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5G: o divisor de águas além das telecomunicações

Por possibilitar velocidades de internet banda larga altíssima, baixa latência e alta confiabilidade, a 5G promete revolucionar o mercado e mudar radicalmente alguns modelos de negócios
5G: o divisor de águas além das telecomunicações

A quinta geração da telefonia celular (5G) será um divisor de águas e não apenas no universo das telecomunicações. Por possibilitar velocidades de internet banda larga altíssimas, baixa latência e alta confiabilidade; a 5G deverá impulsionar uma rápida e massiva adoção de soluções de internet das coisas e proporcionará transformações profundas em diversas indústrias, além de possibilitar o surgimento de modelos de negócios que hoje seriam inviáveis.

Diferentemente da evolução de 3G para 4G, espera-se que o 5G garanta uma infraestrutura robusta o suficiente para suportar aplicações de missões críticas, respaldando, por exemplo, o funcionamento de carros autônomos e da telemedicina

O mercado dá como certo que a chegada das redes 5G ocorrerá em 2020. O marco casa com a realização dos Jogos Olímpicos em Tóquio, no Japão. Para isto ocorrer, contudo, a tecnologia das redes 5G ainda precisa ser padronizada pelo 3GPP — 3rd Generation Partnership Project. Até lá, o próprio 3GPP vem soltando releases com evoluções do Long-Term Evolution (LTE), fazendo com que as redes 4G alcancem velocidades maiores.

Da parte da indústria fornecedora, as iniciativas são muitas. Praticamente todas têm acordos de cooperação com diversas operadoras para testar tecnologias. Em anúncio coletivo, um grupo formado por empresas como AT&T, Vodafone, Ericsson, Qualcomm Technologies, British Telecom, Intel e outras, se uniu para acelerar a viabilidade de 5G. O acordo coletivo visa a antecipar a disponibilidade e a padronização da solução de rádio 5G NR de forma a possibilitar testes e implantações já em 2019. O grupo também se comprometeu em manter o padrão intermediário compatível com o que vier a ser definido pelo 3GPP para evitar a fragmentação.

“Todo mundo na indústria, de forma coordenada, está tentando acelerar a padronização para que o processo aconteça mais rápido. A ideia é trabalhar de forma que nada se perca e que seja compatível”, explica Roberto Medeiros, diretor-sênior de desenvolvimento de produtos da Qualcomm. Na mesma linha, Eduardo Ricotta, vice-presidente da Ericsson no Brasil, acredita que as operadoras vão seguir buscando incrementar a velocidade de suas redes e estão fazendo isto por meio da utilização de múltiplas frequências, além de antecipar algumas funcionalidades da 5G para melhorar a experiência do usuário final.

A Vivo, por exemplo, realizou no ano passado testes na 4,5G com funcionalidades de agregação de portadoras no Rio de Janeiro e Rio Verde (Goiás). “Os resultados foram positivos e devemos seguir para novas localidades em 2017. Somos a primeira operadora no Brasil a usar os ativos reais de espectros na cidade de São Paulo para aprimorar a experiência dos clientes com a introdução rápida para carrier aggregation com três portadoras LTE, em combinação com as tecnologias 4×4 MIMO e 256QAM para aguentar velocidades de dados superiores a 530 Mbps. O dispositivo modem de teste agregou 35 MHz, utilizando bandas nas faixas de 2600 MHz, 1800 MHz e 700 MHz”, detalha Juan Claros, vice-presidente de engenharia e serviços ao cliente da Vivo.

A Ericsson espera que em 2026 haja uma oportunidade de mercado de US$ 582 bilhões em todo o mundo, à medida que as operadoras de telecomunicações aproveitem a tecnologia 5G para a digitalização do setor. Para as operadoras, isto representa potencial para adicionar crescimento de 34% nas receitas em 2026.

 

Projeto 5G Brasil

No Brasil, representantes da indústria e das prestadoras de serviços de telecomunicações, do governo federal, Anatel, academia e centros de desenvolvimento tecnológico se juntaram para lançar o Projeto 5G Brasil. O objetivo é fomentar a construção do ecossistema de quinta geração de telefonia móvel e estruturar a participação do País nas discussões internacionais.

Sergio Kern, diretor da Telebrasil

O diretor da Telebrasil Sérgio Kern explica que cinco comissões temáticas foram criadas para debater os temas mais importantes, tais como pesquisa e casos de uso; infraestrutura; padronização; ações regulatórias verticais e ações com o mercado; e espectro de frequências. A duração do projeto é indeterminada e o cronograma de atividades ainda está ainda sendo definido.

“A tecnologia 5G servirá como suporte para a internet das coisas. Esta nova fase da internet permitirá a conexão de um número significativo de sensores e objetos entre si em uma escala global muito superior à atual e trará diversos benefícios para a sociedade”, aponta Kern, ao explicar a importância do projeto para o Brasil. “A tecnologia 5G também permitirá o acesso em velocidades até cem vezes maiores às alcançadas em 4G. A inserção do Brasil nessa tecnologia é vital para o crescimento econômico do País”, completa.

Para o diretor da Telebrasil, com o Projeto 5G Brasil, o País tem oportunidade de influenciar na definição da padronização. “Estima-se que a atribuição de frequências e o padrão tecnológico para 5G estejam disponíveis em 2019”, assinala.

A identificação das faixas de frequência mais apropriadas para 5G está sendo conduzida em fóruns internacionais como a Comissão Interamericana de Telecomunicações (Citel) e União Internacional de Telecomunicações (UIT). No Brasil, a necessidade de haver leilão de espectro não está descartada.

É cedo?

Juan Claros, da Vivo

Na discussão sobre evolução para 5G, a questão que fica é se existe capacidade por parte das telcos para investir em mais uma troca tecnológica. Eduardo Ricotta, da Ericsson, afirma que na mudança para 5G as telcos não perdem os investimentos que fizeram em 4G. “Inclusive os rádios já saem com software preparado para trabalhar em conjunto com 5G e, mesmo com implantação grande de 5G, vai ser preciso 4G, porque frequência de 5G é muito alta”, detalha.

Para Roberto Medeiros, da Qualcomm, a evolução é pertinente, porque vários elementos de redes LTE serão usados em 5G. “O caminho mais rápido para se chegar às redes 5G é acelerando 4G.” A coexistência das diferentes tecnologias também deve vigorar. Wilson Cardoso, diretor de vendas para América Latina da Nokia, diz que a empresa trabalha para fomentar a agregação de mais portadoras, combinar o espectro licenciado e não-licenciado (por exemplo, 5,8 GHz) e usar tecnologias de massive MIMO para aumentar a quantidade de antenas.

Do lado das telcos, Juan Claros, da Vivo, diz que 5G irá demandar maiores investimentos que deverão ser feitos com critérios claros de planejamento versus demandas versus serviços. “Aprimorar a conectividade e melhorar a estabilidade da rede têm sido e continuarão sendo o foco da Vivo. Por isso, no triênio 2017-2019, a Vivo estima que investirá R$ 24 bilhões (excluindo eventuais investimentos em licenças), principalmente para a expansão da cobertura 4G e a ampliação da rede de fibra.”

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