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Mercado precisa assumir riscos e investir em IIoT agora

Segundo o presidente da ABII e CEO da Pollux, José Rizzo, caso o País não invista agora ficará ainda mais atrasado em relação aos países desenvolvidos
Mercado precisa assumir riscos e investir em IIoT agora

Quando falamos de IIoT (Internet Industrial das Coisas, na sigla em inglês), o Brasil se encontra certamente atrás das nações mais avançadas, como Estados Unidos e Alemanha, mas na opinião de José Rizzo, o País tem todos os atributos para liderar o movimento na América Latina. Rizzo é presidente da ABII (Associação Brasileira de Internet Industrial) e CEO da Pollux, e conversou com Infor Channel sobre como está esse mercado no País.

A execução irá trazer outros tipos de desafios, como problemas de interoperabilidade, segurança de dados e falta de profissionais qualificados

Para o executivo, o maior desafio neste momento é convencer as lideranças a assumirem algum tipo de risco e iniciarem hoje seus projetos de Internet Industrial, mesmo em um contexto econômico menos favorável. “Isso porque, se isso não acontecer, pode ser um risco ainda maior”, pontua. “As empresas precisam primeiramente perceber o potencial impacto que a Internet Industrial terá na maior parte dos negócios”.

Passado o momento em que seja retomada a cultura de investimento em inovação, a execução irá trazer outros tipos de desafios, como problemas de interoperabilidade, segurança de dados e falta de profissionais qualificados. No Brasil, Rizzo afirma que os segmentos de manufatura, agronegócio, saúde e cidades inteligentes são os que devem puxar a adoção de IIoT. Leia a entrevista completa abaixo.

Fizeram uma pesquisa na qual identificaram que poucas empresas têm conhecimento da internet industrial. Como avalia que deve ser feita essa massificação?

A ABII, outras entidades e órgãos do próprio governo têm trabalhado forte para levar a mensagem ao maior número possível de lideranças empresariais. Muito foi feito no ano passado, mas pretendemos acelerar a divulgação em 2018. Daí para a efetiva adoção, temos um processo que entendo ter três etapas: compreensão, priorização e execução. As empresas precisam primeiramente perceber o potencial impacto que a Internet Industrial terá na maior parte dos negócios. Isso é possível através do comparecimento a eventos sobre o tema ou da participação efetiva em associações como a ABII ou IIC. Em determinado momento, esta percepção da realidade deverá ser convertida em uma prioridade para o negócio, entrando na pauta estratégica com a formação efetiva de uma equipe dedicada ao assunto, mesmo que pequena. Finalmente, com um grupo interno dedicado ao tema, a empresa precisa avaliar as ameaças e oportunidades para seu negócio e iniciar a jornada de transformação, que passará pela execução de projetos pilotos para validação de tecnologias e conceitos. Neste processo, surgirão os desafios reais, tais como a interoperabilidade entre sistemas, a segurança dos dados, o entendimento do possível retorno de investimento e muitos outros.

Na sua opinião, quais os principais desafios para a implementação de projetos de IIoT no Brasil?

Tradicionalmente, a permanente instabilidade do País tem se configurado como grande inibidora de investimentos de toda ordem, inclusive os de tecnologia. Mesmo imaginando um cenário mais positivo em um futuro próximo, não temos tempo e precisamos agir agora. Por essa razão, penso que o maior desafio neste momento seja convencer as lideranças a assumirem algum tipo de risco e iniciarem hoje seus projetos de Internet Industrial, mesmo em um contexto econômico menos favorável. Isso porque, não o fazer, pode ser um risco ainda maior. A partir daí, a execução irá trazer desafios encontrados em outros países do mundo, tais como problemas de interoperabilidade, segurança de dados e falta de profissionais qualificados. Todos transponíveis através de trabalho sério e perseverança.

Quais as perspectivas de avanço?

Gosto de manter meu otimismo neste aspecto. Talvez por estar imerso neste meio, tenho uma visão privilegiada das inúmeras iniciativas em andamento nas diversas esferas dos setores privado e público, que acabam escapando da maior parte da população. Acredito muito no potencial do País e das nossas pessoas a partir de pacote mínimo de reformas que coloquem novamente a economia em marcha. Dito isso, creio que o Brasil disponha de recursos humanos e domínio tecnológico para avançar rapidamente neste campo, especialmente se optar por se manter aberto a parcerias internacionais e cooperação com nações mais desenvolvidas.

Como o Brasil está na adoção da tecnologia na América Latina e no mundo?

Certamente atrás das nações mais avançadas, como Estados Unidos e Alemanha, mas com todos os atributos para liderar o movimento na América Latina. Note que este atraso em relação aos países mais avançados pode ser reduzido se conseguirmos unir esforços e priorizar o tema no país. Trata-se de um movimento muito novo em todo o mundo e podemos ainda queimar etapas que consumiram tempo e recursos em outras regiões e ir direto ao que está funcionando.

Que verticais de mercados devem liderar a adoção da IIoT?

O Brasil está priorizando os segmentos de manufatura, agronegócio, saúde e cidades inteligentes. Não tenho dúvidas de que, entre estes, a manufatura irá avançar mais rapidamente, assim como já ocorre em outros países. Acredito também no enorme potencial da IIoT para o agronegócio, em especial na otimização dos insumos na produção e na logística. As outras duas áreas também podem esperar ganhos importantes e potenciais disrupções, mas devem seguir em um ritmo um pouco mais lento.

 

O potencial da IIoT só será atingido com apoio de governos e empresários. Você concorda? Por quê?

Concordo, pela enorme abrangência do projeto e suas consequências não só para as empresas, mas para o País como um todo. Felizmente os dois setores já estão se movimentando e vejo uma genuína intenção nas duas partes de trabalhar em maior proximidade e colaboração, com o governo em uma função mais facilitadora e de articulação e o setor privado com um viés maior de execução.

Como a nova era da informação industrial pode impactar o mercado corporativo?

Podemos esperar um impacto enorme em um horizonte de 10 anos, com inúmeras formas atuais de fazer negócio desaparecendo e um número ainda maior de novas maneiras de atuar no mercado surgindo. Estudos nos Estados Unidos indicam o desaparecimento de 40% dos negócios atuais neste mesmo período. Não acho que será diferente no Brasil. Não dá para ficar parado.

A ABII tem como objetivo fomentar a Internet Industrial no país. Que projetos possui em andamento?

Uma das principais iniciativas na ABII é a condução dos chamados testbeds, que são experimentos controlados nos quais soluções de Internet Industrial são desenvolvidas e testadas em um ambiente que simula condições do mundo real e exploram o uso de tecnologias novas e existentes funcionando conjuntamente em um cenário inédito. Testbeds bem-sucedidos funcionam como grande estímulo para a disseminação da solução em toda uma indústria.

Temos testbeds nos setores de manufatura, cidades inteligentes, saúde e agronegócio. Uma outra iniciativa é a nossa cooperação formal com o Industrial Internet Consortium (IIC) que disponibiliza aos nossos membros acesso centenas de empresas e entidades de dezenas de países.

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