Publicada na edição impressa, 36, de junho de 2020, a entrevista com Márcio Jorge, diretor de Inteligência da Zahg, aborda como Business Intelligence se relaciona com Internet das Coisas e sua importância frente à explosão de dados atual e futura.
Em que estágio está o Business Intelligence?
O Business Intelligence evolui na mesma medida que a tecnologia de dados se desenvolve. O que move essa evolução é a capacidade de coletar dados em quantidades maiores e em menor espaço de tempo. Se compararmos o processo criado pelo Gartner nos anos 1980, onde haviam fontes de dados que eram coletados e analisados separadamente, gerando uma visão mais ‘fria’ do cenário, hoje o estágio que nos encontramos é o da coleta, tratamento e análise em tempo real. Temos disponíveis diversas fontes de alimentação de dados, que obedecem o mesmo padrão de tratamento, facilitando imensamente a tabulação deles, gerando relatórios e insights mais precisos. Hoje temos uma visão mais completa, holística dos dados, que se cruzam e geram informações de alta qualidade para os negócios.
Como BI atua e se relaciona com IoT?
Na minha visão, BI e IoT devem atuar em perfeita simbiose. Ao entendermos que a existência de dispositivos IoT cumprem a função de trazer uma experiência de conforto, praticidade, otimização de tempo e eficiência de consumo, o papel do BI é fornecer dados importantes sobre o comportamento das pessoas em relação a um determinado produto ou segmento e essa informação deve alimentar a inteligência dos dispositivos. Podemos identificar inúmeros setores com grande potencial dessa integração. Além de casas inteligentes que ‘aprendem’ o hábito de seus moradores via coleta de dados, temos toda a cadeia varejista que pode entregar praticidade aos consumidores. Imagine pais de recém-nascidos que possam receber volumes de fraldas por meio de um app que condensa o consumo diário do produto e sabe a quantidade exata a ser pedido por tamanho, evitando desperdício. Podemos também transferir a experiência para o consumo de alimentos e bebidas, que gerenciam os itens mais consumidos da despensa dos domicílios e gera uma reposição eficiente com um simples toque de botão. Quando alimentamos essas informações pessoais com dados de mercado fornecidos pelo BI, gera-se uma capacidade imensa de criação de produtos IoT para as empresas. A prova disso são os bilhões de dispositivos dessa natureza que já existem no mundo.
Onde suas aplicações se destacam?
Assim como o Business Intelligence evolui ao lado da tecnologia, não há limites para seu crescimento, principalmente em setores onde comportamentos de consumidores, interações online com mensagens, produtos e compras diretas são parte fundamental do negócio. Nesse aspecto, áreas de Marketing de empresas que estão mais maduras digitalmente, agências de publicidade, empresas de logística, de pesquisas e tecnologia, entre outras, podem se beneficiar enormemente de uma estrutura eficiente de Business Intelligence. E isso independe do porte da empresa. Claro que empresas com grande capacidade de investimento podem se estruturar melhor, mas pequenas empresas podem contratar ferramentas gratuitas que fornecem uma visão mais básica de dados, porém podem ser um importante vetor de mudança da empresa.
Com a atual explosão de dados qual é o papel de BI?
O papel do BI será sempre trazer uma visão mais aprofundada do comportamento e do consumo de produtos para as empresas. A questão da LGPD é um excelente exemplo de como toda essa massa de dados gerada atualmente deve ser tratada daqui para a frente. A venda de informação de dados pessoais de consumidores por terceiros ficará cada dia mais restrita até ser eliminada totalmente do mercado. Com isso, cada empresa deverá ser responsável pela coleta, tratamento e análise dos dados dos seus consumidores e deverá utilizar essa inteligência apenas para benefício próprio. Ao associarmos isso com um cenário de crescimento exponencial de geração de dados por diversas fontes e a criação de novas tecnologias, serão exigidos investimentos em profissionais e infraestrutura ou a contratação de empresas especializadas para proverem produtos de Business Intelligence que tragam mais efetividade às marcas.
