobrando ações para redução do desmatamento da Amazônia e do Cerrado. Lá fora, investidores internacionais estão manifestando preocupação com o aumento do desmatamento no Brasil.
Os exemplos acima mostram que tamanha mobilização indica que a sustentabilidade está no centro do debate empresarial. No último Relatório Global de Riscos do Fórum Econômico Mundial, os cinco principais riscos listados que envolvem assuntos de longo prazo estão relacionados às questões ambientais. Junto a esse alerta, a pandemia trouxe ainda mais luz e reflexões sobre os riscos aos quais muitos não davam o devido foco. Aliás, riscos ambientais e doenças infecciosas já são citados há alguns anos neste relatório. Portanto, o assunto não é novo e quando ele entra na agenda de executivos e investidores, começamos a ver um movimento que deixa de tratar a sustentabilidade apenas como projetos sociais patrocinados pela empresa para se tornar uma estratégia do negócio.
Os critérios do ESG evoluíram para uma metodologia de investimento que abrange fatores de sustentabilidade como forma de identificar empresas com modelos de negócios superiores, oferecendo uma visão adicional sobre a qualidade da gestão, cultura e perfil de risco de uma empresa, o que vem influenciando a forma como gestores de ativos e investidores avaliam as carteiras de investimentos.
Trata-se de um movimento que está ocorrendo no mundo todo e, no Brasil, onde muitas vezes esses aspectos eram deixados em segundo plano, vemos que o tema está despertando, ou seja, precisamos mudar a relação com a sustentabilidade. Há pressões externas de investidores para a divulgação e o desempenho do ESG, pois as informações contidas apoiam as tomadas de decisão. Em contrapartida, empresas que já utilizam normalmente se beneficiam de maior desempenho e de ambientes de controle mais fortes, além de serem mais atrativas e gerarem maior retenção de funcionários, que buscam por companhias que impactem positivamente e que tenham um propósito. Na ponta, clientes estão cada vez mais interessados em comprar de empresas focadas em sustentabilidade e que tenham “produtos verdes”, o que significa um aumento da conscientização do público em geral para problemas relacionados à sustentabilidade.
O que vai determinar uma parte do posicionamento futuro é saber quão eficiente seremos com o uso dos recursos naturais e não renováveis. E sob o âmbito social, vemos uma demanda por diversidade e valorização dos direitos humanos. É incrível que na era em que vivemos, ainda tenhamos trabalhadores em situação análoga à escrava. Neste cenário, vemos que não existe uma letra do ESG que seja mais importante do que a outra. Os pilares ambientais, sociais e de governança podem e devem ser vistos de forma integrada.
É claro que dependendo do setor de atuação da empresa, um dos pilares pode acabar tendo maior peso. Mas a governança pode ser vista como uma base, que abrange as esferas de liderança da empresa, ambiente de controle (riscos e compliance), funções de garantia e direitos de acionistas e demais stakeholders. Por isso, percebe-se mais empresas vinculando o desempenho do ESG às metas e remuneração executiva.
Conforme citado por Ray Anderson, fundador da Interface, empresa considerada uma das pioneiras em exemplos de sustentabilidade, o fato da natureza nos prestar serviços que não aparecem no balanço das empresas, não significa que podemos desconsiderá-los. A indiferença às questões de sustentabilidade pode trazer riscos à reputação, erosão da marca, perda de talento e o fracasso nos negócios. O lucro pelo lucro já não cabe mais na forma de fazer negócio atualmente. A valorização de consumidores, comunidades, funcionários e ambiente está abrindo novas oportunidade. Não podemos desperdiçá-las.
Por Daniela Coelho, diretora associada de riscos e performance na Icts Protiviti
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