Como professor de inteligência de mercado e marca, uma das empresas mais fácil de exemplificar toda a sua estrutura é a Apple. Pela presença de mídia ou nos bolsos dos meus alunos, acaba por ser fácil apresentá-la como o caso de negócio mais famoso do mundo. Ela serve de exemplo para grandes negócios ou até para aquele grupo de empreendedores que estão começando a sua startup.
O que poucos sacaram nas últimas semanas é que a marca da maçã, no seu último evento realizado no auditório que leva o nome do seu fundador, Steve Jobs, realizou o mais importante movimento dos seus últimos 20 anos – desde o lançamento do iPod que posicionou a empresa como além dos computadores pessoais.
A Apple se posiciona a partir de agora não mais como uma empresa de gadgets, mas de curadoria e construção de conteúdo. Celular, tablet ou computador são apenas meio (canal) para que ela possa distribuir seu conteúdos em diferentes segmentos – games, músicas, séries e filmes.
Em startups falamos como “pivot” (ou pivotar) o movimento de uma empresa que sai do seu intento estratégico para outro. Se para startups já é complicado esta mudança de mindset e organização, imagina para uma empresa de US$ 1 trilhão em valor de mercado. Demanda rever todo o escopo de trabalhos, processos, produtos e serviços, bem como expectativa de todos os públicos internos e externos.
Mas a Apple é experiente nisso, e parte para o terceiro pivot da sua história.
O primeiro foi em 2001, quando foi além do segmento de computadores pessoais e criou o iPod, “quebrando” a concorrência aonde estão seus valores como marca: design e praticidade, muito além dos milestones da categoria. Não à toa o principal tocador de músicas do planeta ainda é o iPod, seja como gadget ou aplicativo dentro de outros produtos da marca.
O segundo movimento é mais sútil, ocorrendo em 2008, com a segunda geração do iPhone. Foi neste momento que a Apple abriu sua loja para desenvolvedores externos criarem soluções para seus produtos. Ainda que com forte curadoria interna, a App Store representa bilhões em faturamento para a empresa e ajudou a catapultar ainda mais o sucesso do celular mais desejado (e lucrativo) de todos os tempos.
O movimento atual é mais agressivo, uma vez que mostra uma Apple totalmente comprometida em desenvolver conteúdo e curar a plataforma do que seus milhões de usuários de gadgets da marca ao redor do mundo consomem. O put de US$ 1 bilhão em produções avisa que está disposta a concorrer diretamente com Fox, Disney, Netflix e Amazon neste setor, assinatura a assinatura – outro forte movimento e que toda empresa deveria ficar de olho: como meu produto ou serviço pode virar assinatura, gerando conforto ao cliente e previsibilidade nas minhas demandas?
Ninguém melhor que a própria Apple para saber que smartphones – sua principal vaca leiteira – estão em um movimento de maturidade, aonde a concorrência é maior e a tendência é de sacrifício das margens de lucro. Mudar é necessário e, ainda que não saibamos quem e como serão os vencedores desta flutuação de mercado, mais uma vez a Apple apresenta tendências aos empresários e empreendedores: além da economia da assinatura, a necessidade que até um gigante tem de mudar. Sempre.
Por João Gabriel Chebante, fundador da Sucellos
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