Começando uma análise pela superfície, DevOps é um movimento que propõe uma ideia simples, porém de implementação complexa: a de que os times de desenvolvimento (Dev) e operações (Ops) precisam trabalhar do modo mais colaborativo e integrado possível, sem barreiras e em meio a processos leves que viabilizem, entre outras coisas, entregas frequentes (“entrega contínua”) e incrementais.
Além de ser uma grande mudança do ponto de vista cultural, há inúmeros componentes técnicos que precisam ser adequados para que uma equipe ou empresa consiga efetivamente trabalhar segundo a proposta do DevOps e alcançar os resultados esperados em termos de “entregar mais rápido” e “entregar melhor”. Porém, sob uma análise mais aprofundada e com olhar no negócio – e muito mais do que para a tecnologia-, DevOps é muito mais relevante.
Olhar para o negócio é olhar, obrigatoriamente, para o futuro, em um contexto onde as incertezas e complexidades são enormes – tudo potencializado – e, na verdade, muito mais que uma cultura de colaboração. Trata-se de uma abordagem para viabilizar a sobrevivência e o crescimento da empresa em um ambiente complexo de negócios.
Fazendo uma breve analogia, se o passado das empresas puder ser comparado a uma escada rolante, que sobe lentamente, o cenário atual se parece mais com o de um foguete; consequentemente, os riscos também seguem o mesmo raciocínio e DevOps pode ajudar as empresas a reduzirem os riscos quando alinhado corretamente aos negócios. É por esta razão que, quando se analisa os casos reais, de empresas que estão realmente se beneficiando do DevOps, observam-se resultados fantásticos como consequência do melhor uso da tecnologia por pessoas que possuem a visão correta em relação ao potencial do negócio.
Portanto, manter o foco no negócio é a questão para que o DevOps possa ter valor.
DevOps não é um caso de TI
Recentemente foi noticiado que uma empresa de processamento de pagamentos, com ações na Bolsa, está valendo mais que a líder de mercado, mesmo tendo apenas 1/3 da estrutura, incluindo a TI. Indo além, a líder também possui boas práticas de integração e entrega contínua e é um case conhecido de DevOps no mercado. Assim, DevOps não é um caso de TI, de “tecnologia pela tecnologia”. Na verdade, ele é uma ferramenta para um mundo novo, para entregar o futuro agora, mas, se desconectado do “mundo real”, a empresa pode falhar ou perder espaço.
Vamos pensar um pouco sobre o robô de inteligência artificial da Amazon, a Alexa, que é, em essência uma caixa de som com quem você conversa, que te dá informações sobre muitas coisas, desde temperatura, cotação do dólar, preços de produtos. Alexa ainda não fala em português. AINDA, porque a Amazon já está trabalhando nisso, atualizando em tempo real; e quanto mais brasileiros tentam conversar com ela em português, mais ela aprende, mais ela coleta informações sobre o que mais agrada as pessoas e sobre o que tem mais potencial de gerar faturamento para Amazon.
O que vale a pena para a Amazon? Ensinar português para a Alexa ou ensinar para ela a fazer uma comparação de preços de qualquer produto? Imagine isso baseado na sua conta de e-commerce da Amazon. Isso é aprendizagem de máquina baseada na inteligência do negócio. Novamente, a palavra-chave: negócio e somente é viabilizado porque a Amazon opera com base em uma estratégia que além de olhar para a tecnologia – e ser muito eficiente, ao ponto de liberar 1 deploy por segundo, conforme relatado em inúmeros artigos – foca no negócio.
O DevOps para sua empresa não ser uma nova Blockbuster
Na década de 90 a Blockbuster foi a maior rede de locação de vídeos do mundo, chegando a ter mais de 9 mil lojas em seu ápice; porém assim como outras grandes empresas, a Blockbuster não conseguiu mapear corretamente o movimento do mercado, e poucos anos após o surgimento de plataformas de streaming como a Netflix, foi perdendo relevância.
Analisando a realidade de boa parte das empresas, que olha – e atua – com planejamento de longo prazo, utiliza-se uma coleção de técnicas para determinar o melhor cenário, considerando riscos, condições de mercado, variações do mais pessimista ao mais otimista; porém nenhuma técnica substitui a análise baseada em informações coletadas em tempo real, e as práticas do DevOps agregam valor ao ajudar a construir softwares que respondem aos anseios dos clientes ao mesmo tempo que criam um loop de feedback, ao guiar a identificação de quais produtos, ou partes do produto (funcionalidades) são mais utilizados, mais geram receita, favorecem a experiência do usuário, bem como, por outro lado, os que apresentam mais defeitos, geram mais chamados ao suporte etc.
Para se referir a essa quantidade gigantesca de informações, utiliza-se o termo ‘Big Data’ – algo a ser explorado em outro artigo – e que “conversa” intimamente com DevOps. E não há planejamento no mundo que supere o resultado que uma empresa obtém quando na prática, no dia-a-dia, consegue coletar, analisar e responder com base em informações confiáveis e reais.
Aí reside a vantagem do DevOps, porque ele está falando para o negócio e não apenas aplicado para virar um case de TI, pois as ferramentas, isoladamente, não resolvem nada.
Empresas com DevOps também quebram
Em um cenário competitivo, marcado por empresas com diferentes culturas corporativas é curioso que mesmo algumas que são ‘cases’ conhecidos de DevOps possam literalmente quebrar, mas isso acontece.
Segmentos como mídia, editorial, livrarias, varejo, seguros, TVs a cabo, entre outros, abrigam empresas que são reconhecidamente maduras em relação ao DevOps, e mesmo assim, há casos recentes e conhecidos de companhias em dificuldade, em diversos estágios no Brasil e no Mundo. Ou seja, se o negócio não tem a visão correta, DevOps não salva ninguém.
Por Álvaro D’Alessandro, diretor da OAT Solutions
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