BI acompanhará o aumento exponencial do volume de dados?
Acredito que sim. A alta demanda de processamento de dados pressiona a indústria de TI nessa evolução. Quando observamos o desenvolvimento dos processadores nos últimos 30 anos, podemos ter uma ideia dessa capacidade de evoluirmos para tecnologias muito mais avançadas. Estamos engatinhando como consumidores na Computação Quântica, que abrirá um universo completamente amplo de possibilidades de atuação de processamento de dados e análises cada vez mais instantâneas dos mesmos.
Qual a relevância do BI frente à pandemia do Coronavírus?
O BI tem exercido um papel consultivo muito importante para diversos setores da economia durante a pandemia. Segmentos muito sensíveis como o Turismo, Aviação e Eventos têm se utilizado das análises de BI para realizarem previsões de cenários, mudanças de comportamento dos consumidores e identificação de opiniões em redes sociais para traçarem planos de recuperação. Do outro lado da balança, temos segmentos que se beneficiaram nesse período, como comércio eletrônico, produtos de higiene pessoal e alimentos não perecíveis e que utilizam o BI para compreenderem como devem se manter lucrativos após o período da pandemia, como manter essa curva de aprendizado eficiente para continuar oferendo a melhor experiência aos seus consumidores. Do ponto de vista social, governos têm utilizado muito os serviços de Business Intelligence para localizarem aumentos de incidências da doença, opinião da sociedade em relação às ações dos órgãos públicos, percepções declaradas sobre serviços de saúde por regiões, declarações sobre adesões a políticas de isolamento social por bairros, entre uma série de outros dados importantes de análises.
Neste caso, de que forma a ferramenta de BI é aplicada e quais são seus benefícios?
Podemos utilizar diferentes ferramentas, como dashboards em tempo real que são alimentados com dados de pesquisas via APIs, atualizando índices de mercado e cruzando com dados de vendas das áreas comerciais das empresas ou serviços públicos. Isso traz retratos acurados do momento e dos próximos passos que devam ser tomados. Outra ferramenta importante é a de social listening, que monitora as opiniões e engajamentos dos usuários com o tema da pandemia nas plataformas de redes sociais e a relação com as marcas, assim os anunciantes identificam qual a percepção dos consumidores em relação às atitudes tomadas pela empresa, por exemplo, se supermercados estão protegendo seus funcionários e consumidores com higienização apropriada ou se e-commerces estão entregando dentro dos prazos prometidos. Nesse portfólio de entregas de ferramentas, estruturas de base de dados que ‘clusterizam’ os usuários da Internet por comportamento sociodemográfico e hábitos de consumo também são importantes para gerar insights a respeito de como o público interage com serviços, marcas e produtos nos períodos pré, durante e pós pandemia.
Quais soluções a Zahg disponibiliza para o mercado?
A Zahg é uma empresa AdTech, ou seja, atua no segmento de tecnologia para o mercado publicitário. Executa planejamento estratégico, operação de compra de espaços de mídia digital e serviços de Business Intelligence para seus clientes. As soluções de Business Intelligence oferecidas são amplas, mas cito as principais. Desenvolvemos dashboards online de acompanhamento de performance de campanhas publicitárias, social listening para monitoramento de interações de usuários com marcas nas redes sociais, site Analytics que são diagnósticos de sites e aplicativos dos clientes que geram orientações de otimização de experiência, capacidade de tráfego e eficiência de resposta a interações dos usuários.
A Zahg também realiza estudos de modelagem estatística para cenários preditivos de performance e sazonalidade de vendas. Outro serviço importante é a estruturação de Data Management Platforms- DMPs, que são estruturas de coleta e gerenciamento de dados próprios dos clientes e que são utilizados para alimentar as campanhas publicitárias de suas marcas.
Como focamos na área de Marketing e Publicidade Digital, essas ferramentas compõem uma visão de cenário fundamental para as empresas compreenderem a eficiência de seus investimentos e isso baliza as decisões de gerenciamento de investimentos de publicidade.
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