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Desenvolvimento de cidades inteligentes esbarra em burocracia

Segundo advogada e conselheira do Instituto Smart City Business America, Evy Marques, atual infraestrutura das cidades brasileiras é um grande obstáculo para o planejamento e a implementação de certas tecnologias
Desenvolvimento de cidades inteligentes esbarra em burocracia

Embora o Brasil tenha a expectativa de se tornar um exportador de tecnologia para Internet das Coisas (IoT) no setor de agronegócios, conforme afirmação de Carlos Costa, do BNDES, no lançamento do Plano Nacional de Internet das Coisas, o mesmo não acontece com as Cidades Inteligentes. Segundo Evy Marques, advogada e conselheira do Instituto Smart City Business America, além da ineficiência da gestão pública, os altos impostos, a burocracia e as incertezas jurídicas para se criar e administrar negócios no Brasil são sérios entraves para projetos de Smart Cities. “A atual infraestrutura das cidades brasileiras é um grande obstáculo para o planejamento e a implementação de certas tecnologias”, diz.

As palavras chave para guiar o Brasil no caminho do desenvolvimento das cidades inteligentes são alianças público-privadas, empreendedorismo e tecnologia. O Brasil deve desenvolver e estimular a inovação

Em entrevista à Infor Channel, Evy diz que o setor se desenvolve em um ritmo considerável e já é possível verificar a atuação de consultorias especializadas na criação de projetos para cidades inteligentes em algumas cidades brasileiras. Porém, destaca que a transparência da gestão pública é um dos grandes atrativos das cidades inteligentes, especialmente considerando que a população está cansada da política atual. A expectativa é que esse mercado e as soluções propostas cresçam e sejam mais conhecidas nos próximos 3 anos. Leia abaixo a entrevista completa.

Quais os principais desafios e barreiras que projetos de Smart Cities devem encontrar no Brasil?

O objetivo dos projetos de Smart Cities é favorecer o desenvolvimento sustentável das cidades com ideias inovadoras, competitivas e mais atrativas para a população, gestores e investidores. Todo esse contexto naturalmente desperta grandes desafios e se depara com as barreiras socioeconômicas do Brasil. Entre os desafios enfrentados pelos projetos, tem-se a ineficiência da gestão pública, os altos impostos, a burocracia e as incertezas jurídicas para se criar e administrar negócios no Brasil, inclusive com o setor público. Além disso, a atual infraestrutura das cidades brasileiras é um grande obstáculo para o planejamento e a implementação de certas tecnologias, bem como a desigualdade social que influencia diretamente no crescimento heterogêneo das cidades brasileiras. Ainda, é possível observar, que a tecnologia está concentrada nos centros mais urbanizados do país, o que faz com que o conceito de cidades inteligentes fique muito distante da realidade da maioria dos brasileiros.

Como avalia a maturidade do setor na região?

O setor de tecnologia e inovação vem se desenvolvendo de maneira significativa na região. Cada vez mais surgem pessoas interessadas em entender como as cidades inteligentes serão criadas e como podem ajudar a acelerar esse crescimento. Já é possível verificar a atuação de consultorias especializadas na criação de projetos para cidades inteligentes em algumas cidades brasileiras. Além disso no setor público, existem significativas movimentações a favor da criação de Smart Cities, como, por exemplo, nas Prefeituras de São Paulo, Santo André, Curitiba, Florianópolis, entre outras. Não há uma definição do que é uma cidade inteligente. O modelo ideal engloba o funcionamento inteligente e eficiente de ao menos seis âmbitos principais: meio ambiente; mobilidade; segurança, sanidade e saúde; educação; economia e governo. Essas verticais estão também previstas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da UNESCO.

Que projeções faz para os próximos 3 anos nesse mercado?

Se levarmos em consideração que a urbanização crescerá ainda em um ritmo mais acelerado que o atual – e provavelmente ainda de forma desordenada, assim como que os recursos por nós utilizados estão ficando cada dia mais escassos, as Smart Cities serão cada vez mais citadas como modelo de gestão e desenvolvimento planejado das cidades. A intenção é fazer com que os municípios consigam oferecer e administrar seus recursos de forma eficiente e transparente. A transparência da gestão pública é um dos grandes atrativos das cidades inteligentes, especialmente considerando que a população está cansada da política atual. A expectativa é que esse mercado e as soluções propostas cresçam e sejam mais conhecidas nos próximos 3 anos.

Que eixos/premissas aconselha para que o Brasil caminhe certeiro no desenvolvimento de cidades inteligentes?

As palavras chave para guiar o Brasil no caminho do desenvolvimento das cidades inteligentes são alianças público-privadas, empreendedorismo e tecnologia. O Brasil deve desenvolver e estimular a inovação. O poder público deve adotar as mais diversas formas de aliança público privadas, inclusive por meio da regulamentação da Lei de Inovação (Lei No. 10.973/2004) e da Lei de Micro e Pequena Empresas (Lei Complementar n. 123/2006). Ainda, o poder público deve planejar o uso dessas soluções e utilizar modelos de negócios que priorizem serviços prestados por empresas de tecnologias e empreendedores com ideias inovadoras e disruptivas para problemas do cotidiano urbano. Isso também inclui, por exemplo, as startups e os negócios de impacto. A título de exemplo, o Governo do Estado de São Paulo realizou um concurso com startups com soluções para as cidades em que 16 empresas foram realizadas para apresentar propostas e implementar um piloto de suas soluções com o Estado de São Paulo. Além do mais, é preciso foco na qualidade dos serviços, aumento de produtividade e eficiência nos processos internos da administração para desburocratizar o sistema. Os procedimentos para utilização dos recursos (tempo, dinheiro e capital humano) do poder público devem ser revistos para que sejam utilizados de forma eficiente.

No Plano Nacional de IoT o governo tem entre as metas ser exportador de tecnologia, principalmente em agro. Acredita que isso se estende para cidades inteligentes?

Dentro da atuação do Plano Nacional de IoT, a vertical “cidades” é considerada umas das quatro linhas importantes – juntamente com o agronegócio – para a implantação de políticas de desenvolvimento tecnológico. Esse plano tem como objetivo colocar o Brasil como um desenvolvedor de inovação perante o mercado internacional. Será através do IoT que os municípios se comunicarão com os outros agentes do ecossistema e também com os objetos responsáveis pela prestação de seus serviços básicos como: transporte, energia, saneamento básico, segurança etc. No fim, o controle de toda a cidade inteligente será feito por meio dessa tecnologia e, por isso, é necessário criar uma relação colaborativa entre cidadãos, terceiro setor, governos para promoção de uma cidade inteligente e sustentável.

Como o canal de distribuição de TI pode contribuir para este mercado?

O mercado de TI está intimamente integrado com o desenvolvimento das cidades inteligentes. As empresas especializadas em prestar esses serviços ajudam na criação e na praticidade das soluções inteligentes para os diversos setores da economia. Elas são responsáveis por desenvolver novas tecnologias, aplicativos, sites; enfim, ferramentas que facilitam o uso da inovação, seja pelo setor público, privado ou pela própria população. Ademais, as cidades inteligentes trazem um desafio muito grande relacionado a cibersegurança, pois todo o município estará conectado por um sistema online que armazenará informações dos usuários em tempo real. Importante, neste caso, a integração com os serviços de TI, para que sejam criados reforços de segurança, como criptografia, senhas, autenticação por identidade, além de um rígido monitoramento das aplicações, bem como da realização de testes de penetração contra quaisquer ataques cibernéticos que possam ocorrer.

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