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IA provocará remodelação das estruturas corporativas

Para professor da FGV, André Miceli, automação das máquinas e inteligência artificial mudarão o futuro do trabalho
IA provocará remodelação das estruturas corporativas

O impacto da Inteligência Artificial (IA) no ambiente de trabalho e nos negócios pode parecer algo para o futuro, mas já é realidade em muitas empresas. Segundo o coordenador acadêmico do MBA em Marketing Digital e do Post-MBA em Digital Business da FGV, André Miceli, diversos estudos recentes avaliaram que a automação das máquinas e inteligência artificial mudarão o futuro do trabalho.

“Algumas estimativas preveem que essas tecnologias poderiam deslocar até 30% dos trabalhadores em todo o mundo em menos de duas décadas”, explica. Em entrevista à Infor Channel, Miceli comenta que atividades criativas, empáticas ou que dependem de características essencialmente humanas estarão a salvo. Pelo menos por mais tempo.

Como a Inteligência Artificial e a robotização dos processos impactarão o mercado de trabalho? Como devem reorganizar o setor?

A tecnologia sempre existiu para ampliar alguma capacidade humana. Inicialmente replicou e potencializou a capacidade muscular, através de ferramentas que nos davam mais força, mais velocidade e até mesmo a capacidade de voar. Na sequência, replicou e melhorou nossa capacidade cerebral através de cálculos. Agora, irá replicar e ampliar nossa capacidade cognitiva. Em países como o Japão, que possui uma população cada vez mais envelhecida, robôs e sistemas de IA podem ser fundamentais para ajudar em tarefas básicas, mas de dependem de uma mobilidade física cada vez mais difícil de ser encontrada.

Diversos estudos recentes avaliaram que a automação das máquinas e inteligência artificial mudarão o futuro do trabalho. Algumas estimativas preveem que essas tecnologias poderiam deslocar até 30% dos trabalhadores em todo o mundo em menos de duas décadas. O risco de deslocamento aumentará grandemente para os trabalhadores com menos educação que naturalmente exercem função mais repetitivas. Evidentemente empregos irão surgir em função dos recursos de inteligência artificial mas é bastante provável que o número de postos fechados seja bem maior do que o de abertos. Atividades criativas, empáticas ou que dependem de características essencialmente humanas estarão a salvo. Pelo menos por mais tempo.

Em artigo avalia que “o processo de transformação acelerada da automação também vai mudar a estrutura organizacional das empresas e desconstruir a relação milenar que temos com o trabalho”. Como se dará na prática?

As estruturas corporativas já estão sendo remodeladas. A inserção de estruturas matriciais, que acontece há mais de uma década, é uma demonstração disso. Os times estruturados para lidar com organizações projetizadas são estruturas nas quais um profissional pode ser líder de um projeto, recurso de outro e tudo segue normalmente. As tecnologias também cumprirão um papel importante nesse processo de transformação pois ajudarão a romper quase todas das poucas barreiras hierárquicas que restaram.

Na sua opinião, o resultado da decisão da Comissão Federal das Comunicações dos Estados Unidos (FCC, na sigla em inglês) de deixar de classificar a internet em banda larga como serviço de utilidade pública é positivo? Por quê?

Não gosto dessa decisão. Ela tira da internet a característica quase anárquica de igualdade nas condições de competição. Os provedores de acesso se beneficiarão cobrando tanto do distribuidor de conteúdo quanto dos cidadãos com pacotes que tendem a beneficiar somente a eles, provedores. O Marco Civil da Internet, a priori, protege os brasileiros mas cria uma jurisprudência que certamente vai ser usada para lobby pelos provedores locais que, há algum tempo, reivindicam ao governo uma medida como essa. No fim das contas, trata-se de um desequilíbrio sistêmico.

Que tecnologias devem ser destaques em 2018?

O potencial das principais tecnologias, segundo Miceli:

Chatbots

Os chatbots – programas de computador com inteligência artificial que conversam com as pessoas – começaram a ser implementados nos Serviços de Atendimento ao Cliente. Eles foram, até o momento, uma automação simples sem grande utilização de inteligência artificial. Acredito que a redução do custo de desenvolvimento de algoritmos para chatbots vai popularizar a ferramenta, ampliando sua adoção por e-commerces até de pequenos comércios, como padarias e pizzarias.

Blockchain

É uma base de registros e dados distribuídos e compartilhados de forma descentralizada, sem intermediários, cuja função é registrar as transações que ocorrem em um mercado – como se fosse um livro-caixa. É a tecnologia por trás do Bitcoin, mas vejo que vamos presenciar a separação dos dois conceitos, com o blockchain sendo cada vez mais visto como uma nova técnica para o desenvolvimento de soluções em diversos negócios.

Moedas digitais

A alta exponencial do Bitcoin em 2017 abriu uma oportunidade para a ascensão de outras criptomoedas, especialmente aquelas que têm um fim específico, como a intermediação da compra e venda de produtos e serviços em uma plataforma. Lembro do lançamento da moeda digital da Kodak – a KodakCoin -, destinada aos fotógrafos que vão gerenciar o direito de imagem de seus portfólios na plataforma KodakOne. E não é só isso: as criptmoedas de nicho também possibilitam ao detentor negociá-las com o objetivo de obter um ganho com eventuais valorizações.

Por isso, haverá ao longo de 2018 outras Initial Coin Offerings (ICOs), operação semelhante à oferta de ações na bolsa de valores (IPO, da sigla em inglês), mas, neste caso, referindo-se ao lançamento de moedas digitais no mercado. As ICOs serão de concorrentes do bitcoin até criptomoedas que visam facilitar as negociações em mercados como games ou agricultura, por exemplo.

Realidades virtual e aumentada

Diferentemente dos games, em que as variáveis dinâmicas envolvidas acabam encarecendo o desenvolvimento, deveremos ver a técnica acontecendo em situações relativamente simples. Alguns segmentos com características semelhantes ao do mercado imobiliário também podem se beneficiar dessas tecnologias, pois o preço dos equipamentos está caindo. Além disso, a popularização também vai elevar a produção de conteúdo nesta tecnologia.

E-commerce

Este ano deve marcar o amadurecimento do e-commerce brasileiro. A estratégia do Magazine Luiza de integrar as operações física e online para concorrer com a Amazon vai levar outros players a seguirem a mesma estratégia da companhia de Luiza Trajano. Além disso, as pequenas e médias empresas vão deixar de implementar seus sites de comércio eletrônico apenas com o objetivo de divulgar seus produtos em uma interface simples e com poucas opções de pagamento: haverá uma maior sofisticação por meio da produção de conteúdo, especialmente com a criação de newsletter para aumentar as vendas.

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