A transformação digital já é uma realidade e as empresas que ainda não estão de olho nesse movimento precisam correr atrás do tempo perdido, para não ficarem ultrapassadas. E não se trata apenas de levar tecnologia ou inovação para dentro da companhia, e sim, mudar a estrutura da organização para aumentar o desempenho e buscar resultados melhores.
A mudança de ‘mindset‘ é um dos principais entraves, já que é necessário mudar a cultura da empresa, alterar a estrutura de comando e controle e fazer com que os profissionais trabalhem integrados em busca do mesmo objetivo. Modificar a estrutura, quebrar silos, mudar a maneira como a comunicação acontece. Toda essa mudança traz questões, porque sai da zona de conforto.
A transformação digital propõe uma mudança gradual, segura e estruturada da empresa em uma jornada que tem como objetivo o aperfeiçoamento constante de processos, durante um longo período. Neste contexto, outro entrave é conseguir pensar em melhorias e soluções que realmente vão fazer diferença e entregar valor ao consumidor final. O cliente deve ser colocado no centro do negócio e o trabalho é voltado para atender às necessidades que o consumidor possui em sua experiência, de ponta a ponta.
Mesmos nos casos de sucesso haverá momentos de dor, principalmente quando silos são quebrados e estruturas e estratégias são questionadas.
Cinco etapas para implementar a transformação digital em grandes companhias:
1) Percepção da urgência
Muitas empresas não percebem que precisam se reinventar ou mudar o negócio para acompanhar as ofertas disponíveis no mercado e as necessidades do cliente, que mudam de tempos em tempos. Algumas deixaram até de existir porque não tiveram a percepção que precisam se transformar. A Blockbuster, por exemplo, foi extinta porque não enxergou a grande oportunidade que o mercado de streaming permitia. A empresa viu a Netflix nascer e ocupar os espaços que seu serviço não atendia.
A percepção de urgência dessa mudança é uma questão de saúde para o negócio. Existem muitas instituições conservadoras e que ainda não são pressionadas, mas em um setor de alta competitividade, elas precisam estar dispostas a passar pelo desconforto para não serem engolidas pelo mercado.
2) Aprendizado rápido
A maioria das empresas está acostumada a ter um processo longo para implementar novos projetos. E assim, o desenvolvimento das soluções demora e os consumidores não recebem o que precisam.
É preciso estar pronto para ter uma estrutura que faça testes de hipóteses, construa experimentos rápidos e aprenda com eles. O sucesso no mundo atual é baseado em resiliência, aprendizado e evolução.
O aprendizado é muito relevante dentro do processo de transformação digital. Testar hipóteses e implementar MVPs (Produto Mínimo Viável) para ter feedbacks rápidos do cliente ou consumidor ajudam a agilizar esse processo.
A velocidade é super importante. A velocidade pela velocidade produz lixo na velocidade da luz, mas a velocidade associada ao aprendizado, com análise de dados e números, mostra o que o experimento permitiu.
3) Deixar a estrutura de comando e controle
A estrutura de comando e controle é o padrão da maioria das empresas. Nela, o chefe é a figura principal e quem tem mais experiência diz o que fazer, enquanto os demais apenas executam, sem conversa ou discussão sobre o assunto. No entanto, essa conduta atrapalha o desenvolvimento rápido de ideias e projetos.
Hoje, não existe garantia de que a sua ideia seja a melhor ideia. Ela está sujeita a questionamentos e a falhas. O líder tem que se transformar do comando e controle para um líder que é inspirador. Por isso, o papel da liderança é fundamental para quebrar esse paradigma de comando e controle e, assim, promover o engajamento dos colaboradores no novo modelo de trabalho.
Com a transformação digital essa prática deve mudar. Todos devem trabalhar em prol do mesmo objetivo e as ideias e projetos devem ser discutidos. Todos são convidados para colaborar e trocar informações. Além disso, os departamentos devem repensar as métricas segmentadas para alcançar esse objetivo principal.
4) Criar a cultura da experimentação
Na cultura de mercado atual, a experimentação é praticamente inexistente. Existem poucas empresas que apostam em hipóteses e ideias para testar seus projetos. O mais tradicional é seguir com um planejamento anual e complexo, que muitas vezes não traz os resultados esperados.
Na transformação digital, a experimentação é um dos pontos principais. Os MVPs permitem que hipóteses sejam testadas em prazos mais curtos e as mudanças podem ser implementadas enquanto o produto recebe melhorias e atualizações.
A experimentação permite mudanças e renovações mais rápidas e assim que um problema é identificado, a equipe já pode tentar solucioná-lo já que não é preciso esperar outras etapas acontecerem para atuar.
Quando a empresa tem como foco resolver o problema, todos estão no mesmo barco e atuam em busca do mesmo resultado.
5) Expor erros
Na cultura corporativa tradicional, os erros são abomináveis e nunca devem aparecer ou fazer parte do dia a dia do trabalho. Muitas empresas encontram dificuldades para atuar com a possibilidade de errar.
Com a transformação digital, essa rotina muda: os erros devem ser expostos, discutidos e analisados. Os problemas sempre vão existir, mas quem não os conhece não consegue se preparar para imprevistos ou situações incômodas.
Cesar Gon é CEO e fundador da CI&T
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