O self-service BI é apontado já há alguns anos pelos analistas de mercado como uma tendência e tem cada vez mais conquistado adeptos. Costumo dizer, que assim como tudo, o self-service tem os dois lados: o bom e o ruim. Certamente, é uma modalidade que veio para ajudar e até mesmo democratizar o emprego de analytics dentro das organizações. Sua adoção cresce e é evidente que o BI conquistou muitos mais adeptos por sua causa. Porém, com qual objetivo essas pessoas estão usando a tecnologia? Qual o nível de maturidade dessas aplicações e quais os benefícios que elas têm trazido para os negócios?
Muitas empresas continuam cometendo o mesmo erro do passado, que é utilizar ferramentas de Data Discovery não integradas ao ambiente corporativo e, desta forma, criar silos de informações. Este uso desordenado e sem embasamento estratégico, acabou distorcendo a concepção original do self-service. O que era para ser uma solução flexível habilitada a identificar pontos fora da curva e propiciar uma atuação rápida e certeira transformou-se em um verdadeiro repositório de relatórios, que muitas vezes são similares entre si.
Somente uma estreita parcela de seus usuários, algo entre 5% e 10%, tem realmente tirado proveito desta autonomia para fazer descobertas que impactam nos negócios, ajudam a preencher gaps e corrigem rapidamente rotas que possam estar erradas. A maior parte não usa as facilidades do self-service BI para vender mais, entender melhor o seu negócio ou conhecer os seus clientes, principais premissas de um projeto de business intelligence. Os esforços são voltados, em grande parte, para comprovar que um número pode não ser tão ruim quanto parece.
E como isso é recorrente e cada um que tem o poder do self-service em suas mãos age com esse mesmo pensamento individualista e imediatista, o ônus pode ser muito maior que o bônus. E é aí que surge um segundo questionamento; será que o self-service mais confunde do que esclarece ou mais atrapalha do que ajuda? Em parte sim, pois além de um elevado número de relatórios que dizem a mesma coisa de maneira diferente, essas informações perdem-se de departamento para departamento e até mesmo dentro de uma mesma área. Simples de se observar: se a pessoa que construiu determinado relatório sob sua perspectiva, deixar de fazer parte do time, esses dados personalizados deixam de fazer sentido para quem virá em seguida e, sobretudo, para a organização.
Esse tipo de cultura analítica pode ser desastrosa do ponto de vista de custos. A cada nova necessidade, cria-se um novo sistema, ao invés de aproveitar o que já existia e tudo o que já foi feito vai literalmente para o lixo. Desperdício de tempo, pois nem sempre a informação que se busca é encontrada, e principalmente de dinheiro, afinal o crescimento demasiado de relatórios demanda novos investimentos, inclusive de infraestrutura para armazenar esse volume estrondoso de informação subutilizada.
Embora na visão de analistas de mercado os dados devam ser momentâneos, considero que a concepção do BI e os benefícios ultrapassam a barreira do exploratório e do tático, que é a esfera na qual o self-service, a tecnologia da moda, atua. Para que um projeto avance para o nível estratégico e agregue valor, é crucial saber o que já aconteceu, o que está em curso e o que pode advir no futuro. O fato de todos dentro de uma empresa usarem BI, não significa que ela seja madura no emprego desta tecnologia e que tenha alcançado ROI com seus projetos. A maturidade acontece quando uma organização cresce com o analytics, utilizando suas soluções avançadas para análises preditivas e tirando proveito das informações estratégicas e de recursos como a mobilidade para tomar decisões inteligentes.
Portanto, muito mais do que seguir modismos, um projeto ideal é aquele que vai além do aqui e agora e olhe para o futuro; que dê autonomia ao usuário, mas que conecte essas pontas em âmbito corporativo; que seja retroalimentado e que permita que as informações estratégicas sejam acessadas de qualquer lugar, inclusive através de dispositivos móveis. Objetivos dificilmente alcançados sem a governança.
*Cynthia Bianco é presidente da MicroStrategy no Brasil
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